quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Projeto do Governo de redução de incentivos fiscais recebe 52 emendas na Alerj


Os deputados da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) elaboraram 52 emendas ao Projeto de Lei 6.034/25, de autoria do Executivo, que propõe a redução gradual dos incentivos fiscais fluminenses até 2032, último ano em que ainda não estarão em vigor as normas da Reforma Tributária (Emenda Constitucional Federal 132/23). A proposta começou a ser discutida pelos parlamentares em plenário durante a sessão desta quarta-feira (08/10).

Presidente da Alerj, o deputado Rodrigo Bacellar (União), afirmou que a Casa realizará uma ampla audiência pública nos próximos dias sobre o tema, com a participação de representantes dos setores produtivos, da Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan) e da Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz). Bacellar também adiantou que após a audiência haverá uma reunião interna entre os líderes partidários para debater um substitutivo ao projeto original.

"A gente teve o entendimento de realizar uma audiência pública com a finalidade de debater e trazer as instituições para a discussão. Vamos tratar desse projeto também no Colégio de Líderes", declarou Bacellar, em plenário.

A audiência será feita em conjunto entre a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e as Comissões de Orçamento, de Economia e de Tributação da Casa. “A matéria em questão suscita muitas discussões. Foram diversos setores distintos que encaminharam preocupação com a proposta ao meu gabinete. Portanto, é uma questão sensível de desenvolvimento econômico do nosso estado, que requer uma ampla audiência pública conjunta com as comissões”, disse a deputada Célia Jordão (PL), que sugeriu a audiência pública.


Já o líder do governo e presidente da CCJ, deputado Rodrigo Amorim (União), explicou que o colegiado deu o parecer pela constitucionalidade à matéria, sem incorporar emendas ao parecer, de modo a facilitar a tramitação do projeto, visto que foram protocoladas mais de 50 emendas parlamentares, que serão analisadas. "Os projetos econômicos propostos pelo Executivo são polêmicos e talvez este do FOT seja o mais rebuscado do ponto de vista técnico. Como houve diversas emendas e o projeto entrou pela primeira vez em discussão, incluir inicialmente emendas ao parecer vai gerar uma dúvida no setor produtivo e na imprensa", afirmou Amorim.

Entenda a medida

A medida altera regras do Fundo Orçamentário Temporário (FOT) - instituído pela Lei 8.645/19. A nova proposta aumenta de 10% para 30% o valor de compensação a ser depositado no fundo pelas empresas que ganham benefícios tributários. De acordo com a medida, esse novo percentual valeria a partir de 2026, respeitando o prazo de 90 dias após a publicação da nova medida em Diário Oficial.

O projeto determina ainda um aumento escalonado do percentual a ser depositado no fundo a partir de 2027. Este aumento será de 10% ao ano, de modo que em 2032 as empresas tenham que devolver 90% dos incentivos ao Governo do Estado. As regras serão as seguintes: 40% em 2027; 50% em 2028; 60% em 2029; 70% em 2030; 80% em 2031 e 90% em 2032.


A única exceção à regra são os contribuintes que, antes da publicação da nova medida em Diário Oficial, já tenham benefícios fiscais com data limite especificada e cumprimento de contrapartidas onerosas, conforme regulamentações das legislações federais vigentes. Para estes casos, o percentual de depósito no FOT será de 18,8%.

O Governo do Estado prevê que essa redução dos incentivos fiscais possa gerar incremento de arrecadação estadual da ordem de R$ 2,12 bilhões para o ano que vem. Os dados foram elaborados pela Subsecretaria de Política Tributária (Subpot) da Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz).

Emendas parlamentares

Alguns parlamentares demonstraram preocupações com o interior fluminense e alguns setores específicos. Presidente da Comissão de Orçamento da Casa, o deputado André Corrêa (PP) elaborou emendas para que não seja necessário o aporte de recursos ao FOT pelas empresas que tenham incentivos fiscais oriundos da Leis 6.979/15, que instituiu benefícios às empresas sediadas no interior fluminense, e da Lei 8.960/20, sobre benefícios ao setor metalmecânico.

“É importante salientar que tem uma questão de fundo importante. Essas empresas que foram para o interior, tomaram a decisão de ir para um local que não tem vantagens comparativas, que têm problemas de logística. Elas não podem ter as suas alíquotas praticamente dobradas”, reforçou Corrêa.

Na mesma linha, o presidente da Comissão de Economia da Alerj, deputado Bruno Boaretto (PL), elaborou emendas para ressalvar a indústria têxtil, sobretudo a de moda íntima de Nova Friburgo, na Região Serrana. “O projeto tem todo um teor polêmico. Entendemos a preocupação do Estado, mas precisamos buscar um bom senso, um bom caminho para conciliar o avanço econômico do estado, mas sem prejudicar as empresas fluminenses”, ressaltou.

Já um dos decanos da Casa, o deputado Luiz Paulo (PSD) demonstrou preocupação com uma possível perda do percentual de compensação de 10% ao FOT já garantido pela legislação em vigor e referendado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O parlamentar apresentou emendas técnicas e redacionais para preservar o montante atual destinado ao fundo. “Elaborei emendas para corrigir a redação enviada pelo governo. Ao elaborar o texto, o Executivo alterou o artigo que já garante os 10% ao fundo. Essa alteração do aumento de percentual tem que ser feita como um adendo, para preservar as regras do nosso FOT atual. A proposta com certeza será ajuizada na Justiça e, ao invés de aumentarmos a arrecadação, que é o objetivo, podemos perder, inclusive o que já temos”, explicou Luiz Paulo.

Em seu discurso, Luiz Paulo ainda recordou de ações postas em prática pelo Parlamento para aumentar a arrecadação do Estado, como, por exemplo, a Lei 10.253/23, de sua autoria, que aumentou a alíquota modal do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de 18% para 20%. “Hoje, esta lei coloca nos cofres do Estado, de ICMS, mais de R$ 4 bilhões ao ano, segundo dados de 2025”, pontuou o decano.

Por sua vez, o presidente da Comissão de Tributação, Controle da Arrecadação Estadual e de Fiscalização dos Tributos Estaduais, deputado Arthur Monteiro (União), afirmou que apresentará uma emenda cujo objetivo é possibilitar com que a Alerj possa acompanhar as contrapartidas fiscais oferecidas pelo Estado. "Essa emenda é para prestigiar a Assembleia, de modo que o Poder Legislativo possa fiscalizar", pontuou o parlamentar.