segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Entrevista: Prefeita Carla Machado, exceção à regra da crise

(Foto: Ralph Braz | Pense Diferente)
Ela é prefeita de São João da Barra pela terceira vez. Nas duas primeiras gestões consecutivas teve aprovação máxima da população e elegeu com grande margem de folga o seu sucessor. Depois voltou e deu um banho nas urnas. Gosta de se definir como “bicho da terra” e tem um olhar que ora é inquisitor, ora carinhoso. Carla Machado fecha o primeiro ano do seu terceiro mandato flainando, com uma aprovação popular tanto quanto as vezes anteriores. Acredita que com o Porto do Açu deslanchando, São João da Barra vai definitivamente entrar no mapa das principais cidades brasileiras com um grande desenvolvimento econômico.

Sua administração é uma das raras do país que pagou a primeira parcela do 13º salário no meio do ano e não tem dificuldades para pagar o restante agora em dezembro. Como foi acertar as finanças de SJB em um único semestre?
Pegamos uma administração com mais de R$ 240 milhões de dívidas e, graças à dedicação de minha equipe e a compreensão da população, estamos acertando as finanças do município. Priorizamos os salários dos servidores e os serviços básicos como Saúde e Educação. Ainda há muito a ser feito, reconstruído e pago. Mas posso dizer que houve conquistas, exemplos do 13º, do abono natalino concedido no dia 22 de dezembro, das dívidas quitadas com Fundo Próprio de Previdência, pagando cerca de 4,5 milhões e negociando em torno de R$ 21 milhões, e o pagamento também dos salários atrasados de 2016 (dezembro e segunda parcela do 13º) a efetivos, comissionados e contratados.

A Petrobras vai voltar a investir em Campos maduros na Bacia de Campos. Alguma expectativa de um real aumento no repasse dos royalties para 2018 no que diz respeito a SJB?
Este tema tem sido foco do Governo Federal, da Agência Nacional de Petróleo e da Petrobrás desde Junho deste ano. Mas nada está definido por enquanto, pois os mesmos querem diminuir o percentual de royalties pagos pela operadora em troca de investimentos. Sou a favor de mais investimentos, mais petróleo, mas com os royalties garantidos aos municípios e estados produtores. Em se tratando de aumento, isso depende de alguns fatores, como câmbio, preço de barril e produção. Nestes casos, nenhum apresenta valores em direção a aumento de repasses. Não vou me apegar, portando, ao pessimismo; com o trabalho realizado em 2017 para ajustar as finan- ças do município, temos esperanças de que, em 2018, esses recursos possam contribuir para que possamos investir nos setores prioritários e devolver à população programas sociais interrompidos em 2016.

São João da Barra é muito elogiada desde os seus dois primeiros mandatos porque nunca descuidou das chamadas receitas próprias. Esse trabalho continua e parece que está sendo aprimorado?
Desde que assumi meu primeiro mandato, o objetivo sempre foi buscar parcerias com governos estadual, federal e buscar aumentar todas as receitas possíveis para valorizar mais o funcionalismo, realizar obras e promover um governo voltado à população de São João da Barra. Ao mesmo tempo em que buscamos ampliar a arrecadação, procuramos proporcionar aos contribuintes formas de sanar seus compromissos com o município. Assim fizemos com o parcelamento do IPTU e com o Refis, com descontos de até 90% em juros e multas

O Porto do Açu é realmente hoje o maior pagador de Imposto Sobre Serviço de São João da Barra?
As empresas estabelecidas no Porto do Açu são, sim, as maiores contribuintes em ISS para o município, mas isso não é fato para que deixemos de fiscalizar e ampliar todas as demais receitas que compõem nosso orçamento. Não podemos e não vamos parar de buscar cada vez mais, isso se reverte em benefícios e serviços prestados à população.

A tendência é a receita de ISS com o Porto avançando ir aumentando gradativamente?
O Porto do Açu é um empreendimento privado, tem uma programação e novidades a cada dia, ou seja, podemos ter novas empresas no Porto do Açu a todo momento, não temos como prever isso. Mas é, sim, um caminho sem volta, é um “porto de oportunidades” e São João da Barra é a “capital portuária”. No momento, nenhum porto no Brasil, tem obtido o crescimento que o Porto do Açu tem conseguido. Com isso, esperamos que nosso ISS aumente.

