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O caso do bebê Théo Carvalho Azevedo, morto aos seis meses, no ano de 2016, após possível situação de negligência, imprudência e imperícia, teve mais um capítulo nesta semana, quando o médico pediatra Gelson Bento Sardinha foi denunciado pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPE-RJ) e responderá a uma acusação por homicídio culposo. A investigação foi feita pelo promotor Fabiano Rangel Moreira, da 1ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal de Campos. A reportagem tentou contato com os pais do bebê, mas não conseguiu retorno.
A morte – O bebê Théo morreu após cerca de 15 dias entre idas e vindas ao consultório particular do médico. Tudo começou quando os pais do pequeno, Sharlene da Silva Carvalho Azevedo e Valdinei Mendonça Azevedo, perceberam que ele apresentava febre alta e manchas no corpo e levaram a criança ao consultório particular do pediatra, que funciona na Clínica Paulo VI, no Centro de Campos. Durante a consulta, embora nenhum exame tenha sido realizado, o médico afirmou que Théo estava com Zika e receitou medicamentos para tratar a doença.
Dias depois, o bebê apresentou redução das manchas, porém desenvolveu quadro de pequenas complicações respiratórias. A bula do Fenergan indica que o medicamento pode causar depressão respiratória e que não é indicado para crianças menores de dois anos e, ainda assim, o remédio foi prescrito pelo médico e ministrado ao paciente durante dias. Segundo a denúncia do MPE, a administração do medicamento Fenergan pode ter sido responsável pelo agravamento no quadro do bebê.
Com a piora no quadro geral e dificuldades para respirar, foi somente na quarta vez que os pais levaram a criança no consultório particular que o médico Gelson Bento Sardinha decidiu interná-la no Hospital Plantadores de Cana, que fica na frente da clínica particular onde o médico presta atendimento até os dias atuais. Ainda segundo a denúncia, o local escolhido pelo médico para a internação não possuía requisitos necessários para o atendimento do bebê, como um respirador adequado à idade do paciente, por exemplo.
Além disso, o médico deveria permanecer no local e preencher detalhadamente a ficha de internação, o que também não foi feito. Enfermeiras que estavam de plantão no HPC perceberam a gravidade do quadro do paciente e solicitaram a presença do pediatra no local para que o bebê fosse transferido para um hospital com estrutura necessária para o caso, o que foi negado por ele. Somente após uma profissional da saúde ameaçar que chamaria a polícia por omissão, o médico aceitou ir ao local e acompanhar a transferência. Já no Hospital Ferreira Machado, para onde o bebê foi transferido, ele não resistiu e faleceu poucas horas após dar entrada.
Principais falhas – Dentre as falhas identificadas na denúncia do MPE, destaca-se o fato de a internação ter sido em um hospital incapaz de atender o caso, a não exigência de exames em caráter de urgência, a prescrição e administração de medicamentos inapropriados e omissão de socorro em uma das consultas na clínica particular.
Próximas etapas – Nesta semana foi iniciada a acusação pública contra o médico. As testemunhas ouvidas na denúncia serão reinquiridas e haverá também a juntada de laudos. Após esta etapa, chamada de instrução, ocorre o julgamento.
Respostas – Sobre o ocorrido, o Hospital Plantadores de Cana enviou a seguinte nota “Esclarecemos que o HPC prestou os primeiros atendimentos à criança e encaminhou para a unidade hospitalar que dispõe dos serviços. Informamos também que o Hospital Plantadores de Cana não tem e nunca teve uma unidade de tratamento intensivo pediátrica. Dispomos de UTI para Adultos e UTI neonatal UTINEO e unidade de tratamento intermediária (UI), além disso, o referido médico nunca pertenceu ao nosso quadro de profissionais”.
A reportagem do Terceira Via entrou em contato também com o Hospital Ferreira Machado, para onde a criança foi transferida e morreu. De acordo com a unidade, a criança deu entrada às 02:40 do dia 31/05/2016 e foi a óbito pouco tempo depois, às 05:30.” No livro de declaração de óbito do hospital, à época, constam, como causas da morte: choque séptico, pneumonia e broncoespasmo”, informou a assessoria.
Já o pediatra Gelson Bento Sardinha foi contactado pelo telefone da Clínica Paulo VI e também pelo celular dele, mas o médico não atendeu ou retornou as ligações até a publicação desta matéria. Caso o contato seja feito, as informações serão adicionadas.
Fonte: Terceira Via