José Carlos do Patrocínio foi um afiado abolicionista que lutou fervorosamente para findar os mais de três séculos de escravidão negra no Brasil. Nasceu em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, em 9 de outubro de 1853, como tantas outras crianças na época, filhos de seu senhores com suas escravas. Morreu em 1905, pobre e abandonado, com um reconhecimento ínfimo, para quem “pelejou” arduamente no campo das idéias para conquistar a tão sonhada liberdade dos irmãos negros.
Senhor por parte de pai, escravo por parte de mãe, era filho de João Carlos Monteiro, vigário de grande fama da paróquia de Campos e de sua escrava conhecida como “tia” Justina, viveu sua infância e parte da adolescência na fazenda paterna. Do convívio com sua mãe e acompanhando a situação dos escravos da fazenda em que morava e dos castigos a estes infligidos foi incitado seu entusiasmo pela causa abolicionista, marcado por seu temperamento apaixonado e explosivo.
Em 1868, tendo recebido apenas a educação primária, foi para o Rio de Janeiro. Começou a trabalhar na Santa Casa de Misericórdia como servente. Voltou aos estudos no Externato de João Pedro de Aquino, fazendo os preparatórios do curso de Farmácia. Ingressou na Faculdade de Medicina como aluno de Farmácia, pagando por conta própria o curso, com o dinheiro que recebia lecionando primeiras letras e do auxílio pecuniário da Sociedade Beneficente, concluindo-o em 1874. Com uma carta de farmacêutico, que pouco lhe valia, ele novamente lecionou, conhecendo Maria Henriqueta Senna, a quem desposaria em 1879.
Em 1875, tenta o jornalismo, lançando em parceria com Dermeval da Fonseca um quinzenário satírico intitulado Os Ferrões, que durou apenas dez números. Em 1876, escreve um longo e ousado poema endereçado à princesa imperial, publicado no periódico ilustrado O Mequetrefe. Essa foi a chave que lhe abriu as portas para a Gazeta de Notícias, que foi fundado em 1876, por Ferreira de Araújo.
Deste modo, o trabalho tem por finalidade colaborar com os estudos a respeito de José Carlos do Patrocínio, um negro símbolo da campanha abolicionista, que era escritor, radical e critico, porém pouco reconhecido. Procura-se, aprofundar a pesquisa sobre os artigos redigidos pelo baluarte da abolição, investigando sua forma de pensar as questões que envolviam o fim da escravidão. Levando-se em consideração que esse redator era afrodescendente – em um período no qual poucos eram alfabetizados – que tinha poucos recursos, mas mesmo assim conseguiu chegar a jornais de grande influência, tendo comprado Gazeta da Tarde e posteriormente fundado Cidade do Rio.
(13 de Maio de 1888, Abolição da Escravatura) |
Em 13 de maio de 1888, às 3 horas da tarde, precisamente há 123 anos, a Lei Imperial n° 3.353, mais conhecida como Lei Áurea, foi sancionada pela Princesa Isabel, abolindo formalmente a escravatura no Brasil.
Cerca de 10 mil pessoas dos diferentes segmentos da sociedade se amontoaram ao redor do Paço Imperial no Rio de Janeiro, onde a Lei foi assinada, para acompanhar os acontecimentos.
Os artigos debatidos em seu jornal questionavam a problemática nacional, ao procurarem estabelecer uma relação entre política, economia e sociedade com a questão escravista. Diante dos embates envolvendo escravos na sociedade brasileira, a pesquisa quer investigar o papel desempenhado por José do Patrocínio como escritor na: Gazeta de Notícias, Gazeta da Tarde e Cidade do Rio que, como um espaço público, contribuíam para a circulação do posicionamento desse agente da comunidade negra.
Ao examinar a posição tomada por esse intelectual diante dos acontecimentos no Brasil da década de oitenta do século XIX, pretende-se compreender o que acorria no período da transição da Monarquia para a República referente à questão escravista no pensamento de José do Patrocínio com base nos artigos publicados nos jornais. Além disso, a extensão temporal desses artigos é de uma década levando-se em conta a junção dos três jornais (1880-1889). Almeja-se, portanto, compreender a figura de José do Patrocínio como escritor abolicionista, bem como seu envolvimento na luta contra a escravidão que carregava a Monarquia, assim como as discussões geradas a partir da assinatura da Lei Áurea que decretou o fim desse período e o começo da República, no auge das teorias raciais.