(BR 101 - Foto: Ralph Braz | Pense Diferente) |
As condições favoráveis da planície Goytacá para as práticas esportivas se contrapõem à falta de espaço adequado para atender ciclistas e corredores, que enfrentam riscos ao se exercitarem em meio ao trânsito da cidade. De acordo com dados do Hospital Ferreira Machado (HFM), em 2022, Campos dos Goytacazes já registrou 104 acidentes envolvendo ciclistas e 39 atropelamentos. O caso mais recente, com repercussão da mídia local, foi o do ciclista premiado Ricardo Grosse Gibson, de 62 anos, que morreu no dia 10 de abril, vítima de atropelamento na BR-356 (Campos-SJB).
O acidente aconteceu enquanto Ricardo pedalava, no dia 7 de abril, e foi atingido por uma carreta na rodovia. Ele ficou internado por quatro dias, mas não resistiu aos ferimentos. Ao todo, o ciclista participou de 30 competições na Prova Ciclística de São Salvador, em Campos. Outro caso que marcou a cidade foi o do dentista Luis Gustavo Ramos Póvoa, de 42 anos, que foi atropelado em setembro de 2020, enquanto praticava corrida na Avenida Nilo Peçanha, no Parque Santo Amaro. Ele sobreviveu, mas precisou passar por cirurgias e, hoje, está paraplégico.
Esses e outros acidentes apontam para os riscos de se praticar esportes de rua em uma cidade que não tem local específico para tais atividades. Segundo o Arquiteto e Urbanista Renato Siqueira, na área urbana de Campos não há possibilidade de espaço para as práticas de ciclismo e corrida. “O que se observa quanto aos ciclistas, são alguns grupos organizados que realizam atividades rumo à zona rural, em geral, na direção do Morro do Itaoca e de Lagoa de Cima. Quanto às corridas a pé, os praticantes se aventuram perigosamente entre os veículos e as bicicletas, invadindo os espaços destes”, disse.
O profissional de Educação Física Douglas Rocha pratica corrida há 13 anos e diz que a cidade é apropriada geograficamente para o esporte, por ser uma planície. No entanto, tem carência de lugares adequados e seguros. “O que falta em nossa cidade são lugares para a prática de corrida, como parques, faixas exclusivas para pedestres e ciclistas e uma pista de corrida oficial. Além disso, poderia reservar o final de semana para fechar algumas ruas para fins esportivos”, fala.
Melhoria necessária
Para Renato Siqueira, é de caráter urgente a realização de uma política pública, de curto prazo, que possa proporcionar a oferta de espaços de lazer e atividades esportivas. “A cada dia se percebe mais pessoas nas ruas em busca da prática de alguma atividade esportiva. Porém, devido à falta de alternativas públicas ou, até mesmo, privadas (que seriam os clubes), essas pessoas optam por se arriscar ao praticarem as atividades em ambientes impróprios. Os riscos vão desde a inalação de gases tóxicos ou nuvem de poeira em vias de intensa circulação de veículos a acidentes de trânsito”, explica.
O Arquiteto e Urbanista diz que as áreas definidas no zoneamento urbano como equipamentos de recreação e lazer são vocacionadas às atividades esportivas. “Deveriam ser priorizadas no investimento do gestor público. Alguns desses espaços estão definidos na legislação urbana desde 2008, no Plano Diretor, como os casos do Bosque Manoel Cartucho e do Parque Urbano da Avenida Arthur Bernardes, que ainda não saiu do papel. Além do magnífico entorno da Lagoa do Vigário, as Praças Barão do Rio Branco (Jardim do Liceu) e Nilo Peçanha (Jardim São Benedito)”, detalha.
A Prefeitura de Campos dos Goytacazes, ao ser questionada quanto à falta de espaços adequados para a prática esportiva do ciclismo e corrida e, também, se existem planos para criação desses equipamentos, disse por meio de nota: “Sobre as ciclovias, a Fundação Municipal de Esportes informa que a da Avenida 28 de Março está sendo reformada. Além dela, a cidade tem as ciclovias da Avenida José Carlos Pereira Pinto, em Guarus; da Arthur Bernardes e a que liga o Trevo da Antiga Usina Santo Antônio/entrada para Penha até o Posto da Polícia Rodoviária Estadual. O município também dispõe dos seguintes espaços para prática esportiva: Jardim São Benedito, Vila Olímpica Bruno Rangel, no Parque Alphaville; Vila Olímpica Lulu Beda, no Jardim Carioca; Vila Olímpica João de Souza, no Parque Esplanada; Vila Olímpica Valdir Pereira, no Parque Guarus. Em breve estará sendo reaberta a Vila Olímpica do Parque Jockey Clube”.
A reportagem do Jornal Terceira Via solicitou uma demanda ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RJ), com o intuito de saber se há previsão de melhorias nas rodovias, como iluminação, sinalização, etc. No entanto, não houve retorno até a publicação desta matéria.
Fonte: Terceira Via