sábado, 7 de junho de 2014

GREVE CONTINUA: SERVIDORES VESTEM MUSEU IMPERIAL DE LUTO

(Foto: Marco Oddone/ Tribuna de Petrópolis)
"Nunca fomos tão desrespeitados", lamenta Neibe Machado, funcionária do Museu Imperial há 34 anos, em relação a decisão do Supremo Tribunal da Justiça (STJ) em considerar a greve dos profissionais da cultura inconstitucional. Em reunião realizada ontem entre os profissionais da categoria, nenhum tipo de acordo foi firmado. Na segunda, servidores de outros órgãos, também paralisados, vão se reunir com os funcionários do Palácio para decidir se as atividades serão normalizadas. Ontem, os jardins do local já ficaram abertos.

Em protesto, os funcionários estenderam em duas colunas do Museu Imperial, faixas pretas, como forma de luto em relação à decisão. O impasse entre os servidores e o Ministério Cultura continua. A decisão do STF estabelece que “as entidades promovidas (Ibran e Iphan) abstenham-se de realizar qualquer paralisação das atividades funcionais que afetem os institutos, ora requerentes, em todo o território nacional, devendo retomar imediatamente o desempenho dos seus deveres e obrigações funcionais”. A liminar é válida para todo o território nacional e determina o retorno imediato dos funcionários ao trabalho, sob pena de multa diária de R$ 100 mil. 

Por conta disso, Neibe já tomou sua decisão: na segunda-feira dará entrada na aposentaria. “E não é por causa do meu trabalho, porque eu amo o que faço, muito mesmo por causa da direção do Museu Imperial ou dos colegas de trabalho. O problema é que em todos estes anos nunca fomos tão desvalorizados. A cultura nunca foi tão renegada como agora”, declarou ela, que trabalha no arquivo histórico. 

Como ela, Marta Duboc tem planos de se aposentar em breve. A servidora trabalha há 30 anos na área da cultura e resume a situação atual como ultrajante. “Eu me sinto traída, desrespeitadas. São anos de promessas não cumpridas e, quando protestamos consideram a nossa greve inconstitucional. Para quê isso, mostrar aos outros países que aqui as coisas funcionam, por causa da Copa. Chegaram a ameaçar cortar o nosso ponto. Não vejo a hora de chegar novembro para que possa ir embora”, reclama a servidora. 

Neibe e Marta fazem parte dos 30% dos servidores que estarão aposentados até o fim deste ano. Com isto, o número de 39 profissionais concursados irá diminuir ainda mais, já que não há qualquer previsão de abertura de um novo concurso público para área. 

Em Petrópolis, o Museu Imperial recebe cerca de 330 mil visitantes por ano, mas conta com apenas 39 servidores efetivos para cuidar de um acervo de aproximadamente 200 mil documentos textuais, 55 mil itens bibliográficos, 16 mil documentos iconográficos, 2 mil documentos cartográficos e 7.800 objetos museológicos, além de 10 outros imóveis além do próprio Palácio Imperial. 

As queixas dos profissionais são em relação aos baixos salários, ausência de plano de carreira, evasão de concursados, alta rotatividade de empresas e funcionários terceirizados e a disparidade de salários dos funcionários que exercem uma mesma função. 

Atualmente, a greve mantém paralisada as atividades do setor em mais de dez estados. Treze dos 30 museus administrados pelo Instituto Brasileiro de Museus, não estão funcionando. Os servidores da Cultura em todo o país estão em greve desde o último dia 12. Apesar disso, os ministérios do Planejamento e da Cultura declararam que não vão autorizar aumentos salariais este ano, para evitar impacto fiscal e porque ainda está em vigor um acordo assinado pela Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Condsef), que garantiu reajuste de 15,4% em três anos – 2013, 2014 e 2015.



Fonte: Tribuna de Petrópolis