sábado, 17 de setembro de 2016

Devaneio II, Neco: “Tenho certeza que o jogo está virando em SJB”

(Foto: Ralph Braz | Pense Diferente)
O prefeito Neco (PMDB) busca o segundo mandato consecutivo em São João da Barra. Com a arrecadação do município em queda, decretou emergência econômico-financeira neste ano: “Não foi o governo Neco que criou a crise”, afirma. Sem negar dívidas, diz estar trabalhando para quitá-las, além de acreditar que terá aumento na arrecadação própria em breve, principalmente com impostos da operação do Porto do Açu. Em sua gestão teve início um estudo para conter o avanço do mar em Atafona. Ele tornou prioridade concluí-lo, caso reeleito. Já a disputa eleitoral é polarizada. Do outro lado está sua ex-aliada Carla Machado (PP). Foi ela quem apostou no nome de Neco para sucedê-la, mas a aliança logo acabou: “Ela quis fazer de mim o que a oposição falava. Sou Neco, mas boneco não”. Sobre os que deixaram seu grupo e pularam para o outro, acredita ter faltado honestidade. Ele se mostra confiante ao afirmar que “até o dia 2 de outubro o jogo está virado”.

Folha – Você assumiu a administração em 2013 com uma arrecadação crescente, veio a crise nacional e São João da Barra sofre ainda com a queda dos royalties. É diferente administrar um município dessa forma?

Neco – Diferente, e muito diferente. Quando assumi a Prefeitura, como você falou, tinha uma arrecadação alta, no final de 2014 que começou a cair a arrecadação. Mas, além de eu ter pego a Prefeitura num momento bom, eu peguei também com uma dívida de R$ 46 milhões na fonte royalties. Ficou empenhado R$ 68 milhões e R$ 16 milhões em caixa. A ex-prefeita fala que ela deixou R$ 16 milhões em caixa. É verdade, deixou. Mas deixou R$ 68 milhões em dívidas. Começamos a pagar o passado. Nem terminamos, já entrou a crise, a queda da receita.

Folha – Em maio você decretou emergência econômica. Na “carne”, na máquina, não ocorreram grandes mudanças. Caso reeleito, é necessário enxugar a máquina?
Neco – Já começamos a enxugar a máquina lá atrás. Cortei cinco ambulâncias que eram alugadas e não tinham necessidade, ficavam de stand-by nos postos. Isso trazia um custeio de mais de R$ 300 mil por mês. Com a Fundenor era R$ 470 mil por mês, cortei.

Folha – Qual a função da Fundenor?
Neco – Era projetos e fiscalização. Se tivesse fiscalização, o Parque de Exposições não estaria daquela maneira: bate um vento forte, cai parte do muro. Eu venho cortando gasto desnecessário. Minha primeira ação foi cortar 10% dos salários dos secretários, cargos comissionados, prefeito e vice. Depois tiver de baixar o decreto, tirando as terceirizadas, suspendendo temporariamente o cartão alimentação do servidor, deixando de aumentar, para cobrir as necessidades das famílias carentes, o “Viver Melhor” (programa de transferência de renda), o aluguel social. Mexemos muito na máquina sim. Hoje, praticamente, todos os cargos que estão sendo nomeados, são dos exonerados, os que foram tirados, e de pessoas que eu preciso dentro da máquina administrativa.

Folha – Na campanha de 2012, o tom era bem diferente. Os adversários de hoje, você e a Carla, estavam no mesmo palanque. Seu discurso era que você estaria herdando uma gestão arrumada. O que aconteceu para tudo mudar tão rápido?
Neco – Eu não tive o direito de ter a transição de governo. Não estava sabendo o que estava acontecendo na Prefeitura. Acreditava que estaria organizado realmente. No momento da transição, a ex-prefeita trouxe duas mulheres de Quissamã e falou comigo: essas duas vão fazer sua transição, para quem perguntar, foi você quem trouxe. Eu falei: nem as conheço. Ela falou: não tem problema, elas vão fazer a sua transição. Iniciei um governo cru. E quando assumi, tinham pilhas de processos.

