(Foto: Luiz Morier | Agência O Globo) |
A mãe do prefeito Marcelo Crivella voltou a dar entrada em uma unidade da rede municipal de saúde. Eris Bezerra Crivella — que no último dia 17 foi submetida a uma cirurgia no punho, no Hospital Salgado Filho, no Méier — foi ontem à emergência do Hospital Miguel Couto, na Gávea, devido a fortes dores na área operada. Segundo testemunhas, ela recebeu atendimento diferenciado e foi prontamente encaminhada para radiografia.
Uma funcionária, que pediu para não ser identificada, apesar de não ter visto a mãe do prefeito chegar à unidade, soube por outros profissionais que ela foi atendida antes de outros pacientes que já estavam no local:
— Soube que ela chegou no início da tarde e foi direto para a sala de radiografia, passando a frente de todo mundo que aguardava desde cedo. Muita gente nem entendeu o que estava acontecendo, porque ela não foi reconhecida.
PACIENTE QUER DIREITOS IGUAIS
De acordo com um outro funcionário do Miguel Couto, a mãe de Crivella deve ter chegado à unidade pelo estacionamento do ambulatório, e não pela entrada principal. Por isso poucas pessoas teriam percebido a presença dela no hospital, segundo ele:
— Quando chega uma pessoa assim, parente de alguém importante, a galera sempre cria um burburinho.
O ambulante Marcos Ávila, que costuma buscar atendimento no Miguel Couto, diz que a unidade tem deixado a desejar. Passando mal, sem saber o que tinha, no início da noite de ontem ele aguardava na emergência há mais de uma hora, sem ser chamado. Para ele, um hospital público não deveria dar privilégios a qualquer cidadão:
— Se é público, se é da prefeitura, todos têm o mesmo direito e a mesma importância no atendimento. Já pensou se todos resolvessem furar a fila de espera? Ia ser um caos total.
De acordo com a assessoria de Marcelo Crivella, a mãe do prefeito fez uma radiografia no Miguel Couto e posteriormente foi liberada, sem que tenha “tido qualquer tratamento diferenciado”.
A direção do Miguel Couto informou, por meio de nota, que Eris chegou com queixa de dor no punho recém-operado, sendo aberto então um boletim de atendimento médico de emergência, que a encaminhou para exames de raios X. Ainda de acordo com a nota, existem dois fluxos na unidade para a realização do exame: o da emergência, no qual os pacientes têm prioridade; e a do ambulatório, para doentes que não têm urgência para o procedimento. Por fim, o hospital justifica o atendimento dizendo que, naquele momento, “não tinha qualquer outro paciente da emergência aguardando para realizar o exame”.
Ontem, a auxiliar de serviços gerais Mônica Alves contou que, desde o inicio do ano, tenta marcar exames para fazer uma cirurgia no útero. Ela espera que, um dia, toda a população receba o mesmo atendimento que a mãe de Crivella teve nas duas vezes em que esteve na rede pública municipal:
— Seria um sonho. Imagine você chegar e rapidamente ser atendido e fazer o seu exame ou cirurgia?
CIRURGIA DE EMERGÊNCIA
Na semana passada, o Ministério Público estadual anunciou que investigaria se houve irregularidade no atendimento à mãe de Crivella no Hospital Salgado Filho. Pacientes alegaram que ela teve tratamento privilegiado. A Secretaria municipal de Saúde, por sua vez, disse que a idosa não furou a fila para ser operada, porque também se tratava de um caso de emergência.
A mãe do prefeito foi operada na rede pública enquanto Crivella voltava para o Brasil, após viagem pela Europa, durante o carnaval. Inicialmente atendida em uma unidade particular, devido a uma fratura no punho, ela deu entrada na unidade pública queixando-se de dor. Ela apresentava um edema que poderia gerar complicações vasculares. No dia seguinte, o edema regrediu, e os médicos entenderam que se tratava de um caso de emergência. No mesmo dia, três pacientes que precisavam de cirurgia de urgência também foram operados.
— Se minha mãe é bem tratada, significa que os hospitais da rede pública estão bons — disse o prefeito, dias após a cirurgia.
Fonte: O Globo