domingo, 13 de novembro de 2016

Por onde anda o prefeito de São João da Barra?

(Foto: Ralph Braz | Pense Diferente)
Uma Prefeitura, seus secretários, muitos funcionários e uma dúvida: onde está o prefeito? A pouco mais de um mês para o fim do seu mandato, Neco (PMDB) não é encontrado no prédio da administração pública. Desde a campanha eleitoral já não era fácil encontrá-lo, mas depois da acachapante derrota nas urnas, quando recebeu apenas 27% dos votos válidos mesmo com a máquina na mão, o prefeito só foi visto uma vez na Prefeitura. Apesar de não ser comum, não seria nada de mais se o município passasse por um bom momento — mas não é o caso. Neste interregno, a Saúde passa por maus momentos, alunos chegaram a ser dispensados porque professores sem vale transporte não foram trabalhar, fornecedores tentam receber, entre tantos outros problemas. E o prefeito que não responde quando questionado, não inicia, sequer, a transição para a próxima gestão — a qual, ironicamente chama de “salvadora da pátria” nas redes sociais.

Enquanto Neco não se posiciona oficialmente, a prefeita eleita Carla Machado (PP) comenta que as notícias não oficiais acerca das dívidas do município — com prestadores de serviço, fornecedores, caixa previdenciário, direitos trabalhistas, concessionárias, entre outros — não são animadoras. “Além das dívidas, o município se encontra irregular junto ao órgão de Controle da União. Há comentário que, além da desordem administrativa, vamos receber o município com salários e 13º dos servidores sem pagar e um passivo que corresponde a 2/3 da provável arrecadação de 2017”, disparou Carla.

Para comentar sobre o 13º dos servidores, foi uma das poucas vezes que Neco falou, ao menos através das redes sociais. Quando começaram a circular boatos que a Prefeitura não teria recursos para quitar o compromisso, o prefeito tentou tranquilizar os trabalhadores: “Quero dizer para cada um de vocês que a 1ª (primeira) parcela do 13º (décimo terceiro) salário será depositada no mês de novembro”, escreveu. Sem precisar a data para o pagamento, a previsão é que seja quitado até o dia 30 de novembro, como previsto em lei, já que o dia, também, para o qual está programado o depósito do salário deste mês.

Se hoje muita gente questiona por onde o prefeito anda, existe uma classe que faz essa pergunta há muito tempo: os artistas. Músicos e atores da região que prestaram serviço ao município desde o início do ano cobram uma solução quanto à pendência de pagamentos. O cantor Dom Américo, em seu perfil nas redes sociais, é um que sempre faz cobrança sobre a “raspinha” que tem para receber por apresentações no Carnaval.

Uma certeza é que existem dívidas do município em diversas áreas. Na Saúde, a Santa Casa fechou as portas após esperar por mais de 14 meses que a administração municipal fizesse o repasse de um convênio firmado entre as instituições. Neste caso, segundo a provedoria da Santa Casa, a dívida é superior a R$ 4 milhões. Até o Centro de Emergência chegou a fechar por alguns momentos, em protesto dos trabalhadores que reclamavam devido aos salários atrasados. E, no apagar das luzes do governo Neco, a unidade ficou no escuro e sem gerador.

Denúncias e reclamações surgem todos os dias e há muito tempo. Mas tudo fica sem resposta. Afinal, ninguém sabe por onde o ainda prefeito da cidade anda.

Transição é adiada para o fim de novembro

Quem pensou que passadas as eleições o clima ficaria calmo em São João da Barra, com o início de uma transição técnica, focada apenas em questões administrativas, se enganou. Carla tentou dar celeridade ao processo e protocolou ofício na Prefeitura em 18 de outubro. Até hoje, porém, Neco não apresentou sua equipe para interagir com a da prefeita eleita.

Como a Folha mostrou na edição do último domingo, Carla afirmou que iria à Justiça caso não houvesse “boa vontade” do governo Neco em iniciar a transição. No decorrer da última semana, ela recebeu o ofício do Gabinete, datado de 7 de novembro. Segundo a prefeita eleita, o governo pediu mais dez dias para repassar as informações sobre a situação do município.

Durante toda sua gestão, Neco imputava os problemas à sua antecessora, dizendo que recebeu uma Prefeitura desorganizada e com arrecadação em queda, devido à crise nacional e diminuição do repasse de royalties. Reclamava também de não ter tido direito a uma transição de governo quando eleito. Agora, empurra para, no mínimo, o fim deste mês o início dos trabalhos entre as duas gestões.

Enquanto não aparece para dar explicações sobre o andamento do governo, deixou vazar por interlocutores um desejo para 2018: disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). É certo que para tentar o cargo tem muito que se recuperar, pois o resultado das urnas nesse ano deixou claro, acima de tudo, que existe uma alta reprovação ao seu governo.







Fonte: Folha da  Manhã