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(Foto: Ralph Braz) |
Apesar da lista com 90 pessoas que aguardam por um transplante de rim na região, Campos não realiza mais o procedimento, segundo informações da Associação dos Crônicos Renais e Transplantados do Norte do Estado. O Hospital Escola Álvaro Alvim não está realizando o transplante e o Hospital Dr. Beda não está mais credenciado para essa realização. Atualmente, na região Norte e Noroeste do estado, apenas o Hospital São Jose do Avaí faz transplantes e o Hospital Álvaro Alvim deve voltar a realizar transplante até o final do ano.
Segundo o Diretor Superintendente do Hospital Álvaro Alvim, Jair Araujo Junior, a unidade é a única credenciada no município para a realização de transplante renal, até 2014. A unidade, que já realizou cerca de 50 transplantes, interrompeu o procedimento desde dezembro de 2011. Por meio de nota da assessoria, o coordenador do NF Transplantes, Luiz Eduardo Castro, explicou que o hospital conta com uma equipe, mas estaria passando por um processo de reorganização com a substituição de alguns profissionais. Ele informou que ainda este ano a unidade voltará a realizar o transplante.
O presidente da Associação, Renildo Santiago, disse que todos os pacientes aguardam há quase três anos essa preparação. Aqueles que esperam pelo transplante na região foram remanejados pelo Programa Estadual de Transplantes (PET) para hospitais no Rio de Janeiro. “O paciente pode escolher entre cinco unidades hospitalares na capital, mas o problema é que algumas pessoas são carentes. Estamos entrando em contato com a Secretaria de Saúde para melhorar as condições para o paciente”, explicou Renildo.
Para ele, ainda não há muita conscientização sobre a importância da doação de órgãos. Além disso, quando há doador existem problemas logísticos. “Como o caso que aconteceu em Itaperuna”, lembrou Renildo Santiago, ressaltando que essas questões podem impactar no número de doadores.
Dificuldades
Em junho deste ano, o Hospital Dr. Beda anunciou que a unidade não renovou o credenciamento junto ao Programa Estadual de Transplantes (PET). Através de nota publicada em reportagem na Folha daquele período, o Hospital informou que a tabela do SUS não atendia aos investimentos dos hospitais e a baixa remuneração para a realização dos transplantes era um problema nacional.
Apenas entre janeiro e maio deste ano, foram realizados 552 transplantes em to-do o Estado do Rio de janeiro, de acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES). Desse total, seis foram de coração, 56 de fígado, 169 de rim, 82 de medula, 130 de córnea e 109 de osso.
O processo de doação de órgãos é complexo e passa por diversas etapas, começando pela comunicação da morte encefálica pelo hospital onde o paciente se encontra. Segundo a SES, essa comunicação é obrigatória por lei. Após a realização de todos os testes para comprovar a morte cerebral, a equipe do próprio hospital ou do PET aborda os familiares sobre a possibilidade da doação dos órgãos.
É apenas depois de todos esses procedimentos que, ca-so a família autorize a doação, os dados são lançados no Sistema Nacional de Transplante (SNT), para avaliação dos potenciais receptores res-peitando o ranking da lista de espera. Através de nota, a SES esclareceu que “é importante lembrar que o ranking vai determinar a ordem dos potenciais receptores daquele órgão e independe de localização geográfica. Por isso, um órgão captado em determinado município pode ser transplantado em um paciente de outra cidade”.
Segundo informações da SES, a captação de órgãos é feita no hospital onde está o doador, por uma equipe credenciada para tanto pelo SNT, do Ministério da Saúde. Para isso, a equipe se des-loca para a unidade onde o doador está internado. O prazo ideal para captação de órgãos para doação, de acordo com a secretaria, é de 24 horas. Até o dia 20 de julho deste ano, foram feitas 123 captações de órgãos em todo o estado do Rio de Janeiro.
Mas as dificuldades existem para a família de muitos doadores, principalmente, no interior. No último dia 16, a família de Iuri Garcia Cortes Marinho Cruz, de 21 anos, conseguiu realizar a doação dos órgãos do jovem após mais de 30 horas de espera. Iuri morreu após capotar de carro na RJ 116, que liga Laje do Muriaé a Comendador Venâncio, distrito de Itaperuna, no Noroeste Fluminense, na madrugada de sábado (13).
De acordo com informações de familiares, a morte cerebral foi confirmada na segunda-feira (15), e a família autorizou a doação de todos os órgãos do jovem Iuri. Apesar disso, a equipe do PET só chegou ao município na noite de terça-feira (16). Em reportagem publicada na Folha, a tia da vítima, Iara Ferreira, de 65 anos, informou que devido à demora, apenas os rins do jovem estavam em condições para doação. A assessoria da SES, na época, não informou o motivo da demora, alegando apenas que “segue o sigilo determinado pela legislação em relação a receptores e doadores de órgãos”. Também não informou quais órgãos foram transplantados.
Fonte: Folha da Manhã