Folha – Quem são essas mulheres de Quissamã?
Neco – Não lembro nem os nomes delas, quase não tive quase contato. Estavam lá para fazer minha transição, mas não foram colocadas por mim.

Folha – E fizeram?
Neco – Fizeram, mas não passaram nada pra mim. Foram pra lá para tentar arrumar algumas coisas do governo. Não tive quase contato com essas mulheres. Não tive, na verdade, uma transição de governo. Quando assumi, eram pilhas e mais pilhas de processos só com a nota fiscal dentro e paga. Ficamos mais de seis meses tentando organizar e também para não deixar problemas perante o Tribunal de Contas para ex-gestora. Eu nunca imaginaria que estaria com uma equipe de governo que seria traidora no futuro. Essas pessoas me traíram a todo momento. A minha sorte é que, graças a Deus, sempre fiz um governo honesto e nunca aceitei dentro da minha gestão falcatruas ou coisas erradas.

Folha – Devido à aliança de 2012, esse confronto traz a ideia de criador x criatura. Carla apostou muito no seu nome em 2012 e agora vocês se confrontam. Você acha que isso aumentou o nível acirrado da campanha?
Neco – Não, não foi isso. O que aumentou o nível acirrado da campanha em SJB é a maneira que a minha adversária faz política. É uma maneira agressiva, que incentiva as pessoas a partir para agressão, para o confronto, para fazer manifesto e tentar prejudicar minha imagem e a do governo. A população de SJB não é desse jeito. Por exemplo, no desfile cívico, ir pra lá fazer manifesto? Em Atafona e Grussaí a ex-prefeita estava no meio das pessoas que estavam fazendo manifesto. E isso a população de SJB não gosta. A população de SJB é carinhosa, ordeira, acolhedora e respeita os cidadãos. A campanha acirrada é devido às provocações que temos recebidos.

Folha – Muita gente que caminhava politicamente com você pulou para o grupo de Carla. O que faltou para segurar essas pessoas?
Neco – Eu acho que faltou a dignidade, a honestidade, a transparência deles. Dentro do meu governo eles não tiveram a oportunidade de fazer, talvez, o que fariam em outro. O que levou eles a “pular”, foi tudo isso. Sempre tratei todos com respeito, com carinho, nunca gritei com ninguém. Sempre respeitei a todos. Se eles não quiseram continuar, a única justificativa que vejo é essa.

Folha – No seu governo foram implantadas as linhas municipais. A empresa que venceu a licitação não cumpriu com o previsto e teve o contrato cancelado. Você, então, contratou outra, com a passagem gratuita, mas há muita reclamação. Como solucionar isso?

Neco – Nós legalizamos o trânsito e a partir daí pudemos colocar a linha de ônibus municipal. Criamos as linhas com a passagem a R$ 0,90. Pessoas que vinham do 5º distrito e gastavam R$ 10 de passagem, passaram a viajar a R$ 0,90. Só que a empresa não estava cumprindo com seus deveres. Era para ter oito ônibus, garagem no município, cumprir os horários. E não estava cumprindo. No final, estava com três ônibus circulando no município. Por esses descumprimentos, abrimos um inquérito administrativo e retiramos a empresa que estava deixando a desejar. A empresa nem recorreu, viu que estava errada. Abrimos nova licitação. Aí eu não poderia cobrar passagem, seria gratuito porque a Prefeitura iria gerir o transporte. A gente não pode atrasar um mês com a empresa, nessa crise que a gente está passando. Se atrasar, a empresa tira os ônibus de circulação e deixa a população a pé. Eles começam a cortar o horário, nós punimos, descontamos no pagamento e eles ficam chateados com a administração. No meu próximo mandato, se Deus quiser, vou comprar oito ônibus e a própria Prefeitura vai gerir. Vamos criar cargos comissionados para que os motoristas sejam nomeados e no momento que essas pessoas acharem que não está bom, a gente pode substituir de imediato.

