(Fotos: Wellington Cordeiro) |
O tradicional Bar Ao Gato Preto com seus mais de 90 anos de funcionamento, acaba de ser tombado como Patrimônio Imaterial Histórico e Cultural da cidade de Campos dos Goytacazes em reunião do COPPAM em solicitação de ofício que eu havia enviado ao Conselho. Em breve sairá no Diário Oficial do município. Agradeço e parabenizo aos conselheiros que entenderam a relevância cultural e histórica que representa Ao Gato Preto para a nossa cidade. Mas, principalmente agradeço a seu atual proprietário, Seu José Carlos, conhecido como "Zé Psiu", juntamente com seu filho Paulo Sérgio e seu neto Fabiano por tocarem em frente este empreendimento que é mais do que um simples estabelecimento comercial.
HISTÓRIA
No Gato Preto, são três gerações atrás de um balcão e muita história para contar
Na outra extremidade do balcão há, literalmente, uma família: pai, filho e neto trabalham juntos para manter abertas as portas do botequim mais tradicional de Campos. A labuta começa bem cedo para o proprietário, Seu José Carlos, o Zé Psiu, como gosta de ser chamado. "Venho pra cá às 5h30 da manhã," conta, sem descuidar do atendimento aos clientes que chegam a todo o momento. Ele, que já esteve à frente do estabelecimento por duas vezes, a primeira na década de 80, trabalha com o filho, Paulo Sérgio, e o neto, Fabiano. Eles têm também o apoio de Salvador e Osvaldo, que é quem preparara os tira-gostos: carne seca no feijão, moela da galinha, chouriço, carne assada com batatas coradas, fígado e até pé de galinha, uma das estrelas do cardápio. Ah, aos domingos, na folga do Osvaldo, quem disse que a turma fica sem tira-gosto? "O pessoal traz de casa. Junta, faz uma vaquinha e não fica pesado pra ninguém," comenta seu Zé que, aos 76 anos, acredita que seu trabalho é a razão para sua saúde. "Sou de uma família de 13 irmãos. Só eu estou vivo. Acredito que pelo fato de acordar cedo e manter a mente ocupada, ter essa alegria, o convívio com os amigos. Isso ajuda muito," diz.
O nome teria sido escolhido pelos próprios frequentadores por uma razão curiosa: Dizem que o antigo dono, um rapaz negro,de pouco estudo e ruim em matemática, costumava errar na hora de fechar a conta. E como a rapaziada não perdoa, acabou batizando o lugar de "Gato Preto," uma homenagem não muito carinhosa, mas que perdura. Bem, quem contou essa história foi Zé Psiu, que já viu e ouviu muita coisa por lá. "Uma vez, chegou um sujeito aqui na frente, muito bem vestido, fez o sinal da cruz e saiu. Não entendemos nada," diverte-se o proprietário, que faz questão de fechar o bar antes das 22h. Sábado e domingo, eles fecham as portas mais cedo ainda.
Alguns minutos de conversa e lá estava eu, agora do outro lado do balcão, observando a dinâmica dos funcionários. O lugar é simples, com paredes pintadas de verde e alguns azulejos, típicos de botequim. A bandeira do Flu denuncia se tratar de um reduto de tricolores. Quase não se percebe o canto tímido dos pássaros engaiolados com o alvoroço da conversa que toma conta do lugar de cerca de 25 metros quadrados. Na parede também estão lembretes bem-humorados como "Não entre bêbado. Sair pode." O lugar é humilde, mas acolhedor. Nossa marca registrada é dar atenção a todos," resume o filho, Paulo Sérgio. Zé Psiu acredita que o Gato Preto tenha mais de 90 anos. Se os gatos têm sete vidas, o Gato Preto mostra que essa conta vai bem mais além. Para sorte de seus fiéis frequentadores.
Fonte: Wellington Cordeiro/ O Diário