segunda-feira, 21 de outubro de 2013

AGRICULTORES ACUSAM FUNCIONÁRIOS DA LLX DE ATENTADO

(Foto: Ralph Braz)

Duas famílias do V Distrito de São João da Barra, no norte fluminense, acusam funcionários da empresa LLX Logística, do empresário Eike Batista, de praticaram atentados contra elas. Segundo registros policiais, os supostos crimes aconteceram nas propriedades de Adeilço Viana Toledo e Noêmia Magalhães, na noite da última quinta-feira (17), após divergências entre agentes da LLX, inclusive com o chefe de segurança da empresa, Leandro Tavares, e os moradores. As vítimas residente em uma área cujas propriedades estão sendo desapropriadas pela Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (Codin) para as obras do Portuário do Açu, pela LLX.

Noêmia Magalhães lidera o movimento de resistência à desocupação das terras do V Distrito pelo governo de Sérgio Cabral e Adeilço Toledo perdeu o seu pai há dois meses, vítima de um enfarto e seu enterro aconteceu no dia em que o seu imóvel foi desapropriado pela Codin e seu gado confiscado. As denúncias foram feitas na sexta-feira passada (18), na 145a. DP (São João da Barra), pelos pequenos agricultores. Adeilço é filho de José Irineu Toledo, que morreu durante o processo de desocupação das suas terras, que pertenciam a sua família há mais de 40 anos. Na ocasião o rebanho bovino, que era o principal sustento da família, foi levado pelas equipes da Codin para uma fazenda de propriedade da LLX. Na terça-feira passada (15), os filhos de José Irineu receberam de volta as 32 cabeças de gado, garantidas por determinação judicial favorável e o rebanho retornou para a fazenda Camará, de propriedade dos Toledos. 

Porém, na quinta-feira (17), segundo Adeilço, indivíduos que usavam crachás da LLX, um deles identificado como Leandro Tavares, chefe da Segurança, foram na propriedade Camará para pegar novamente o rebanho e a família impediu a retirada. Segundo eles, nem o governo do Rio e nem a empresa de Eike Batista cumpriu o pagamento de indenização pela desapropriação da terra até o momento. Adeilço contou que os homens, que portavam armas de fogo, fizeram ameaças de morte e só deixaram o local após perceberem a presença de uma equipe de reportagem. "Eles entraram nos dois carros e saíram 'cantando pneu' da fazenda. Chegaram a arrancar a cancela que ficava na entrada do sítio", contou uma testemunha que não quis se identificar. Segundo a família, os gados voltaram muito debilitados, magros e não podem produzir como antes. Placa do carro ocupado por supostos funcionários da LLX, fotografado por uma testemunha.



A agricultura Noêmia Magalhães contou na delegacia que o seu sítio Birica também foi alvo dos atiradores, que passaram em um carro atirando na direção da propriedade, na noite de quinta-feira (17). Noêmia denunciou que desde o início das desapropriações a sua família vem recebendo ameaças e intimidações de funcionários da Codin e da LLX, mas esta é a primeira vez que acontece um atentado com arma de fogo. Além de procurar a polícia civil, Noêmia promete procurar o Ministério Público Estadual para fazer a denunciar do atentado. Segundo ela, um movimento "estranho" de carros em frente à sua casa já vem acontecendo há alguns meses. "Os ocupantes descem e ficam encarando a gente e, às vezes, chegam a fotografar a casa", contou Noêmia. 


O mesmo acontece com outros pequenos agricultores, segundo Noêmia, que acredita que as ações são para intimidar os proprietários que ainda resistem ao processo de desocupação da Codin. Após o suposto atentado, Noêmia procurou a Rede de Advogados Populares para relatar os seus conflitos agrários no Porto do Açu e pedir o apoio dos profissionais. "Agora estou com mais vontade ainda de lutar pelos meus direitos e não são os tiros deles que vai me intimidar", afirmou ela.

O advogado Antônio Maurício Costa, que representa Noêmia neste caso, encaminhou um ofício ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, relatando os dois atentados aos agricultores da região do porto e pedindo maior rigor nas investigações. "Essa relação reflete o tratamento que os cidadãos vem recebendo no V Distrito de São João da Barra, onde os interesses econômicos e jurídicos do Grupo EBX são dominantes, através da LLX Logística. (...)Tudo seria normal se Dona Noêmia não tivesse ligado para 190 e está esperando até hoje. Essas omissões são de extrema gravidade, considerando que quando da efetividade de imissões de posse, o policiamento é de fazer inveja a qualquer evento de grande vulto nas grandes metrópolis", destaca o ofício de Costa. 



A 145a. DP (Sâo João da Barra) foi procurada pela equipe do Jornal do Brasil, mas disse que somente um inspetor pode dar informações sobre o caso, que está com acesso "fechado" nos computadores da delegacia. O inspetor indicado se chama Marcelo Hespanhol e só estará de plantão nesta terça-feira (22).



Fonte: Jornal do Brasil