Folha – O transporte intermunicipal é fiscalizado pelo Estado, mas é uma questão de constante reclamação no município. Como buscar alternativas para melhorar essa situação?
Neco – Já entramos no Detro com um pedido de criar outras linhas, com outra empresa, para haver concorrência. A partir de uma concorrência, a empresa que está vai passar a respeitar os horários e não deixar o pessoal na mão. Já fui ao Detro várias vezes, pedir e informar o que acontece.

Folha – Você tentou expropriar a Cedae e tomar o serviço de abastecimento de água. Isso gerou uma questão judicial e o serviço continua com a concessionária. Há problemas constantes no abastecimento. Como solucionar essa questão?

Neco – A alternativa é abrir mais poços artesianos. Conseguimos o recurso através da bacia das águas, com o Sidney Salgado que é o presidente. Esse recurso estava disponibilizado para construir dois poços. Recentemente o Estado pegou o recurso e eles não foram abertos. Nós temos água suficiente no subsolo, no lençol freático. O que precisa é abrir poços artesianos. Eu fui o único prefeito que teve a coragem de peitar a Cedae, uma instituição vinculada ao Governo do Estado. Peitei a Cedae por causa dessa falta de água, falta de atendimento à população. E outra: quebra a rua e deixa quebrada para o município consertar. Inclusive, em frente à Prefeitura. Foi lá quebrou o asfalto e deixou tudo quebrado na porta da Prefeitura. Se o usuário não pagar a conta, a água é cortada.

Folha – Essa pendência dura mais de um ano. Caso reeleito, como resolver isso de imediato?
Neco – Lutar cada vez mais para tentar pegar para o município ou que outra empresa pegue. Nesse verão quase não faltou água. Os primeiros dias que faltaram entrei em contato com o presidente da Cedae e falei que estava entrando com mais um processo. Imediatamente melhorou o abastecimento.

Folha – SJB tem um orçamento alto para uma extensão territorial pequena. Nem a Cedae, nem a Prefeitura solucionaram a questão do tratamento de esgoto. Como isso será solucionado?
Neco – Eu concordo que SJB ainda tem um orçamento alto, até concordo. Mas os meus antecessores jogaram o custeio do município muito alto. Só a folha de pagamento da Prefeitura, o bruto, com os encargos, chega a R$ 12 milhões. E outra, tem que mudar o Estatuto do Servidor. Só na Educação, há cerca de dois meses, tinha quase 100 pessoas de atestado médico. E eu tenho que colocar pessoas para substituir. Estou falando só a Educação, fora a Prefeitura toda. Nós, com certeza, vamos melhorar a arrecadação. SJB é o único município do país que tem perspectiva de crescimento. Entrou agora o transbordo de petróleo, que vai aumentar muito a nossa receita própria. Você já imaginou sair de uma arrecadação (mensal) de R$ 32 milhões para R$ 17 milhões e manter os serviços básicos em dia? A limpeza pública é boa. A gente faz pesquisa e dá 90% de satisfação. A iluminação pública nós não temos mais problemas.

Folha – E o tratamento de esgoto?
Neco – Foi construída uma estação de tratamento de esgoto, em Atafona, em uma área particular. Mais de R$ 12 milhões jogados ali. E está lá, aquele elefante branco. Os proprietários não querem aceitar nenhum de nós lá, alegam que a área é deles. Temos como entrar judicialmente. Mas, devido à queda de arrecadação, não temos como fazer todo esgoto. A estação foi concluída no meu governo. Tem capacidade para atender Atafona e SJB.

