domingo, 24 de agosto de 2014

GAROTINHO DIZ NÃO SABER DE DISTRIBUIÇÃO DO KIT ENXOVAL

(Foto: Guito Moreto| O Globo)
O ex-governador Anthony Garotinho afirmou, na sexta-feira, que a distribuição do kit enxoval estaria sendo feita à sua revelia. E que desconhece que esteja ocorrendo:

— A determinação dada por mim é que, em período eleitoral, essa obra, que existe há 20 anos para fazer o bem a pessoas grávidas, seja suspensa.

A prefeitura de Campos informou que “entendemos que este é um questionamento político e, como tal, não nos pronunciamos”, a respeito do suposto envolvimento de uma servidora no encaminhamento de grávidas ao centro cultural.

Garotinho confirmou que esteve com Dumenil Eliodoro Modesto, marido de Tamara Lyz, no dia do lançamento de sua pré-candidatura pelo PR, na favela Nova Holanda, no Complexo da Maré. O ex-governador afirmou que os enxovais são “custeados pela Palavra de Paz, que ajuda asilos, clínicas para recuperação de dependentes químicos e trabalhos missionários, o braço social da empresa”.


RELEMBRE O CASO

Moradora de Caxias de Tócos, área agrícola e de extrema pobreza em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, Kíssila Henriques, de 29 anos, vive com o marido, ajudante de pedreiro, e seis filhos numa casa onde pássaros entram pelo vão entre o telhado e as paredes descascadas. O casal tem renda de cerca de R$ 800, juntando o que ele ganha com R$ 300 do Bolsa Família e R$ 200 do Cheque Cidadão, distribuído pela prefeitura de Campos. Mas o enxoval de Pedro Mateus, filho do casal, que nasceu prematuro em julho, foi um “presente” do Centro Cultural Anthony Garotinho, em Campos. O nome de Kíssila e a data da entrega do kit, 23 de julho, constam na listagem apreendida por fiscais do Tribunal Regional Eleitoral, há 10 dias, no centro criado para homenagear a história do candidato do PR e ex-governador.

Tanto o material apreendido no centro cultural quanto um dos depoimentos dados ao  O GLOBO citam ainda a participação de ao menos uma servidora pública municipal na distribuição em Campos. Samara Soares Rodrigues foi nomeada no dia 4 de dezembro do ano passado pela prefeita de Campos, Rosinha Garotinho, como coordenadora do Centro de Referência e Assistência Social (Cras) da prefeitura, ligada à Secretaria de Família e Assistência Social da cidade — a mesma que distribui o Cheque Cidadão a 20 mil beneficiados. O valor passou de R$ 100 para R$ 200 em dezembro do ano passado. No centro cultural de Garotinho, foram encontradas guias de encaminhamento com a assinatura e o carimbo de Samara, o que a fiscalização entendeu como indício de ilícito eleitoral.

Grávida de cinco meses, Natália Frutuoso, de 25 anos, uma das que aparecem na listagem encontrada pela fiscalização do TRE, conta que soube da entrega dos enxovais quando foi atendida por Samara, no Cras da Esplanada, em Campos, para pedir apoio da assistência social no início da gestação. Ela ainda não recebeu o kit:
— Eu não sabia que tinha esse programa do enxoval. Foi a Samara quem falou comigo no Cras para procurar o centro cultural. Fui lá há um mês. Pediram para eu aguardar, pois eles dão o kit quando estiver perto de ele nascer.

Heleno de Souza Gomes, ex-marido de Danielle das Neves Coelho — que está grávida de oito meses do quinto filho —, confirmou que pegou o kit para ela no centro cultural. Danielle se separou há pouco tempo de Heleno. Segundo ele, ela ainda recebe o Bolsa Família, de origem federal, e o Cheque Cidadão.

Jaqueline Santos, de 29 anos, aos nove meses de gestação, afirma não ter sequer um chinelo para calçar, e está contando com o enxoval, que inclui fraldas, edredom, roupa de bebê e uma bolsa. Soube do cadastro por meio do Centro Social Urbano, da prefeitura de Campos, que disse para procurar “o centro cultural do Garotinho”.

— Eu não tenho nada. Moro de favor. Espero que ele (Garotinho) me dê essa ajuda. Meu voto será e sempre foi dele, porque ele ajuda as pessoas — diz ela.

O “Obra do Berço” também organiza “reuniões de orientação” em comunidades da cidade do Rio, como mostra a página da Palavra de Paz, que “fisicamente” funciona em um escritório na Glória, Zona Sul da cidade. De acordo com o site, a coordenadora do projeto é Tamara Lyz. A explicação sobre o funcionamento do programa não foi dada pela empresa. Cristiane Almeida, que se apresentou como “coordenadora executiva” de Garotinho, disse que, em uma reunião antes da convenção, o programa seria suspenso.— Sobre Campos, não sei o que dizer. Aqui no Rio, vou procurar a Tamara (Lyz) para ela explicar — diz Cristiane, que não retornou as ligações para dar mais explicações.

Tamara, mulher de Dumenil Eliodoro Modesto Filho, candidato a deputado estadual pelo PR, recusou-se a falar com O GLOBO. Procurada, disse que “não falaria por telefone”. Indagada sobre o horário para uma entrevista, afirmou que “verificaria na agenda”. Disse que não confirmaria se a distribuição dos kits permanece e se trabalha para a Palavra de Paz. No dia 17 de março, Garotinho postou em seu blog notícia sobre sua participação no lançamento da pré-candidatura de Dumenil a deputado, na favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio.




Fonte: O Globo