domingo, 20 de julho de 2014

LIVRO DE EX-SEGURANÇA DE FIDEL CASTRO RELATA VIDA DE LUXO DO LÍDER "COMUNISTA"



Durante 17 anos (1977-1994), o cubano Juan Reinaldo Sánchez só sentiu orgulho da posição que ocupava na guarda pretoriana do ditador Fidel Castro.

Basta olhar as fotos que acompanham "A Vida Secreta de Fidel" para identificá-lo como um fiel servidor, sempre guardando a integridade física do líder, quando este dava entrevistas ou se preparava para uma pescaria. A atenção de Sánchez transmite orgulho, quando com rabo de olho ele observa o patrão.

"A Vida Secreta de Fidel" (ed. Paralela) tem sido apresentado como um livro-denúncia sobre a vida de luxos do líder cubano. De fato, a se confirmar o que conta Sánchez, Fidel não reproduz em seu cotidiano a ideia de austeridade revolucionária.

O ex-guarda-costas fala de ilhas secretas e exclusivas, mais de 20 casas de luxo, uma piscina com golfinhos e iates.


Sobre a vida pessoal do líder, o livro retrata um homem com resistência a mostrar afeto. Trata os filhos com frieza e a mulher, Dalia Soto del Valle, com discrição. Tinha, ainda, amantes e um local secreto para encontrá-las. Sánchez relata que o líder chegou a perdoar uma traição da mulher, numa aventura com um dos empregados. Já com relação à bebida, é descrito como moderado, raras vezes sido visto de fato embriagado.

São muitos os detalhes sobre sua luxuosa vida particular, mas poucas as revelações que possam ter reais consequências políticas.


Sánchez conta os bastidores de encontros com ditadores amigos, como o norte-coreano Kim Il-sung (1912-1994) e o líbio Muammar Gaddafi (1942-2011), descreve a existência dos campos de treinamento de guerrilheiros que recebiam gente de outros países e insinua um vínculo entre o líder cubano e chefes do narcotráfico colombiano.

A parte mais interessante do relato é, porém, quando se revela por que o leal guarda-costas de repente se virou contra aquele que admirava tanto, após quase 20 anos de submissão total.

Em 1994, o irmão de Sánchez migrou ilegalmente para os EUA. Questionado pelos superiores, o guarda-costas resolve pedir demissão, pensando inocentemente que poderia sair quando quisesse. O peso do regime, porém, caiu sobre ele. Torturado e julgado por traição, Sánchez foi condenado e preso.


Cumprida a pena, levou outros 12 anos para conseguir escapar do país, num barco, para o México e depois para os EUA, onde vive.

Ao longo do livro, Sánchez, hoje com 65 anos, praticamente se desculpa por ter visto os excessos de Fidel sem nunca denunciá-los.

Justifica dizendo ser um militar, e militares são obedientes, além de um defensor da Revolução. Apenas quando sentiu-se excluído é que resolveu questioná-la. Isso não deslegitima o relato; ao contrário, o humaniza.

Porém, fica a conclusão de que o principal tema do livro não é a vida luxuosa de Fidel, mas sim uma reflexão sobre o magnetismo de sua figura e do sentimento de adoração que ele ainda consegue inspirar em muitos cubanos, ainda que levando uma vida de nababo enquanto o restante da população é submetido a uma vida de racionamentos e escassez.


Fonte: Estadão