Folha – Mas se era uma área particular, por que concluiu no seu governo?
Neco – Até aí, não sabíamos que era área particular. É uma área que já teve o matadouro da Prefeitura. Não sei por que os proprietários deixaram construir. Não sei se tiveram algumas promessas. Peguei a obra em andamento, não tinha como saber que era particular. Só fui saber quando fomos inaugurar a obra. Isso está na Justiça.

Folha – O assoreamento da foz tem preocupado os pescadores de Atafona. Há algum projeto paliativo para evitar que a barra possa fechar e atrapalhar ainda mais o pescador?
Neco – A melhor solução é o nosso projeto do INPH (Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias). Nesse projeto, ele tem a opção de pegar a areia do rio ou do mar para engordar a orla. E a do rio fica até mais barato. Tem um espigão ali, muito assoreado, e o rio está desviando para Gargaú. O projeto vai ser uma solução para o pescador, como para o avanço do mar em Atafona. Tenho certeza que vai ficar muito bom. Na audiência pública, o Domenico (Acceta, diretor do INPH) veio para apresentação do projeto. O que me deixou mais feliz foi quando ele falou que Atafona tem jeito, o mar recua mais de 100 metros. Estamos entrando com os pedidos de licença. O Inea, há poucos dias, esteve lá. É uma obra cara? É. Mas se fizermos uma parceria, governo federal, estadual e municipal, se torna uma obra barata pelo vulto que representa para população.

Folha – Você fala que Atafona tem jeito. O avanço do mar começou nos anos 60 do século passado. De lá para cá, muito se discute, mas fato é que o mar continua avançando a cada maré mais alta, geralmente março, abril, em lua cheia, ele avança. Você acha que de fato vai parar com este projeto?
Neco – Com o projeto. Você vê Marataízes (ES).

Folha – Qual o valor do projeto?
Neco – Cento e poucos milhões. Não me lembro agora o valor exato, mas mais de R$ 100 milhões. Isso para tirar areia do mar. Para tirar areia do Paraíba fica mais barato. O INPH fez a obra de Marataízes, de Conceição da Barra (ES) que tiveram solução.

Folha – Mas R$ 100 milhões é o orçamento do ano em SJB...
Neco – Você imagina se o governo federal colocar uns 50 (milhões)? Se o governo estadual colocar uns 30? A crise não vai durar para sempre. Também tem a iniciativa privada, podemos apertar um pouco, porque a iniciativa privada pode ajudar o pescador também. Querendo ou não o porto dá um impacto negativo na pesca. É aonde podemos fazer as parcerias. E o governo federal tendo interesse em fazer, eles mesmos pegam a iniciativa privada.

Folha – Se reeleito, será uma prioridade em seu governo?
Neco – Prioridade. Já é uma prioridade nesse meu governo. Desde que assumi em 2013, tinha colocado na minha cabeça de lutar pelo Pontal de Atafona, pela contenção do avanço do mar.]

Folha – Neco você é do 5º, que é um distrito muito bairrista. Você tem uma história lá com sua adversária que foi na época das desapropriações para fazer o Porto. Você acha que é seu bastião? Onde você é mais forte? E o que fazer para isso se irradiar?
Neco – Com certeza. E já está irradiando. Mostrando a população a realidade. Mostrando a população que não foi o governo Neco que criou a crise. Que não foi o governo Neco que gastou desnecessariamente quando São João da Barra tinha dinheiro. Estamos mostrando a arrecadação que nós tínhamos e a arrecadação que estamos tendo hoje. E estamos mostrando nossos projetos e sonhos para SJB. Fazendo uma política séria. Tenho certeza que o jogo está virando e que até dia 2 de outubro o jogo está virado em SJB. E a eleição é do 15.

