quinta-feira, 15 de novembro de 2012

TRÊS ANOS SEM O JORNAL MONITOR CAMPISTA (178 ANOS). A HISTÓRIA É CALADA...

ÚLTIMA EDIÇÃO

O encerramento das atividades do Monitor Campista não surpreende numa cidade (Campos, RJ) que despreza sua história como se dela tivesse vergonha. Vergonha de um passado construído com base na exploração da miséria e boa-fé de um povo outrora pioneiro e guerreiro. 

Nada mais previsível para uma cidade que derrubou o Trianon – um dos mais belos teatros do Brasil – e pôs abaixo o Cine Don Marcelo e o Coliseu. O que esperar de uma gente que entrega aos cupins os belíssimos solares dos Ayrises e Visconde de Araruama, a Lira de Apollo e o Hotel Amazonas, apenas para citar alguns? 

O fechamento do Monitor Campista está cercado de nebulosas transações e só o tempo poderá clarear uma eventual negociata urdida nas promíscuas relações público-privadas. Oficialmente o jornal está deixando de circular porque suas despesas superam as receitas, estas últimas combalidas com a retirada do Diário Oficial da Municipalidade após um século de publicação. Se houve insensibilidade dos atores envolvidos no processo que resultou neste desfecho, ou desinteresse dos donos do jornal (Diários Associados) em garantir o funcionamento a despeito dos prejuízos, são temas que não discuto. O que me move é a indignação com a passividade e conivência de uma cidade que caminha para o abismo. E se sabe disso, pouco se importa.




Fecha o Monitor Campista porque governantes, empresários, representantes classistas, enfim, a sociedade optou por prescindir de uma mais voz, de mais um canal de expressão. Essa gente, que se convencionou chamar de "elite campista" é herdeira dos barões do café e do açúcar, aqueles que exploravam as riquezas e as gentes da planície para gozar dos prazeres da antiga capital do Império ou da Europa. Nada de novo sob o sol. 

A elite remoçada substituiu a carruagem pelas caminhonetes cabines duplas e outros carros importados. Sofisticaram a exploração mas, pouco criativos, gozam dos prazeres nas mesmas plagas, além da paradisíaca Búzios, enquanto continuam exaurindo as riquezas e as gentes que sustentam suas futilidades. Aliás, não é à toa que é nas colunas sociais abundantes que se sentem "importantes" de verdade. 

Fechar um jornal é mais do que calar uma voz ou um canal de expressão – por menos expressivo que ele possa parecer –, porque reduz as opções de diversidade de informações, opiniões, visões de mundo. Isso é mais grave numa cidade bipolarizada e onde as principais forças de mídia representam segmentos políticos distintos, mas são antagônicos apenas nos interesses de ocasião. 

É um momento grave para a democracia. Sem exagero, o fechamento do Monitor Campista não representa apenas o desemprego de 45 profissionais. É mais que isso: sinaliza que a sociedade está se lixando para a coletividade e que cada um mira o próprio umbigo como se fosse o centro do mundo, sem nenhuma responsabilidade com os graves e antigos problemas sociais da comunidade. Fingem não perceber que corremos o risco de virar reféns permanentes das quadrilhas que se revezam na tarefa criminosa de privatizar os bens públicos para reparti-los entre aliados recrutados nos mais diferentes setores que dirigem a cidade.

Por Ricardo André Vasconcelos

fonte: Observatório da Imprensa