Três dias depois de ter indicado um aliado político para comandar o Porto do Rio, o ex-prefeito de Belford Roxo, Wagner Carneiro, o Waguinho, sofreu mais um revés na Justiça. O Ministério Público se posicionou a favor do bloqueio de bens dele e de seu sobrinho, Matheus do Waguinho, após denúncias de uso indevido de recursos públicos em pleno ano eleitoral. Os dois são acusados de autorizar a distribuição de quase R$ 15 milhões a terceiros, por meio de transferências via PIX, sem qualquer respaldo legal.
Segundo o MP, o objetivo do bloqueio é assegurar a devolução do montante aos cofres da cidade. Parte do valor — R$ 14,9 milhões — teria saído do Previde, o instituto de previdência dos servidores municipais, enquanto R$ 402,5 mil foram repassados pela Funbel, fundação de desenvolvimento social da cidade. As transferências ocorreram em 2024, ano da eleição municipal, e beneficiaram cerca de 600 pessoas sem vínculo com o funcionalismo público.

Repasses suspeitos em período eleitoral
As investigações começaram com a nova gestão municipal, liderada por Márcio Canella (União), rival político de Waguinho. Ao assumir o cargo, Canella criou um gabinete de crise para apurar possíveis irregularidades da administração anterior. Uma das descobertas mais graves foi a movimentação atípica de fundos públicos às vésperas da eleição.
Em outubro de 2024, a Funbel realizou 28 transações via PIX, somando mais de R$ 400 mil. A maioria dos beneficiados seria composta por candidatos a vereador em Belford Roxo e cidades vizinhas, todos com ligação política com os réus. Nenhuma das transferências foi acompanhada de documentos oficiais, como notas de empenho ou justificativas administrativas.
Ministério Público vê risco de dano ao erário
Diante da gravidade das acusações, o Ministério Público argumenta que há risco concreto de prejuízo ao processo e à recuperação dos recursos públicos. Por isso, manifestou-se favoravelmente ao pedido de tutela de urgência apresentado pela prefeitura, solicitando o bloqueio imediato dos bens dos acusados.

Apadrinhado político sem experiência
O comando do Porto do Rio de Janeiro, um dos principais ativos logísticos do país, foi entregue a um nome sem qualquer experiência no setor portuário. Segundo revelou o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, no último dia 22, Flávio Vieira foi escolhido pelo conselho de administração da Companhia Docas para substituir Francisco Martins na presidência da estatal.
A decisão causou estranheza entre técnicos e observadores do setor, principalmente porque Vieira nunca atuou na área. Seu histórico mais recente é como secretário da Casa Civil e secretário de Saúde de Belford Roxo, município da Baixada Fluminense. A justificativa para a escolha, no entanto, parece estar na política — mais precisamente no apadrinhamento do ex-prefeito Waguinho, forte aliado do presidente Lula.
Indicação com motivação política
Inicialmente, o plano seria nomear o próprio Waguinho, que, no entanto, foi barrado pela Lei das Estatais. A alternativa foi indicar Vieira, seu homem de confiança. Com a mudança, o ministro Silvio Costa Filho, que havia indicado Francisco Martins em 2023, perde espaço dentro do próprio ministério de Portos e Aeroportos.
Francisco Martins, por sua vez, não foi totalmente afastado: foi deslocado para a diretoria de Negócios da estatal. Já Vieira assume a presidência sem um currículo técnico que o relacione diretamente com gestão portuária, comércio exterior ou logística.