Folha – Por falar em virar o jogo, o PMDB, desde 96, não perdeu nenhuma eleição em SJB: Primeiro com Betinho (Dauaire, duas vezes), depois com Carla (duas vezes) e em 2012 com você. Você acha que esse é um fator preponderante?
Neco – 2012 comigo e 2016 comigo de novo, se Deus quiser. Tem outra história em SJB: desde a emancipação de São Francisco, todo prefeito que se candidatou teve dois mandatos. Então, por que eu não vou ter? O pessoal de SJB sempre deu a oportunidade, ainda mais agora, com essa dificuldade que estamos passando, a população está entendendo a realidade. Se tivéssemos conseguido a antecipação dos royalties não estaríamos na situação que estamos hoje. Mas, graças a Deus, o município está em nossas mãos. Em fevereiro, sentei com meu secretário de Fazenda para fazer as contas. Ele me falou: “prefeito, se não conseguirmos a antecipação dos royalties, até agosto a Prefeitura fecha as portas”. Foi quando começamos a fazer os cálculos. Aquela participação especial em maio foi o fundo do poço para nós. Para ter uma ideia, em 2014 recebemos R$ 35 milhões. Este ano recebemos R$ 1,9 milhão. Aquilo dali foi o desespero. Foi onde tive que tomar muitas decisões para não fechar as portas da Prefeitura. E é muito difícil passar o que estamos passando. Hoje pagamos a uma empresa, outra ameaçando a paralisar os serviços. Graças a Deus, estamos pagando aos poucos o que está para trás. Tivemos que suspender o cartão temporariamente, mas atrasei pagamento de salários? E nem quero atrasar. Encontrei uma senhora em Grussaí, que disse que não votaria em mim porque suspendi o cartão. Perguntei: “O que a senhora acharia melhor, que eu suspendesse o cartão (que é R$ 300 e dá R$ 800 mil por mês) ou atrasasse o pagamento?”. Ela me deu razão e eu disse: Então vote comigo.

Folha – Qual posição o Porto do Açu ocupa, na sua visão, para SJB no próximo mandato, se for reeleito?
Neco – O crescimento será muito grande. Se não fosse a crise, já tinha crescido bastante. Mas a crise nacional, internacional, a situação da Lava Jato, isso atrapalhou muito. Tenho certeza que virão muitas outras empresas para dentro de SJB. O Porto do Açu tem a maior retroárea. Na palestra que fomos fazer na Câmara dos Deputados para empresários, eles ficaram impressionados com a retroárea que nós temos. Todos ficaram interessados e pediram o vídeo que levaram. Todos interessados em vir para nossa região. Isso vai aumentar nossa arrecadação e assim SJB não vai sofrer mais crise.

Folha – A Prefeitura trabalha em parceria com essas empresas? Quais são as principais empresas que estão hoje no Porto do Açu?
Neco – As principais são a Edison Chouest, a Ferroport, a Prumo Logística, a Technip, pouco, mas ajuda, a NOV. Sendo que caiu muito nosso ISS porque o Porto está em uma transição. Passou da fase de construção para operação. Com isso, caiu muito nosso ISS. Ontem (terça-feira) mesmo, tive uma audiência na Justiça do Trabalho e estava mostrando para o juiz a queda tanto nos royalties quanto na receita própria. Já teve mês de arrecadarmos de receita própria R$ 6 milhões. Hoje é a metade. Algumas fontes da secretaria de Assistência, o Governo do Estado está sem repassar há quase um ano e meio.

Folha – Quais parceiras a Prefeitura procura estabelecer com essas empresas?
Neco – Só na parte de cursos profissionalizantes. E fizemos várias reuniões com eles, pedindo a oportunidade para que empregue o filho de SJB.

Folha – É uma reclamação constante de que as empresas não empregam pessoas de SJB. Como reverter isso?
Neco – Tem uma porcentagem que eles são obrigados de SJB. O município vai ter que mudar essa porcentagem. Isso será através do legislativo. Agora, a secretaria de Trabalho e Renda tem encaminhado muitos currículos para o Porto e hoje tem uma camada grande de pessoas de SJB trabalhando lá. É só parar ali em Cajueiro, na parte da manhã ou da tarde, e você verá que há uma camada grande do município trabalhando lá.

