(Foto: Ralph Braz | Pense Diferente) |
Mais um funcionário da área da saúde de Campos sofre retaliações por denunciar o descaso do poder público municipal. Desta vez, o auxiliar de enfermagem, Claudecir da Hora Ribeiro, foi transferido de setor após relatar um caso de maus tratos a uma idosa que está internada há mais de um ano no Hospital Ferreira Machado (HFM) devido a uma fratura no fêmur. Com a transferência, o funcionário concursado teve os seus vencimentos reduzidos a menos de duas semanas para o fim do atual governo. Claudecir, que já havia apresentado o fato ao Ministério Público Estadual (MPE) no início deste mês, nesta segunda-feira (19) procurou a Defensoria Pública para formalizar a denúncia e reaver seus direitos trabalhistas.
Segundo Claudecir, a idosa de 70 anos teria “implorado por ajuda” durante o atendimento na enfermaria e ele, como profissional de saúde, sentiu-se compelido a “tomar uma atitude”. A idosa, que teve a identidade preservada, teria sido internada no HFM em outubro de 2015 após ter sofrido uma queda que resultou em uma fratura no fêmur. Desde então, ela permanece no hospital aguardando a chegada de uma prótese ortopédica, mas a demora teria sido a causa de infecções hospitalares e de uma hemorragia digestiva na paciente. “Eu me sensibilizei com a história, porque ela só tem um filho que é dependente químico e por isso não presta assistência. Ela está sozinha, internada há mais de um ano e com complicações clínicas geradas após a internação. Eu não poderia fechar os olhos diante dessa situação. É o meu dever como profissional de saúde zelar pelos pacientes e eu percebi que não adiantava pedir uma solução à administração do hospital”, desabafou Claudecir.
No início deste mês, o auxiliar de enfermagem decidiu procurar a imprensa. Ele gravou imagens e áudios de dentro do hospital, encaminhou a duas emissoras de televisão e, logo após a exibição da reportagem sobre a idosa, Claudecir teria percebido certa “perseguição” por parte do médico responsável pela paciente e também da chefe do setor de traumatologia. A partir da atitude dos seus superiores, o funcionário apresentou uma denúncia por humilhação e constrangimento no MPE no dia 14 de dezembro, no entanto, os denunciados ainda não teriam recebido a notificação do órgão. Nesta segunda (19), quando chegou ao Hospital, foi informado da transferência de setor e da redução dos vencimentos. “Eu não acreditei quando recebi a notícia. Faltando poucos dias para o Natal e menos de duas semanas para esse governo terminar, eles me pregam essa peça. Cadê a democracia nesta cidade? Eu tenho três filhos para criar e agora me vejo com o salário reduzido”, lamentou.
Ainda de acordo com Claudecir, na última semana a idosa teria sido transferida para o Centro de Terapia Intensiva (CTI) para não ter contato com ele e outros auxiliares de enfermagem da traumatologia e até o momento a prótese ainda não teria sido adquirida pela Secretaria Municipal de Saúde. “Ela foi transferida para o CTI para morrer em silêncio, porque infelizmente não há nada a ser feito para ajuda-la neste momento. Eu trabalho há oito anos no Ferreira Machado e infelizmente esse não é o primeiro caso de maus tratos que eu presencio dentro da unidade. Isso deixa qualquer profissional ético indignado e comigo não foi diferente. Mas eu espero de coração que a justiça seja feita”, afirmou o auxiliar de enfermagem.
Sempre respeitando o princípio do contraditório, a equipe de reportagem do Jornal Terceira Via entrou em contato por e-mail com a Secretaria de Comunicação Social, responsável por emitir notas dos demais órgãos da Prefeitura de Campos, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria. Ainda assim, o jornal aguarda e publicará a versão da Secretaria de Saúde e do Hospital Ferreira Machado para este fato.
Fonte: Terceira Via