|
(Foto: leitor do Terceira Via) |
São muitos os problemas enfrentados pelos professores e alunos da Creche Escola Zumbi dos Palmares, no bairro Santa Rosa, em Guarus. As crianças, de seis meses a cinco anos, são obrigadas a beber água da torneira, porque o bebedouro de uso coletivo não funciona há cinco anos. Os banheiros também estão em estado de calamidade: dos cinco da unidade, quatro estão interditados. Além disso, os ventiladores não funcionam e a quantidade de material didático e de limpeza distribuída pela Secretaria de Educação, Cultura e Esporte (Smece) não seria suficiente para atender às necessidades. Restam aos professores duas alternativas: ou fazem “vaquinha” para comprar o que falta, ou ficam à mercê da boa vontade do Governo Municipal.
Uma professora da unidade, que preferiu não se identificar por medo de represálias, detalhou à reportagem do jornal Terceira Via o calvário vivido pelos funcionários e crianças diariamente. De acordo com a professora, há cinco anos a cena se repete: todos os dias, logo após a refeição, os pequenos fazem fila para beber água da torneira. O bebedouro que existia na unidade apresentou defeito em 2010 e até hoje não foi consertado ou substituído. Existem três filtros de barro na creche, que são colocados em algumas salas de aula, mas não atendem as cerca de 300 crianças matriculadas.
“Um quarto filtro foi comprado por uma das professoras para amenizar a situação, mas essa não é solução para o problema. Nós também não podemos deixar que as crianças entrem na sala das outras para beber água sempre que sentem sede, porque gera tumulto. O ideal seria que trocassem o bebedouro, que fica na área externa, mas ninguém dá ouvidos aos nossos pedidos”, declarou a professora.
Banheiros e ventiladores
A Creche Zumbi dos Palmares tem cinco banheiros: um para meninos; outro para meninas; um para as professoras; outro na cozinha; e o último no Berçário. O banheiro dos meninos está interditado desde 2009. Hoje, o espaço funciona como depósito de cadeiras e mesas quebradas. O das meninas está com os chuveiros queimados. O banheiro das professoras e o da cozinha estão com problemas na descarga. Já o do Berçário funciona bem, mas recentemente um dos chuveiros queimou e as professoras fizeram “vaquinha” para comprar um novo.
“Não poderíamos deixar o banheiro do berçário sem chuveiro, porque as crianças, de seis meses a um ano, ainda usam fralda e precisam tomar banho com frequência. Sabíamos que, se não tomássemos uma atitude, outro banheiro seria inutilizado”, contou.
Os ventiladores também são um problema à parte. Existem três ventiladores em cada sala, mas geralmente apenas um funciona. “Na minha sala, por exemplo, só funciona o ventilador de parede que foi colocado no ano passado. Os três de teto estão quebrados. Com esse calor que está fazendo, imagine a nossa situação... Pior ainda é para as crianças”, disse.
Faltam materiais didáticos e de limpeza
Para este ano letivo, a Smece encaminhou para a Creche Escola Zumbi dos Palmares apenas quatro caixas de massinha de modelar; dois pacotes de hidrocor; duas caixas de lápis de cor; um rolo de fita dupla face; um rolo de fita durex; 38 lápis; sete borrachas; seis apontadores; um tubo de cola bastão; uma caneta para quadro branco; e dois pacotes de folha A4.
Esse material deve ser dividido entre as turmas da manhã e da tarde durante todo o semestre. “Eles estão pedindo para que a gente faça um milagre. Trabalhamos com crianças pequenas, passamos muitas atividades nas folhinhas... Além disso, a maioria das crianças são da comunidade e não têm dinheiro para comprar o material individual. Vai ser impossível fazer esse material render até julho”, disse a professora.
“Antes nós usávamos um mimiógrafo antigo para imprimir as folhinhas, mas nós, professores, que comprávamos o álcool. Recentemente conseguimos comprar uma impressora com a verba do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), que vem do Governo Federal, mas nunca tem tinta no toner. Quando dá, nós fazemos vaquinha para comprar”, denuncia.
De acordo com a professora, também faltam materiais de limpeza. “Muitas vezes eu e as colegas compramos sabote, shampoo, condicionador, papel higiênico e fralda para as crianças. Vocês não imaginam como está a nossa situação...”.
Faltam de Auxiliares de Creche
As auxiliares de creche concursada ainda não começaram a trabalhar e, por isso, as crianças estão sendo liberadas às 11h. “As professoras não têm condições de cuidar sozinhas de todas as crianças. Até porque, elas são pequenas e muito dependentes. Na minha sala, por exemplo, tem 24 crianças de um ano a dois. Somos duas professoras para tomar conta, mas não é o suficiente. Precisamos alimentar, trocar fralda, dar banho, passar as atividades... É complicado”, contou.
Resposta da Secretaria de Educação
Por meio de nota, a Smece respondeu que “os novos auxiliares de creche aprovados no concurso da Prefeitura de Campos ainda estão assumindo as unidades da rede municipal de ensino, já que a escolha aconteceu até quarta-feira (25)”. A secretaria informou ainda que “alguns candidatos estão resolvendo pendências com documentação e só devem assumir as unidades nos próximos dias”.
Quanto aos problemas relacionados à infraestrutura, a Gerência de Infraestrutura da Smece informou que “já solicitou as devidas providências à empresa responsável pela manutenção nas escolas e creches da rede”. Segundo a Gerência, “os profissionais devem iniciar os reparos na quinta-feira (26) dentro da unidade”.
Sobre o material didático, a Smece disse que “já foi entregue pela Gerência de Suprimentos” e “solicitou providências da empresa terceirizada responsável pela limpeza, responsável pelo controle dos materiais”.
Fonte: Terceira Via