Folha – Logo no início de seu governo, fiz uma entrevista com você e Aluizio (Siqueira) estava. A relação de vocês parecia ser muito boa. Como foi essa evolução até a saída de Aluizio de seu governo passando para o lado de Carla?
Neco – Também gostaria de saber. Todo apoio que os vereadores que continuam ao meu lado têm, ele tinha. Tanto Aluízio, Alex, Sônia Pereira tinham o mesmo apoio. Aluízio ficou comigo até ele ganhar o segundo mandato. Me prometendo que caminharia comigo e que nunca ele iria esquecer o que fiz por ele, no momento em que ele mais precisou. Abandonei até o Carnaval em SJB e acompanhei ele para o Rio.

Folha – É, realmente ele falou isso aqui.
Neco – Mas se precisar, Deus queira que nunca precise, na área de saúde estou pronto a atender. Mas não entendi o por quê. Quem deve essa explicação é ele.

Folha – Então ele ficou com você até o segundo...
Neco – Até onde interessava a ele.

Folha – O Centro de Emergência Pedro Otávio tem a gestão agora de uma OSs, que é a Cootrab. Você sendo reeleito, pretende fazer concurso ou manter essa relação?
Neco – Vai depender muito do atendimento à população. Quero um atendimento de qualidade.

Folha – Eles alegam que há atraso no repasse.
Neco – Há algum atraso sim. Sempre trabalhei transparente, sempre trabalhei com honestidade. Existe algum atraso. Mas não justifica prejudicar o atendimento ou eles atrasarem com os funcionários. Mas é uma das empresas que está mais em dia com o município. Nos últimos meses sempre repassei, alguns não de forma integral, parcelando o que está ainda atrasado.

Folha – Então você pretende manter a OSs?
Neco – Pretendo, na verdade, transformar o Centro de Emergência em um hospital. O que falta é muito pouco para ser um hospital. O que falta é implantar a maternidade, a cozinha e o centro cirúrgico até existe, falta equipar. Nós colocamos em funcionamento. Foi inaugurado quando faltava quatro dias para eu assumir. Depois criei oito leitos de UPG, que têm os equipamentos mais modernos que tem nos CTIs por aí. Em 2014, cheguei a pagar por um paciente no Prontocardio R$ 800 mil. Teve outro que paguei R$ 1,6 milhão, a Prefeitura pagou, para não deixar o paciente morrer. Hoje, essas pessoas são tratadas, praticamente, dentro do município. Só quando é coração, ou uma coisa mais grave, que é transferido para outras localidades.

Folha – Você falou em equipar o Centro de Emergência. Hoje, SJB só faz procedimento de baixa complexidade. Com R$ 100 milhões/ano, com um município com 34.5 mil habitantes é possível evoluir para procedimentos de média complexidade pelo menos?
Neco – Seria importante que colocasse até de alta complexidade. Mas, na situação que o município está passando, não temos condições. Não adianta eu prometer para a população e não cumprir devido à crise que estamos passando.

Folha – Mas sendo reeleito, nos próximos quatro anos é possível?
Neco – Claro que sim, aumentando a arrecadação do município. Para você ver que sempre tive um carinho muito grande com a Saúde, acabamos com a antiga sala 21 e implantamos a regulação para que as pessoas tenham mais conforto no atendimento. Dentro da policlínica, preparamos uma sala para colocar um centro de imagem. Está pronto. Agora, não podemos fazer milagres.

