(Foto: Divulgação) |
A ‘Operação Carne Fraca’, deflagrada nesta sexta-feira (17) pela Polícia Federal (PF), apura um imenso esquema de venda de autorizações ilegais para comercialização de carnes impróprias para consumo. Entre as irregularidades, a investigação aponta a liberação da venda de carnes vencidas e produtos com adição de elementos químicos cancerígenos e ainda casos como a adição de papelão em lotes de frango.
Na ação, considerada a maior da história pela própria PF, mais de mil agentes cumprem cerca de 300 mandados judiciais, sendo 27 de prisão preventiva e 11 de prisão temporária, entre eles, alguns executivos dos maiores frigoríficos do Brasil, como as gigantes do setor alimentício JBS e BRF.
Entre as marcas pertencentes a BRF estão as líderes em venda Sadia e Perdigão, enquanto a JBS controla Friboi, Seara e Swift, entre outras. A investigação, feita em conjunto com o Ministério Público Federal e a Receita Federal, aponta participação de fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em estados como Paraná, Minas Gerais e Goiás, para facilitar a produção e comercialização desses alimentos adulterados, mediante pagamento de propina de empresas.
Produto cancerígeno e água na na carne
O delegado Moscardi Grillo, responsável pela investigação, afirmou em entrevista coletiva que as algumas das empresas investigadas usavam ácido e outros elementos químicos muito acima do permitido por lei para maquiar o aspecto físico de alimento vencidos e estragados. “Alguns são cancerígenos e usados para poder maquiar a característica física”, afirmou Grillo.
Ele disse que estas irregularidades foram encontradas principalmente em frigoríficos menores da Região Sul, mas não só; Ele disse ainda que algumas empresas injetavam água para aumentar o peso da carne.
O delegado afirmou ainda que também foi encontrada carne processada, em que na verdade não havia proteína animal e sim, soja. “Inclusive há uma destas empresas que forneciam merenda escolar no Paraná que não havia carne dentro, era proteína de soja”, disse afirmando se tratar do Frigorífico Souza Ramos.
A Polícia Federal citou ainda casos de Salmonella – bactéria que causa infecção em humanos e pode ser transmitida por alimentos. Neste casos, fiscais do governo federal recebiam propina para liberar a comercialização do produto contaminado. “Encontramos também pagamento de propina para fabricação de proteína em fábricas contaminadas com Salmonella”, afirmou. Ele disse ainda que contêineres com alimento contaminado, com destino à exportação para Europa, também foram encontrados.
Propina abastecia PP e PMDB
O delegado federal, Maurício Moscardi Grillo afirmou que parte do dinheiro arrecadado pelo esquema de corrupção envolvendo fiscais e maiores frigoríficos do País, descoberto pela Operação Carne Fraca, abastecia o PMDB e o PP.
“Dentro da investigação ficava bem claro que uma parte do dinheiro da propina era, sim, revertido para partido político. Caracteristicamente, já foi falado ao longo da investigação dois partidos que ficavam claros: o PP e o PMDB”, afirmou.
“Os agentes públicos, utilizando-se do poder fiscalizatório do cargo, mediante pagamento de propina, atuavam para facilitar a produção de alimentos adulterados, emitindo certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva”, diz PF.
JBS nega prisão e ação na sede
A JBS divulgou nota sobre o assunto: “Em relação a operação realizada pela Polícia Federal na manhã de hoje, a JBS esclarece que não há nenhuma medida judicial contra os seus executivos. A empresa informa ainda que sua sede não foi alvo dessa operação”, diz o texto.
“A ação deflagrada hoje em diversas empresas localizadas em várias regiões do país, ocorreu também em três unidades produtivas da Companhia, sendo duas delas no Paraná e uma em Goiás. A JBS e suas subsidiárias atuam em absoluto cumprimento de todas as normas regulatórias em relação à produção e a comercialização de alimentos no país e no exterior e apoia as ações que visam punir o descumprimento de tais normas”.
“A JBS no Brasil e no mundo adota rigorosos padrões de qualidade, com sistemas, processos e controles que garantem a segurança alimentar e a qualidade de seus produtos (…) e se mantém à disposição das autoridades com o melhor interesse em contribuir com o esclarecimento dos fatos.
Sindicado apoia operação da PF
O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical) informou por meio de nota que apoia a operação Carne Fraca, reforçando que a denúncia partiu dela própria e que consta de processo administrativo que tramita no Ministério da Agricultura desde 2010. “O Anffa Sindical entende que a operação está alinhada aos objetivos de auditores fiscais federais agropecuários no sentido de aprimorar a inspeção de produtos de origem animal no Brasil”, diz o texto.
O presidente do Anffa Sindical, Maurício Porto, ressaltou no site da entidade que a categoria se orienta “pela ética e legalidade”. “Não concordamos com desvio de conduta, sobretudo quando se trata de assuntos de segurança alimentar da população”