quinta-feira, 12 de novembro de 2015

FAMÍLIA TEME QUE FILHO NÃO RESISTA SEM ASSISTÊNCIA DE HOME CARE EM CAMPOS


(Foto: Daniela Abreu | Ururau)
A rotina de famílias que tem filhos diagnosticados com microcefalia, uma malformação em que a criança tem o crânio pequeno, é parecida: buscar informações e procurar acompanhamento. Pessoas nascidas com tal patologia podem ter complicações motora, no desenvolvimento da fala e até quadros de infecções e convulsões, daí a necessidade de uma assistência multidisciplinar. É justamente por esse motivo que os pais do pequeno Marlon, de cinco anos, temem que o filho não resista à falta de assistência.

O menino está entre os 52 pacientes em tratamento da empresa “Nutrindo” SID – Serviço de Internação Domiciliar LDTA-ME, que presta serviços de Home Care (pequena, média e alta complexidade) para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) conveniados com a Prefeitura Campos e, que, estão a partir de hoje sem atendimento da empresa. A notícia foi dada aos familiares na manhã desta quinta-feira (12/11), em uma reunião na sede da empresa. 

A decisão veio após a médica e proprietária da “Nutrindo”, Sara Cruz, não ter mais como arcar, sozinha, com os custos do tratamento domiciliar dos pacientes, já que, segundo ela, a Prefeitura não vem repassando o dinheiro a empresa há um bom tempo. Dívida essa que chegou a ser exposta no final do ano passado e, que à época, estaria em mais de R$ 7 milhões. Na ocasião, a empresária chegou a ser detida por abandono de incapaz.

“Não posso acreditar que a vida de uma criança é menos valiosa do que a dívida que eles (Prefeitura) têm pra pagar. Não sei mais o que fazer. Estamos entregues a própria sorte”, lamentou a dona de casa Lívia Cristina Leandro da Silva, 33 anos, que além de Marlon tem outros três filhos. 

A família mora em uma casa na Rua das Violetas, quadra C, do Condomínio Recanto das Flores (antigo conjunto habitacional popular) no Novo Jockey. E foi lá que Lívia e o marido Marivaldo Pereira Gomes, de 36 anos, receberam o Site Ururau e contaram o drama que estão passando desde o momento que souberam da notícia suspendendo os serviços.

Segundo a mãe, Marlon nasceu prematuro de cinco meses e, por conta disso, teve sequelas encefálicas. Ele também é pneumopata crônico fazendo com que broncoaspire (quando a saliva engolida pelo paciente vai direto para os pulmões) todos os dias, problema esse, que o leva a ter constantes pneumonias. O pequeno tem limitações respiratórias e se alimenta por sonda. 

Daí a importância de uma assistência 24 horas e de acompanhamento com neurologista, pediatra, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, enfermeiros entre outros profissionais. Entretanto, com a suspensão do tratamento domiciliar, apenas os atendimentos básicos, com técnicos de enfermagem, foram mantidos pela empresa.

“Ele toma muitos remédios controlados e precisa desse acompanhamento. Até a pediatra foi suspensa e a gente não sabe o que vai fazer, porque ele é dependente desse trabalho em conjunto da família com a Home Care e sem os serviços da empresa não vamos conseguir funcionar sozinhos”, disse Lívia.

ORDEM JUDICIAL
Segundo Lívia, há três meses, a dona da “Nutrindo” já havia recebido da Justiça uma liminar lhe dando plenos direitos, de que, caso o Poder Público não pagasse o valor devido, ela poderia remanejar os 52 pacientes para os hospitais públicos da cidade. Entretanto, sabendo que muitos pacientes poderiam não aguentar tal remoção e os hospitais não teriam como suportar tanta demanda por carência de leitos nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), Sara tentou segurar até onde deu.

Lívia ainda contou que durante a audiência de quarta-feira (11/11), um representante da Prefeitura não teria reconhecido a dívida, tampouco não se posicionou em relação a quaisquer valores, além de ter negado a negociar. Diante disso, hoje, pela manhã, Sara reuniu os familiares dos assistidos para informar a suspensão dos serviços.

“A prefeita (Rosinha Garotinho) não teve coragem de ir ontem à audiência para dar um posicionamento a respeito da dívida que ela tem com a Home Care. Marlon tinha um exame para fazer amanhã. Esse procedimento seria um pré-operatório, pois na próxima quinta-feira (19/11) ele iria passar por uma cirurgia de urgência de traqueostomia, o que garantiria uma melhor qualidade de vida para ele e faria com que respirasse melhor sem broncoaspirar. Mas, agora com a suspensão dos serviços ele não vai poder fazer e a gente teme que ele não resista. Se ele se mantiver assim, nós poderemos perdê-lo a curto prazo”, informou a mãe apontando que o filho é frágil e não pode ser remanejado, pois ‘a cada internação é uma bactéria nova que ele pega’. 


MANIFESTAÇÃO, DEFENSORIA E COLETIVA
Após o protesto hoje (12/11) cedo em frente a sede da “Nutrindo”, os familiares se dirigiram ao Fórum Maria Teresa Gusmão de Andrade e buscaram auxílio junto a Defensoria Estadual. Às 15h desta sexta-feira (13/11), Sara Cruz dará uma coletiva à imprensa, no auditório da empresa, no intuito de esclarecer os últimos fatos relacionados à suspensão do atendimento domiciliar.






Fonte: Ururau