Folha – Prefeito, você diz que chegou a pagar R$ 800 mil por um paciente. Quais são os convênios com hospitais de Campos?
Neco – Quando assumi a Prefeitura existia um convênio de valor altíssimo com a Santa Casa de Campos. Havia outro convênio com o Álvaro Alvim, havia também um convênio muito alto com a Santa Casa de São João da Barra. Atendia a população, mas agora com o Centro de Emergência funcionando da maneira que está funcionando e o paciente recebe atendimento e faz exames através do SUS. Antes era só com convênio. Não fazia um exame fora do convênio. Hoje fazemos muitos exames através do SUS. Ressonância magnética através do estado. No caso da Santa Casa de Campos não tivemos condição de pagar e o hospital deixa de atender. No caso do Álvaro Alvim, também não temos condições de mandar muito gente pra lá. Vamos pagar como? Estamos focando mais é dentro do município, com o Centro de Emergência e os postos médicos. São João da Barra tem cobertura 100% do PSF, temos cinco postos 24 horas, além do Centro de Emergência. São João da Barra é bem coberto na área da Saúde. Esses convênios com outras cidades são importantes, mas antes a meta é pagar os atrasados e colocar em dia. O convênio tem um valor mensal. Se não foi feito, nós temos que glosar. Tem que ter uma auditoria muita séria. Sempre fizemos isso na nossa gestão.

Folha – Ainda em relação à Saúde, a Santa Casa de SJB passa por um momento delicado, com ameaça de fechar, inclusive. Qual é o caminho para solucionar essa questão?
Neco – No mês passado eu iria repassar R$ 100 mil. O convênio é maior e a dívida também, mas essa era a nossa meta. Mas dois dias antes a empresa de transporte coletivo municipal parou os ônibus. Tive que pagar para regularizar o transporte coletivo municipal. A cada momento que a gente quer regularizar a situação, aparece uma outra. Ontem (terça-feira), por exemplo, a empresa que cuida da merenda no município disse que não iria entregar antes de receber o pagamento. A situação que estamos passando e o país está passando, todos ficam com medo de entregar e não receber. Mas sobre a Santa Casa, as pessoas pararam com o salário em dia. Conheço pessoas de lá que me garantiram que o salário está em dia. Agora exame de sangue e urina, o município tinha que pagar duas tabelas SUS. Mas hoje são feitos por uma clínica com uma tabela SUS. O município não tem que repassar mais nada. O que temos que fazer é trabalhar com honestidade e organizar cada vez mais. E fazer as melhorias para que a gente possa avançar tanto na área da Saúde como na Educação.

Folha – O município tem como ponto forte o Turismo. Este ano o verão foi com artistas locais, quase sem shows nacionais. Isso gerou reclamação dos comerciantes. Foi culpa da crise? E para 2017, será possível fazer um grande verão?
Neco – O verão deste ano, com shows locais e regionais, não ficou aquém dos verões anteriores com shows nacionais. SJB já é um município com beleza natural. As pessoas já vão para as praias de Grussaí, Chapéu de Sol, Atafona, Açu, automaticamente. O show grande leva uma multidão? Sim, mas quando termina muitos vão embora. Aqueles que frequentam as praias e gostam de SJB, já vão naturalmente. Mas não pode deixar de ter eventos e incentivo. O que não pode é fazer com a estrutura cara que havia.

Folha – O seu vice é candidato a vice-prefeito na chapa de Carla Machado (PP). Como se deu esse distanciamento. Como vê esse enfrentamento contra o ex-aliado?
Neco – Vejo naturalmente. O meu vice-prefeito, quando assumi a Prefeitura, estava ao meu lado. Um gabinete ao lado do meu. E ele selecionou uma equipe para trabalhar com ele. Todos que me pediu eu dei. Todas as nomeações. E ele chegou a ir e atuar no gabinete. Mas desde o momento em que a ex-prefeita rompeu comigo, na verdade não fui eu que rompi com ela, foi ela que rompeu comigo, a equipe que estava com ele (Alexandre) já não queria me acompanhar. Começaram a falar muitas coisas, levar informações para fora da Prefeitura. E quando exonerei a primeira pessoa ele não gostou e nunca mais pisou no gabinete. Não tivemos contato, ele seguiu a vida dele particular, não procurou e não quis caminhar junto. Na eleição para deputado e governador ele caminhou com a ex-prefeita, apoiando o PT. Seguiu o caminho dele, mas estou seguindo o meu.

