Há 20 anos morria Antonio Carlos Bernardes Gomes, aos 53 anos, em São Paulo, duas semanas depois de um transplante de coração. Já o Mussum, batizado por Grande Otelo em referência ao peixe escorregadio — “Eu não tenho cabelo no braço, ele ficava me alisando”, contou certa vez —, foi congelado no tempo da internet, nos vídeos antigos disponíveis no YouTube e em memes multiplicados pelas redes sociais, com caretas de olhos arregalados, emprestando traços a outros personagens e parafraseando tudo que possa terminar em “is”.
— Todo mundo conhece um cara que é meio Mussum — diz o jornalista Juliano Barreto, que lança, em meados deste mês, a biografia “Mussum forévis — Samba, mé e Trapalhões”, pela editora Leya.
Escrachado na televisão, Mussum era só gentileza nos bastidores. Endureceu-se no colégio interno e na Aeronáutica, mas ganhou molejo nos botequins e na Mangueira. Teve cinco filhos, um de cada mulher, e deles cobrava o dever de casa e pedia a bênção. Tocava tamborim e reco-reco, mas também amava boleros e Johnny Mathis. Cozinhava rabada e filé au poivre. Torcia para o Flamengo no Rio e para o Corinthians em São Paulo. Lá ou cá, como diz o cineasta Roberto Farias, Mussum sempre saltava da tela.
LANÇAMENTO DE BIOGRAFIA
Em cerca de 500 páginas, Juliano percorre a infância no Morro da Cachoeirinha, em Lins de Vasconcelos; o internato na Fundação Abrigo Cristo Redentor, onde fez curso profissionalizante de mecânico; a paixão pela Mangueira; a carreira de músico nos grupos Os Sete Modernos do Samba e Os Originais do Samba; e sua faceta mais famosa, a de humorista de “Os Trapalhões”, com Renato Aragão (o Didi Mocó), Dedé Santana e Zacarias.
O quarteto ficou conhecido pela geração internet por meio de programas gravados em fitas VHS e lançados no YouTube. Foi assim que o filho mais novo de Mussum criou uma memória do pai. Fruto de uma relação extraconjugal, mas assumido pelo artista, Antônio Carlos Gomes Júnior, conhecido como Mussunzinho, tinha menos de 1 ano quando o pai morreu.
— O Facebook e o Instagram têm sempre charges com o meu pai. Ele é presente o tempo todo, parece que está vivo — exalta ele, que é ator da TV Globo e está prestes a entrar em “Malhação”. — Com a internet tudo é muito rápido, então você precisa ter um tempo de piada muito bom, e ele tinha. Funcionou há 30 anos e funciona hoje.
Com a internet, cenas de “Os Trapalhões” que só tinham sido exibidas uma ou duas vezes, com as reprises dos anos 1990, foram reproduzidas aos milhares — e até aos milhões. Em grande parte delas, a estrela é Mussum.
Fonte: O Globo