Prefeita de São João da Barra há pouco mais de 100 dias, Carla Caputi (sem partido) vê uma movimentação na Câmara para impor apenas 5% de remanejamento no orçamento. Em entrevista ao Folha no Ar, da Folha FM 98,3, nessa sexta-feira (22), lembrou que nenhum gestor teve esse percentual no município, mas acredita que o Legislativo usa da prerrogativa para não deixar a administração “confortável”. A solução, diz, é um “orçamento bem feito e com planejamento”. Questionada se acredita na interferência do deputado estadual Rodrigo Bacellar (PL), aliado do presidente da Câmara de SJB, Elísio Rodrigues (PL), na definição, como também teria ocorrido em Campos, relata não ter ciência, mas acredita que não deveria acontecer.
Eleita vice de Carla Machado (PT), que renunciou para pleitear uma vaga de deputada estadual, a atual prefeita nunca tinha disputado uma eleição. Porém, a filha do ex-vereador Carlos Maia, o Caputi, diz ter a política “enraizada no coração”. Ela não acredita que o resultado das urnas deste ano — que, além de Machado, tem mais dois políticos pré-candidatos a estadual de SJB, Bruno Dauaire (União) e Márcio Nogueira (Podemos), além do apoio de Elísio a Bacellar — possa refletir na disputa de 2024. Também não decidiu a quem apoiar na corrida ao Governo do Estado, mas na polarização entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), não esconde a preferência pelo petista. Deu nota 9,9 à gestão da antecessora. E afirma que sua marca nesse início de governo foram os resultados. Diz ser cedo para avaliação própria, mas acredita estar “beirando” uma nota para passar de ano: “E a minha média é alta. Tem que passar de ano pelo menos com uns 9”.
Vice-prefeita – Eu já participo há muito tempo da parte administrativa, embora não dentro da Prefeitura. Eu sou filha de ex-vereador, meu pai foi eleito por quatro mandatos, e a gente acompanha a política desde muito nova, na ajuda a campanha, na participação do grupo, das decisões, acompanhando toda aquela movimentação política. E, como todo sanjoanense, a gente tem a política enraizada no coração. E aí, (houve) essa grata surpresa de eu poder estar compondo a chapa de vice-prefeita com a ex-prefeita Carla Machado, o que, para mim, foi uma honra, porque a gente pode ter a oportunidade de andar junto: tanto a parte técnica, da qual participei em várias pastas importantes, como também da política, que está no coração e também acompanhei por muitos anos, há mais de 20 anos a gente acompanha.
Nomeada na Assistência Social como teste para 2024? – A pasta da assistência social é apaixonante. E eu tenho um perfil muito coração, como as pessoas que me conhecem costumam dizer. Eu me sinto muito bem em estar podendo ajudar o próximo, poder estar em contato. Eu gosto desse contato, embora às vezes, hoje em dia, a correria seja tão grande. Mas, a assistência social para mim sempre foi muito apaixonante. E a ex-prefeita Carla, sempre conversando com a gente, com todos, como um bom gestor, ela observa o perfil de cada um. E ela já havia me falado isso: “Carla, eu acho que você vai ser muito bacana, você tem perfil, você gosta, e eu estou pensando nisso”. E aí, óbvio que a gente é avaliado pelo nosso trabalho. Até então, a gente não tinha discutido essa saída para que ela fosse pré-candidata. Eu estaria na assistência social, sendo avaliada também de acordo com o meu desempenho, para, quem sabe, ser, sim, a candidata à sucessora da ex-prefeita Carla em 2024.
Renúncia de Carla Machado – Quando a Carla veio me falar, por eu ser uma pessoa que não tem essa ambição de cargo ou qualquer ascensão, eu falei: “Vamos pensar, vamos ver se é isso mesmo”, porque eu não queria influenciar na decisão da ex-prefeita Carla. É muito comum nesse meio político as pessoas quererem galgar sempre espaços maiores. E eu, naquele momento, não queria que influenciasse na decisão dela eu falar: “vai, vai, vai”, e ela se sentir pressionada. Eu queria que ela ficasse muito livre para escolher o melhor caminho. Acho muito natural e muito bacana essa disposição da Carla para que ela pudesse galgar espaços maiores. Prefeita por tanto tempo, quase quatro mandatos, fez sucessor, enfim, presidente da Câmara, vereadora... É tanto tempo. A gente espera algo a mais. E achei muito bacana, muito natural. Para a gente, que acompanha a política e que está muito perto, é uma satisfação enorme de quem sabe, se a candidatura dela for homologada, enfim, ela tiver sucesso, a região ganhar mais um representante de importância, uma representante, mulher, de importância.
