(Fotos: Ralph Braz) |
Na paisagem de São João da Barra, o tráfego rotineiro de animais de carga e carroças, reflexos da vocação rural da cidade, se encontra com o fluxo intenso de caminhões, guindastes e veículos de carga pesada. O contraste é a marca da cidade nos últimos seis anos, quando o tradicional balneário de veraneio se viu "atropelado pela pressão" dos investimentos no Porto do Açu.
No Cajueiro, nos galpões de estábulos, surgiram hospedarias e quitinetes para abrigar os trabalhadores. Pastos se transformaram em loteamentos - sem escrituras e em áreas proibidas pelo zoneamento. No Grussaí, bares, lanchonetes e academias de musculação proliferaram. Na área rural, o valor do alqueire (27 km) saltou de R$ 14,5 mil, em 2005, para R$ 100 mil.
"A estrutura da cidade é a mesma", conta o empresário Romero Gomes. Sua loja de material de construção já foi roubada em R$ 40 mil, numa madrugada de maio. Cardíaco, ele reclama da falta de um hospital. "Somos escravos de Campos. Se infarto, tenho de ir para lá", diz. "O progresso que vi foi a chegada dos bancos."
Desde 2009, a prefeitura dispõe de um estudo sobre os impactos do projeto - apresentado pela LLX. Um plano diretor foi encomendado a Jaime Lerner, urbanista do Paraná, que desenhou uma cidade com transporte aquaviário, pontes e modelos de escola e hospitais. O financiamento viria do aumento da arrecadação, hoje 70% dependente de royalties do petróleo.
O projeto, entretanto, está parado na Câmara. "Com certeza no segundo semestre", estima o vereador e presidente da Casa, Aluizio Siqueira, para quem o porto é a "redenção" da cidade. A previsão era que a população aumentasse seis vezes - 250 mil em 2025. A demanda projetada era de mil salas de aula, 670 leitos e mais de 84 mil novas casas. "Sabíamos do impacto, mas achamos que é positivo. Estamos pensando no futuro", diz o prefeito Neco (PMDB). Até hoje, apenas 104 unidades habitacionais, três escolas e cinco unidades de saúde saíram do papel.
"Não dá para dizer que de um minuto para o outro teremos todas as melhorias sociais", avalia Júlio Bueno, secretário estadual de Desenvolvimento, para quem o processo de estabilização do distrito leva "duas décadas". "O importante é que âncora produtiva tenha qualidade para gerar um desenvolvimento inimaginável."
Fonte: Estadão