(Foto: Ralph Braz | Pense Diferente) |
O casal Garotinho recebeu R$ 9,5 milhões em propina da Odebrecht, de acordo com a delação do diretor da construtora, Leandro Andrade Azevedo, detalhada na edição desta semana da revista Veja. Os valores teriam sido usados para reforçar o grupo em três eleições. Ainda de acordo com o executivo, Garotinho reclamava pessoalmente quando havia atraso. Leandro esteve em Campos em outubro de 2010, ao lado da prefeita Rosinha (PR), quando assinou o maior contrato da história do município – R$ 1 bilhão na construção do programa habitacional “Morar Feliz”. Em seu blog, o ex-governador disse que está sendo alvo de uma “vingança”. A delação de executivos da Odebrecht à Procuradoria Geral da República (PGR) mostra pagamento de propina aos principais políticos do país.
De acordo com a coluna “Radar”, na revista Veja, o diretor da Odebrecht diz que a prefeita elaborou duas licitações para a construção de casas populares, com especificações que só permitiram à Odebrecht vencer o certame. Em troca, a construtora desembolsou um total de R$ 9,5 milhões em contribuições oficiais e repasses de caixa 2 a campanhas de Garotinho e Rosinha, entre 2008 e 2014. O delator diz que, em 2009 e em 2012, Rosinha lançou etapas do programa “Morar Feliz”.
“Diante deste cenário, os fatos me levam a crer que os referidos editais, relativos aos Programas “Morar Feliz I e II” foram lançados levando em consideração que a única empresa grande que teria condições e interesse de fazer a obra era a Odebrecht, o que seria a contrapartida aos pagamentos realizados a pretexto de doações de campanha feitos em 2008″. Azevedo se refere à corrida eleitoral em que Rosinha tornou-se prefeita de Campos pela primeira vez, em 2008. Na ocasião, segundo ele, a Odebrecht repassou R$ 1,5 milhão em dinheiro vivo ao caixa 2 da campanha dela.
O delator contou, também, que, entre doações oficiais e de caixa 2, a Odebrecht bancou R$ 2,3 milhões para ajudar Rosinha a se manter no comando do executivo de Campos. Dois anos mais tarde, mesmo com a Lava Jato já nas ruas – segundo Azevedo, foram mais R$ 5,8 milhões à campanha de Garotinho, também levando em conta contribuições por dentro e por fora.
Garotinho era conhecido na Odebrecht pela alcunha de “Bolinha” – mesmo apelido com que a prefeita o chama. De acordo com a Veja, Azevedo revela mais: um Garotinho centralizador, capaz de cobrar pessoalmente os repasses prometidos pela empresa: “Posso dizer que este tipo de conversa, ou seja, cobrança por eventuais atrasos na entrega dos valores ou mesmo repactuação sobre os valores do pagamento eram comuns”.
Em contrapartida, o político mostrava-se disposto a agir para que a Odebrecht não saísse no prejuízo: “Presenciei algumas vezes Garotinho telefonando para os secretários da Fazenda do Município durante a gestão de Rosinha […] e pedindo que tivéssemos preferência na regularização dos pagamentos em atraso, o que de fato aconteceu”.
Amizade mostrada desde início do governo
Em 29 de maio de 2009, o Ponto Final, da Folha da Manhã, trouxe uma nota apontando que, segundo fontes, a CBPO, incorporada ao Grupo Odebrecht, seria a vencedora da concorrência pública nº 004/2009, que ocorreria na manhã daquele dia. A licitação era para construção de 5.100 casas populares. A nota ainda mostrava que o ex-secretário municipal de Obras e então coordenador da mesma secretaria, Antonio José Petrucci Terra, o Tom Zé, havia trabalhado na Odebrecht antes de ingressar no governo Rosinha.
Os envelopes, porém, não foram abertos naquele dia. Eles permaneceram lacrados por decisão da Procuradoria do município, após o Tribunal de Contas do Estado (TCE) ter pedido explicações sobre o assunto. No dia 23 de setembro do mesmo ano, foi divulgado no Diário Oficial do Município o resultado da concorrência pública, confirmando o que o Ponto Final havia adiantado meses antes: a CBPO foi a vencedora.
No dia 1 de outubro de 2010, o contrato com a Odebrecht foi firmado. O contrato tinha a assinatura de Benedicto Barbosa da Silva Júnior, executivo da Odebrecht preso na 23ª fase da operação Lava Jato, batizada de “Acarajé”. Foi na residência dele, no Rio de Janeiro, que a PF encontrou planilhas, com doações da Odebrecht a cerca de 200 políticos de 22 partidos, entre eles, o casal Garotinho (PR) e a deputada federal Clarissa Garotinho (PR). A cerimônia de assinatura teve a presença de Leandro Andrade Azevedo, o mesmo que agora delatou os R$ 9,5 milhões.
Defesa - Nesse domingo (10), em seu blog, Garotinho negou irregularidades e disse que a delação trata-se de “vingança” porque a prefeitura rompeu o contrato com a empreiteira: “Só posso encarar a declaração do doutor Leandro no âmbito do ressentimento. A Prefeitura rescindiu esse contrato unilateralmente após longo processo administrativo onde a empreiteira tenta receber mais de R$ 30 milhões. A prefeitura não paga por entender que não é devido”.
“Setor de propinas” ia de Temer a Pezão
O ex-vice-presidente de relações institucionais da Odebrecht, Claudio Melo Filho, entregou à Procuradoria-Geral da República anexo de 82 páginas nas quais ele diz que cerca de 40 políticos receberam R$ 68 milhões pagos pela Área de Operações Estruturadas, que logo ficou conhecido como “departamento de propinas”.
Entre eles estão o chefe da Casa Civil Eliseu Padilha, o empresário Paulo Skaf, o então deputado Eduardo Cunha, o senador Romero Jucá e o ex-ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima. Ainda segundo a delação, o presidente Michel Temer pediu “apoio financeiro” para as campanhas do PMDB em 2014 a Marcelo Odebrecht. Ele teria se comprometido com R$ 10 milhões.
O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) é citado na delação do diretor Leandro Azevedo. A empresa teria repassado R$ 23,6 milhões e 800 mil euros, por transferência bancária no exterior, à campanha de Pezão em 2014. O dinheiro foi entregue ao publicitário Renato Pereira.
Fonte: Folha da Manhã