Início do governo com R$ 260 milhões em caixa – Eu não acho que jogou o sarrafo em cima. Eu acho que ela falou a verdade. E quando a gente fala a verdade, a gente não merece castigo. É lógico que, principalmente a oposição, tenta de alguma forma deturpar aquilo que é falado. Ela simplesmente falou a verdade, não teria como mentir. Com toda a experiência que ela sempre teve, adquirida por longos anos, isso é inegável, ela conseguiu deixar esse recurso em caixa. Enfrentar uma pandemia, enfrentar a queda de receita, isso não é fácil, são coisas que desafiam a qualquer pessoa. E nada como alguém que tenha tanta experiência possa ter feito. Os R$ 260 milhões, é uma responsabilidade para mim. Mas, eu costumo dizer também: imagina se ela tivesse deixado sem dinheiro em caixa, quanto seria pior, não é? Para mim, é um presente nas minhas mãos, do qual eu tenho um desafio de poder estar atendendo aos anseios da população. É um período curto, mas tenho dinheiro em caixa. Pior se eu não tivesse. Muito feliz de poder estar contribuindo com o nosso município.
Pacote de obras – As obras, a gente ficou na expectativa de que fossem acontecer pelo Governo do Estado. Encaminhamos vários projetos, foram recebidos, tudo protocolado, estava sendo tudo avaliado lá. A gente achou que ia acontecer num período anterior, e acabou não acontecendo. Aconteceu essa movimentação toda, Carla renunciou, e eu assumi com esse desafio de colocar o que já era para acontecer com os nossos recursos. Ontem (quinta) eu estive no Açu. A gente anunciou lá, uns dias atrás, um pacote de obras. Ontem foi a primeira, fui lá assinar a ordem de serviço do campo de futebol. E aí, se cria aquela expectativa: “E Grussaí? E Atafona? E Cajueiro?”. Então, o que a gente pode acalmar a população é que, lógico, a gente vai estar fazendo em cada distrito, cada bairro.
Principais projetos – Não vou poder falar todos, porque tem alguns que a gente quer fazer uma surpresa. O que eu posso falar são os reparos. Além dos reparos do ginásio de esportes que, em breve, eu estarei anunciando, a gente tem a intenção de estar construindo um portal do município. Tem também a orla de São Pedro (na sede), que a gente vai entregar, se Deus quiser. Pavimentações de várias ruas. A gente tem um projeto bacana também para fazer lá no Parque de Exposições, que seria um complexo de esportes, com várias modalidades. No momento certo, vou estar anunciando as novas obras.
Destaques dos 100 primeiros dias de governo – São várias ações. A iluminação pública a gente pôde estar resolvendo. Colocamos LED, que é também uma inovação, começou trocando na sede, depois fomos para o Açu; vamos chegar a todo o município. A retomada do Circuito Junino, que gera muita renda para o nosso município. A gente conta, na área de segurança, com o núcleo de inteligência, uma central de várias câmeras, que monitoram o município para ajudar as investigações da Polícia Civil. Um projeto de segurança pública nas escolas, para estar falando aos alunos da nossa rede. O recapeamento de estradas, em um convênio com o DER, do Governo do Estado. Asfaltamento, pintura das faixas e sinalização da rua; retomada da obra da entrada da cidade. Ampliação da patrulha mecanizada. Parceria com a Marinha para a legalização de pequenas embarcações. Concessão de reajustes das horas extras da Guarda Municipal e o estudo de plano de cargos de salários. Equiparação dos salários dos professores ao piso nacional, com retroativo a janeiro. Também conseguimos com o pessoal dos agentes de saúde. Processo seletivo também para a educação. Pacote de obras do Açu, onde a gente vai estar fazendo um balneário, uma praça; drenar também as ruas. O Festival Julino, que vai acontecer nos dias 29, 30 e 31. Criação do canil. E a gente acaba fazendo um papel que nem era nosso, seria de outras esferas. Mas, a gente tem tanta preocupação que assume isso, como a questão da Patrulha Maria da Penha; estamos em andamento, foi aprovada; vai ser muito bom para ajudar essas mulheres que sofrem tanto ainda, infelizmente, com a violência, que não deveria estar acontecendo. Anunciamos, uma semana atrás, um projeto bacana no esporte: o Viva Esporte, que vai estar oferecendo várias modalidades, em vários lugares do município. Neste fim de semana tem o Arraiá do Polo Gastronômico. Qualificação em parceria com a Firjan, estamos com três turmas de alunos sanjoanenses. Tive agora, também, com o secretário de Estado, e a gente tinha a notícia, infelizmente, que aconteceu do fechamento do DPO de Sabonete, por falta de efetivo; também desativação do efetivo do DPO de Atafona; e logo que fiquei sabendo disso, falei: “Meu Deus! Não pode”. Apesar de o nosso município fazer o Proeis, que é a contratação do policial de folga pelo município, e essa é uma característica que já acontece há bastante tempo, a Carla (Machado) implementou; não é o suficiente. Não é dever do município, mas não por isso a gente vai deixar de fazer. Conseguimos com ele a liberação de mais policiais. A gente tinha um efetivo enorme, que hoje está menos da metade. É um problema que não só assola SJB, é geral. Mas, conseguimos com que ele nos desse uma solução. Já vai começar na semana que vem esse efetivo maior no nosso município. Enfim, são muitas ações.
