Mesmo com o início das intervenções do Estado e da Prefeitura para reestruturar a cidade, 60 dias após o temporal que provocou a morte de 234 pessoas, deixou três desaparecidos e milhares de desabrigado e desalojados, o clima entre os petropolitanos é de tensão sempre que nuvens de chuva encobrem o céu. A preocupação é ainda maior em regiões onde o rastro de destruição da maior tragédia climática da cidade ainda está presente. Ainda cercados por escombros, barreiras e encostas marcadas por deslizamentos, moradores de localidades como Morro da Oficina, Vila Felipe, Chácara Flora, Sargento Boening, 24 de Maio, 1º de Maio e Rua do Túnel (Quissamã) - têm em comum uma rotina de aflição e medo a cada nova chuva.
Relatos de tensão e medo também são recorrentes a cada chuva entre moradores da Rua do Túnel no Quissamã. Ao longo da Rua Francisco Scali, mais de 30 crateras se abriram nos últimos dois meses, algumas com mais de três metros de diâmetro e mais de cinco metros de profundidade.
Com processo para obras emergenciais em andamento no Estado, a maior preocupação hoje dos moradores é com a pressão da água direcionada para o túnel, que aumenta sempre que chove forte em pontos da cidade como os bairros Morin e Alto da Serra. Eles lembram que originalmente a entrada do túnel possuía uma espécie de comporta, que limitava a quantidade de água direcionada para o extravasor. Com o passar dos anos o equipamento foi retirado e o túnel passou a receber praticamente toda água do Rio Palatino. Também preocupa o surgimento de crateras em outros pontos, como a Servidão Amadeu Camarota, que também é cortada pelo túnel extravasor.
“Toda vez que chove a tensão e o medo tomam conta de nós, ninguém dorme mais. O volume de água que desce pelo túnel aumenta muito e todos ficam atentos para o caso de ouvir barulho de alguma nova cratera”, conta Maria das Graças Dias Ribeiro, que mora na Servidão Amadeu Camarota, no Quissamã. Com as chuvas de fevereiro, Graça, assim como centenas de moradores da Rua do Túnel, passou a conviver com uma cratera próxima ao quintal de casa.
(Foto: Alcir Aglio) |
O presidente da Associação de Moradores da Rua do Túnel, no Quissamã, Antônio Lúcio Monteiro da Silva, que vem acompanhando as reuniões entre representantes do Estado e o Ministério Público para a realização das obras no túnel extravasor, pontua a importância de reduzir o volume de água para o túnel até que as obras sejam concluídas.
“Hoje a maior preocupação ali é com o volume grande de água que desce pela galeria quando chove no Alto da Serra e no Morin. Temos pedido que seja instalado algum tipo de limitador de água ou comporta na entrada do extravasor , para diminuir o volume de água entra no túnel. Isso já deixaria todos nós muito mais tranquilos, pois reduziria o impacto naquela região que já está crítica”, destaca Antônio Lúcio Monteiro, lembrando que em reunião realizada na semana passada, representantes da Seinfra informaram que o projeto para obras emergenciais deve estar pronto em 10 dias úteis, ou seja, até o fim do mês.
Prefeitura
A Prefeitura informou que a Secretaria de Obras, Habitação e Regularização Fundiária está nos serviços de reparo e manutenção das vias públicas do Alto da Serra e bairros vizinhos. Ainda segundo a Prefeitura, na Rua Jacinto Rabelo e Travessa Frederico Guilherme Karl, os reparos já realizados serão seguidos por obras de drenagem e recuperação do pavimento, com início previsto para a segunda quinzena de abril.
Quanto à Rua 1º de Maio, no bairro 24 de Maio, a Prefeitura informou que as obras são de responsabilidade do Estado, conforme compromisso firmado com o município.
Estado atuante
O Estado informou que atua na Rua Conde D´Eu, no bairro Castelânea, onde estão sendo feitas obras de contenção de encostas, retaludamento e revegetação da encosta e recuperação da rede de drenagem. Ainda segundo o Estado, o mesmo tipo de intervenção está em andamento nas ruas Teresa, 24 de Maio e Nova, no Centro, que terá ainda a remoção de rochas soltas e a fixação do maciço rochoso que ficou exposto, através de chumbamento e envelopamento com telas de aço. O Estado informou ainda que atua na Rua Pedro Ivo, no Morin, onde as obras têm como foco a recuperação da calçada e parte da via, que deslizou com o impacto das chuvas. Serão feitas obras de contenção de encostas, recuperação da encosta e recuperação da drenagem.
BNH Sargento Boening recebe escoramento
No BNH do Sargento Boening, as intervenções para escoramento do bloco 18, começaram a ser feitas esta semana, para limpeza do local, conforme recomendação da Defensoria Pública. “O escoramento começou a ser feito na terça-feira, depois que eles tiraram manualmente a terra do segundo andar. Agora precisamos que mandem a retroescavadeira e os caminhões para retirarem a terra, pois só então eles poderão mexer no primeiro andar”, explica o síndico, Júlio Cesar Deister.
A prefeitura informou que no conjunto residencial do Sargento Boening, “a Secretaria de Obras já efetuou o escoramento do bloco 18, que teve um dos pilares avariado por um deslizamento de terra. Com essa intervenção, a Prefeitura vem fazendo a remoção da barreira e garantindo a integridade do prédio. A Secretaria estuda atualmente as soluções técnicas mais adequadas para a contenção da encosta e a reconstrução do pilar avariado”, diz a prefeitura em nota.
Intervenções do Estado na Washington Luiz se estenderão por 180 dias
Principal via de acesso ao Centro para moradores da região do Quitandinha e demais bairros da zona sul da cidade, a Rua Washington Luiz está entre as áreas mais atingidas pelos temporais de 15 de fevereiro e 20 de março. A via, que chegou a ficar totalmente interditada, hoje tem o acesso liberado apenas para ônibus e taxis que circulam em uma faixa exclusiva. A recuperação da via é de responsabilidade do Estado, que informou que no local está sendo feita a reconstrução dos muros de contenção do Rio Quitandinha nos trechos que sofreram erosão nas margens, recuperação dos muros de pedra remanescentes, reconstrução da canalização e recomposição do pavimento e guarda-corpo entre as ruas Rocha Cardoso e Doutor Nelson Rocha de Sá Earp. Ainda segundo o Estado, na Avenida Getúlio Vargas com Rua Lopes de Castro, no mesmo bairro, serão feitas obras de contenção de encostas, a recuperação da cobertura vegetal do morro e drenagem das ruas.
Fonte: Diário de Petrópolis