Folha – Muitos apontam o seu estilo como perseguidor, com exonerações até por conta de posições no Facebook. Como avalia esse tipo de visão por parte de algumas pessoas?
Neco – Perseguição existe. Eu, por exemplo, fui muito perseguido. Pessoas que estavam levando informações, levando documentos da Prefeitura. Fui criticado por ter dito que estava exonerando muita gente por desvio. E teve, mesmo. Desvio de documento, desvio de caráter, desvio de informações. Eu estava sendo perseguido. Só que ela quis colocar como se o perseguidor fosse eu. Mas como que eu vou ter um cargo de confiança que não passava confiança? Eram pessoas que estavam traindo a confiança.

Folha – Ao comentar sobre a ex-prefeita você diz que ela rompeu. Afinal, como se deu esse afastamento?
Neco – Ela quis fazer o que a oposição falava de mim nos comícios, que eu seria um boneco. Eu sou Neco, mas boneco, não. Até chegar as eleições nós não tínhamos combinado nada. Passou as eleições, tudo bem. Faltando 15 dias para assumir, cheguei perto dela e perguntei: prefeita, o que você quer do meu governo, do nosso governo? Ela disse: quero a secretaria de Planejamento cheia, com todos os cargos. Eu disse: que bom, você vai trabalhar com a gente. Mas na verdade ela disse que seria Luciano Aguiar. Permaneceram os mesmos secretários do governo anterior. Os secretários não me seguiam as minhas orientações. Era Luciano Aguiar que teria que dar o direcionamento. Ela disse antes que tudo teria que passar pelo Planejamento. Mas não sabia que era para ele tomar todas as decisões e eu assinar. E aí, com três quatro meses, ao ver que não estava tendo controle do meu governo, chamei o tesoureiro da Prefeitura e falei com ele: todos os processos de pagamento você vai levar para a minha casa. Não vai fazer um pagamento sem passar por mim. Foi aí que eu me deparei com três processos de pagamento, dois de patrolamento de estrada e um de reforma de eucalipto, que tem muito eucalipto lá.

Folha – Esse monte de eucalipto é o quê?
Neco – Quiosques, cerca, passarela. Dentro da Barra Mix tem uma estação de tratamento de eucalipto. É de quem?

Folha – É de quem?
Neco – É de Márcio.

Folha – Marido de Carla?
Neco – Isso. Então, além disso tinha patrolamento de estrada que não foi feito. Isso dentro do meu governo. Retirei os processos e disse: isso aqui não vai pagar. Passados cinco meses ela veio e falou que haviam processos que eu não queria pagar. Se não foi feito, não iria pagar. Ela então disse que não queria saber e que aquilo dali era um negocinho pra Márcio. Tirar quase R$ 300 mil para dar de presente a um cara que não faz nada, que não foi feita a obra. Jamais. Falei que não ia pagar porque não foi feito. Foi quando começou o desacordo. Desacordo, não. Porque nem tinha acordo. Foi o início do racha. Não aceitei, não vou aceitar. Não existe em página de jornal meu nome como corrupto. As coisas comigo são diferentes. Temos Portal da Transparência, recebi um prêmio em São Paulo como melhor execução orçamentária.

Folha – Mesmo assim São João da Barra apareceu como uma cidade pouco eficiente no Ranking da Eficiência.
Neco – Qual município produtor de royalties que ficou melhor do que São João da Barra? Não tem, com essa queda de receita. Eu estou no grupo de WhatsApp dos prefeitos do estado. Estão todos em um desespero danado para fechar as contas. É muito difícil passar por este momento.







Fonte: Folha da Manhã