Proposta da oposição na Câmara de impor 5% de remanejamento – Primeiro, vale destacar que, ao longo desses anos, eu pedi que o pessoal fizesse apuração lá, nunca houve esse valor de 5%, isso é uma novidade. Até mesmo na época do famoso G5 (grupo de oposição a Carla Machado no segundo mandato da ex-prefeita), o valor girava em torno de 25%. Mas, enquanto gestor que é, a gente tem se planejado bastante para que isso não afete a população, tentando fazer um orçamento bacana, um orçamento coerente, que não precise usar desses remanejamentos. A gente pediu 50%. Que não fossem 50%, poderiam ser 40%, 30%, 20% ou 25%, como foi o menor que a gente teve. A nossa solução é trabalho. Então, a gente quer trabalhar muito. E aí, a gente está se planejando. Não vamos ficar preocupados com isso, porque a gente não quer deixar a população, de forma alguma, preocupada. A gente quer trabalhar com planejamento, organização, responsavelmente, para entregar os serviços à população, que é o mais importante. Volto a ressaltar: a gente deveria sempre estar pensando na população, e não em qualquer outra coisa. Mas, o que você acha? – Eu acho 5%, se você falar dessa forma, realmente muito pouco. Mas, o que isso representa para mim como chefe do Executivo? Representa que eu tenho mais trabalho, muito mais trabalho em ter um orçamento bem feito e com planejamento. Isso vai me dar muito mais trabalho, mas não é algo impossível. Para quem sabe e entende o que são esses 5%, é complicado, porque não é muito comum. Eu sou uma pessoa que respeito muito todas as pessoas, os poderes, todos constituídos. Não sou aquela pessoa que gosta de ficar atacando, falando e tal. O que eu gosto é de fazer com que a população pense. Realmente, será por que esses 5%?“Ah, porque os vereadores entendem que isso é suficiente”. Mas, isso é bacana? Ou não? E quando se fala que faltou diálogo com o pessoal... Eu acho que isso não é uma questão de diálogo. Por que faltou o diálogo se é uma coisa muito natural, que beneficiaria a população?
Interferência de Rodrigo Bacellar no remanejamento? – Eu nunca conversei para saber disso, nem com o Elísio, nem com o deputado Rodrigo. Não tenho essa informação. Seria muito cruel da minha parte apontar para dizer que foi ele ou não. O que eu posso dizer, muito claramente, é que não deveria. Se isso aconteceu, não sei se sim ou se não, não deveria, porque, como eu disse, a gente tem que estar pensando no coletivo, independentemente de posição partidária. Me deixaria muito triste, e tenho certeza que ao meu povo sanjoanense, se isso aconteceu. A gente precisa estar pensando é no povo, independente de opção partidária.
Ausência no evento de apoio a Castro e preferência a governador – O fato de eu não ter ido lá no dia não quer dizer que eu não estou apoiando nem estou a favor. Eu estava em outra agenda, em outro município. Mas, eu estou sem partido. Então, isso não seria impedimento nem para não estar junto, nem para estar junto. Estou tão concentrada e focada em SJB que a gente ainda não tem pensado nisso. Eu sempre vou estar a favor do que é melhor para SJB.
