As vacinas contra a Covid-19 chegaram em velocidade recorde e mais estão a caminho. Menos de um ano desde que o coronavírus se espalhou pelo mundo, as primeiras doses aumentam a esperança de eliminar a pandemia. Os programas atuais nos Estados Unidos e no Reino Unido são precursores de campanhas de imunização destinadas a alcançar a população global de 8 bilhões.
Há motivos para otimismo. As vacinas são a melhor e, talvez, a única forma de eliminar doenças infecciosas: a varíola foi erradicada e a poliomielite está quase eliminada, pois a transmissão persiste em apenas dois países. Mas campanhas globais de vacinação levam tempo, geralmente décadas. Mesmo com as novas tecnologias, dinheiro e poder por trás do esforço global sem precedentes para eliminar a Covid-19, é improvável que a doença seja erradicada tão cedo.
“Ficaria surpreso em ver uma verdadeira erradicação desse vírus, agora que está presente no mundo inteiro”, disse Walter Orenstein, diretor associado do Emory Vaccine Center, em Atlanta, e ex-chefe do programa de imunização dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. “Ficaria chocado”, considerando o alto grau de contágio do coronavírus, afirmou.
Problemas de oferta e distribuição já surgiram nos primeiros dias da campanha nos EUA, e o Reino Unido, o primeiro país ocidental a começar a imunização, vacinou apenas 138 mil pessoas na primeira semana. Ao mesmo tempo, a Europa ainda não iniciou a vacinação.
Cresce a preocupação sobre quanto tempo levará para imunizar grandes áreas no planeta, além do um grupo de países ricos que abocanhou os suprimentos antecipadamente. O programa global Covax, que tem como objetivo distribuir vacinas Covid para vários países, fechou acordos com farmacêuticas como Johnson & Johnson e AstraZeneca. Mas alguns desses suprimentos incluem uma vacina experimental da Sanofi e GlaxoSmithKline, cujo desenvolvimento está atrasado e pode não estar pronta até o fim do próximo ano.
É muito, muito complicado garantir que essas vacinas sejam produzidas e distribuídas de forma equitativa em todo o mundo, tanto por razões morais quanto econômicas.
Mark Suzman, diretor-presidente da Fundação Bill & Melinda Gates
Suzman destacou uma pesquisa segundo a qual o amplo acesso às vacinas pode trazer benefícios econômicos significativos para todos os países e salvar muitas vidas. Como as nações ricas provavelmente terão doses mais do que suficientes para vacinar populações inteiras, deveriam considerar a realocação de alguns suprimentos para os mais necessitados, disse.
A vacinação em massa tem sido uma das intervenções de saúde pública de maior sucesso no mundo e desempenhou papel importante no aumento da expectativa de vida nos Estados Unidos em mais de 50% no último século. Cerca de 30% das mortes nos EUA em 1900 ocorreram entre crianças com menos de 5 anos, muitas delas de doenças como varíola, sarampo e coqueluche, que agora podem ser evitadas com a imunização.
Fonte: Exame