Essa combinação de expectativa do aumento de royalties do petróleo com o ISS do Porto deixa realmente SJB em uma zona de conforto, diferenciada em relação aos outros municípios do Rio?
Nada disso! Não existe essa tal de “Zona de Conforto”. Não trabalho com expectativa, trabalho com o real, com o que estou recebendo hoje e sempre com um planejamento amplo e pensando a 5, 10 ou 20 anos à frente. Porém, ciente das nossas receitas e consciente de não gastar mais do que podemos pagar. Prova disso é o saldo de mais de R$ 89 milhões que deixei em 2012. Somente 20% dos municípios do Estado do RJ estão adimplentes junto ao Tesouro Nacional. Com muito esforço conseguimos resolver as pendências antigas de São João da Barra e HOJE o nosso município não mais está negativado no órgão de controle (Siconv /STN), o que propicia ao município pleitear novos programas junto ao governo federal.

A senhora sabe que uma siderúrgica vai começar a operar no Porto do Açu. Certamente vai alavancar ainda mais a potencialidade de arrecadação. Esse é um presente de Natal para o município?
Tomara que você esteja certo com relação à siderúrgica, mas, por enquanto, eu sei de uma termoelétrica que começa a construção agora em 2018 que, com certeza, será bem-vinda e irá ajudar e muito a alavancar nossas receitas. O grande presente é ver mais emprego para o povo de São João da Barra e a alegria na casa do sanjoanense. Esse é o grande presente para o município.

No curso deste ano a senhora fez muitas viagens a Brasília e algumas vezes acompanhada da prefeita de São Francisco. Parece que a senhora parte da premissa que para SJB crescer São Francisco tem que crescer junto? 
Nossas perspectivas de crescimento refletem de forma positiva nos municípios vizinhos. São Francisco de Itabapoana está bem próximo e, juntamente com a prefeita Francimara, cumprimos agendas no Rio de Janeiro e em Brasília para tratarmos de assuntos em comum. De forma particular, torço muito para o sucesso da prefeita e pelo progresso de seu município, onde tenho minhas origens e muitos amigos.

E a obra da ponte que parou? 
Como a senhora está cobrando o seu término? Infelizmente o Estado do Rio está em seu pior momento financeiro. Mas tenho um compromisso assumido do governador e acredito no cumprimento da sua palavra. Essa obra representa muito para o desenvolvimento e para a integração da região e é um sonho da população de São Francisco e de São João da Barra também pelos aspectos históricos envolvidos.

Na sua avaliação os municípios da Região estão unidos o suficiente ou precisaria de uma parceria ainda maior? 
Tem sido minha bandeira há muito tempo e hoje tenho um ótimo relacionamento com a prefeita Francimara, com Rafael Diniz, e os demais prefeitos da região. Vamos buscar um crescimento mútuo e ordenado. Os problemas que enfrentamos são os mesmos. Portanto, fica mais fácil achar a solução. Ao longo de minha trajetória, sempre busquei a união com os municípios vizinhos em prol de demandas em comum. Nesse meu retorno à prefeitura, abracei novamente causas regionais como repasse dos royalties, duplicação da BR-356 e, novamente, questões relacionadas à ponte. Mantenho um diálogo aberto e entendimentos com todos os prefeitos e lideranças regionais na busca do crescimento mútuo e ordenado. Os problemas que enfrentamos muitas vezes são os mesmos. Portanto, fica mais fácil achar a solução.

A aprovação do seu governo neste primeiro ano está batendo recordes. Poucos prefeitos conseguiram isso. O segredo é o carisma, as ações ou as duas coisas juntas? 
Em primeiro lugar as ações e o resultado das mesmas. Fui eleita com 73% dos votos válidos. Isso mostrou que uma parcela muito grande da população aprovou minhas administrações anteriores e continuou confiando no meu trabalho. E isso aumenta a nossa responsabilidade. São João da Barra viveu nos quatro anos, que me antecederam, um caos administrativo e, com minha experiência, me propus a enfrentar esse desafio e reconstruir o município. As mudanças aconteceram e só não enxerga quem não quer. Mas isso é só o começo, pois manteremos o foco e mais realizações virão.







Fonte: Terceira Via