Eleição de 2022 a deputado interfere no cenário para 2024? – Eu acho que é muito cedo para a gente avaliar 2024. Mas, eu acho que o que influencia mesmo é o trabalho da pessoa, o dia a dia, o cada um. Tenho muita confiança primeiro em Deus, porque se estou onde estou, tem as mãos de Deus por algum objetivo. Segundo, na população. A população sanjoanense não é boba. A população sanjoanense entende de política, a política está no nosso sangue. Então, acho que falar de um cenário em 2024 é muito cedo, porque ainda tem muito tempo pela frente. Por enquanto, a gente se atenta, no período correto, ao cenário de 2022, às eleições, para a gente ver o que for melhor. A população não é boba; a população sanjoanense sabe o que é melhor. Acho que é muito complicado e muito cedo falar que o resultado de agora vai influenciar em 2024.
Corrida presidencial – Posso falar que, pessoalmente, eu já teria o meu voto, mas é uma coisa muito particular. O que eu vejo é que a gente tem que estar junto de pessoas que possam estar entendendo a realidade do povo. Nesse cenário, eu me simpatizo mais por aqueles que possam estar contribuindo com a população de forma mais próxima, humana, incentivadora. E acho que, nesse cenário, a gente tem uns candidatos que têm um perfil mais para esse lado, e outro não. A gente está observando muita coisa difícil, os preços absurdos. Você vai ao supermercado, é uma coisa absurda. Não era assim. Lembro de que, tempos atrás, a gente tinha possibilidade de ter tantas coisas que hoje estão uma dificuldade enorme. Uma pessoa não consegue mais ter aquele poder de compra. Então, eu prefiro caminhar nessa linha.
Nessa linha? – O Lula.
Marcas do governo Carla Caputi, não somente vinculada a Carla Machado – É engraçado, porque, se a gente briga com a pessoa, a gente é ruim. Se a gente é amiga da pessoa, a gente é ruim também. É uma loucura isso. gente foi eleita, sim, no mesmo palanque. A Carla Machado era prefeita, e eu era vice. Então, quem votou em uma votou na outra. Mas, existe a Carla Machado e existe a Carla Caputi. Embora sejamos amigas, e eu tenho uma profunda admiração pelo trabalho da Carla; não só eu, como a maioria da população, visto que ela foi eleita quatro vezes prefeita, e isso é uma coisa que respalda qualquer tipo e comportamento ou de conduta... Embora haja essa admiração toda, essa amizade, sou uma pessoa diferente, tenho a minha personalidade. Vou contar um segredo para vocês: não é tão simples assim também. Eu tenho a personalidade bem, vamos dizer, ousada também. Sou uma pessoa que gosta muito de resultados; talvez porque eu venha do privado, e no privado a gente consegue os resultados com uma facilidade muito maior do que no público. Eu quero, e essa é minha determinação para mim mesma e para o meu grupo, que a gente tenha resultados. Eu quero entregar à população cada vez mais resultados. E quais seriam os resultados? Todos eles que a gente se propõe a fazer para qualidade e transformação de vida. Isso é o que eu estou me propondo a fazer junto com meu grupo. E resultados esses que venham dos clamores das pessoas, venham dos clamores da população, para que possa cada vez mais o nosso município estar crescendo e avançando. Eu digo que a minha marca nesses 100 dias foram os resultados, são muitas as ações para poucos 100 dias
Notas para os governos das Carlas, Machado e Caputi – Falar da gente é mais difícil, dos outros é mais fácil. Acho que um governo que foi campeão por tantas vezes tem um motivo. A gente dar a nota máxima é dizer que está tudo certo, que não precisa avançar. E aí, eu não dou nota máxima nem para mim. Mas, acho que a Carla Machado merece um 9,9 por toda a sua trajetória. Por que não 10? Porque eu acho que 10 a gente dá para o que é perfeito, que é Deus. Mas, a Carla, está mais do que provado, tem muitos acertos. Erros? Sim. Como eu tenho, como todas os humanos têm. E em relação a mim, é mais difícil a gente falar da gente mesmo, porque se a gente dá uma nota boa, vão dizer que a gente é pretensiosa; se a gente dá uma nota ruim, a gente não está sendo justa com a gente mesmo. Eu acho que eu ainda tenho muito para ser avaliada. Esses 100 dias já falam alguma coisa, mas ainda falta muito para ser avaliado. Estou beirando aí uma nota boa, para passar de ano. A minha média é alta. Tem que passar de ano pelo menos com uns 9.