segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Praça São Salvador em Campos: do verde ao concreto


É a fisionomia mais feia que a praça apresentou em toda a sua história.” A observação é do professor e ambientalista Aristides Soffiati ao avaliar a reforma da Praça São Salvador, iniciada no governo do prefeito Arnaldo Vianna (2004) e concluída em 8 de maio de 2005 na curta administração de Carlos Alberto Campista – foi cassado pela Justiça Eleitoral cinco dias após (13). Orçada em R$ 46 milhões, a reestruturação do cartão postal da cidade provocou polêmica como mostra o noticiário da época.


Separadas pela via de acesso à avenida Alberto Torres, as praças São Salvador e Quatro Jornadas continuaram separadas, como queriam os comerciantes, mesmo diante da proposta examinada pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo para mantê-las juntas, como eram originalmente. Aristides observa que ao longo dos anos ficou comprovada a inadequação da reforma: “quando chove, é escorregadia: sob o sol, o concreto absorve a quentura e queima quem se atrever em sentar nos bancos sem encosto. Contrariando a proposta de lazer, local para conversar, transformou-se num lugar de passagem.”



Controvérsia – O prefeito Arnaldo Vianna encomendou ao escritório do arquiteto Sérgio Dias, do Rio de Janeiro, projetos de reestruturação da cidade, mas somente o da Praça São Salvador foi executado. Ao decidir retirar as árvores, substituindo-as por palmeiras imperiais sob a alegação que elas dificultavam a visão dos prédios históricos ao redor, parte expressiva da população protestou. Durante a execução da obra, as manifestações ocuparam as redes sociais e a mídia tradicional – jornais, rádios e televisões. 


Totalmente descaracterizada, da praça existente só restaram o monumento ao soldado desconhecido e o chafariz. O arquiteto e urbanista Ronaldo Linhares lamenta que os governantes de Campos não se preocupem em humanizar os espaços públicos, optando quase sempre por privatizar áreas públicas em benefício de parte da população, como são os casos do galpão anexo ao Mercado Municipal para abrigar a feira livre e a construção do Camelódromo para colocação dos camelôs que estavam ao longo da rua Santos Dumont. No caso específico da Praça São Salvador, o equívoco é constatável ao visualizá-la.


— Aos invés das sombras das árvores, dos bancos confortáveis, dos bustos históricos, temos hoje um espaço árido. Com isso, nossos governantes esquecem que os grandes protagonistas da cidade são as pessoas. Se você cuida dos espaços, a população retribui e, com isso, aumenta-se o nível de gentileza. A cidade é um sonho coletivo que não deveria ser frustrado por ambições individualistas. Enfim, é preciso pensar um modelo de cidade para o futuro, o que definitivamente não acontece em nossa Campos dos Goytacazes – salientou.


Marcada, inicialmente, para ser inaugurada no Natal de 2004, final do governo Arnaldo Vianna, teve que ser transferida em decorrência das chuvas de dezembro, sendo entregue à população no dia 08 de maio de 2005. Logo depois, a nova Praça São Salvador foi apelidada de Frigideira de Aposentado, Ilha do Calor e Forno de Microondas.



Fonte: Folha da Manhã