(Foto: Carlos Grevi) |
Ex-secretária de saúde do município de São João da Barra onde, certamente, tinha problemas menores, a médica Fabiana Catalani está encarando na mesma secretaria, só que a de Campos – maior cidade do interior do Rio de Janeiro – um combo de problemas de vários níveis. Quem a conhece mais de perto garante que ela dá uma espécie de plantão 24 horas por dia para tentar solucioná-los. Não é uma tarefa fácil. A saúde em Campos é um paciente crônico e, aos poucos, a secretária tenta evitar que ela entre em uma espécie de fase terminal.
Muitas soluções ainda não foram percebidas pela maioria da população, mas Catalani está como gestora pavimentando um caminho melhor para a saúde do município. Discreta aos extremos, Fabiana Catalani, opta por falar apenas o necessário, talvez pela necessidade de ter que agir mais e falar menos.
A senhora era secretária de Saúde de São João da Barra antes de assumir a secretaria de Campos, muito mais problemática e que atende ao município onde fora titular da pasta entre outros. Campos tem condições de funcionar como polo regional médico?
Sim, Campos é polo da Região Norte e tem como compromisso atender municípios como Macaé, Carapebus, Conceição de Macabu, Quissamã, São João da Barra, São Francisco de Itabapoana e São Fidélis. Entretanto, a crise econômica que vem assolando não só o nosso Município, mas todo o país traz reflexo na arrecadação própria e no repasse de royalties, fazendo com que não consigamos atender a todas as necessidades dos Municípios que compõem o Polo da Região Norte e de outros das Regiões Noroeste e Lagos que também nos referenciaram para atendimento em diferentes serviços, inclusive de alta complexidade.
Neste primeiro ano a Saúde foi um dos pontos mais nervosos da administração do governo Rafael. Vai ficar mais tranquilo esse setor em 2018?
A Saúde sempre é um ponto nevrálgico de toda Gestão Pública e principalmente hoje com a insuficiência de recursos. Apesar disso conseguimos chegar ao final do ano com alguns avanços. A perspectiva é de que, em 2018, consigamos realizar o que projetamos dentro do Plano Municipal de Saúde (PMS) e Plano Plurianual (PPA), bem como continuar fortalecendo a Atenção Básica no intuito de melhorar a qualidade de vida dos nossos munícipes, diminuindo assim as necessidades de atendimento especializado hospitalar.
A Saúde consome uma expressiva parte do orçamento da Prefeitura. Rafael tenta recursos em Brasília para reforçar o caixa deste setor. Qual o gasto real da Saúde em Campos?
Temos como obrigação constitucional investir 15% das receitas de impostos líquidos e transferências municipais para a saúde. No entanto, para atender as demandas crescentes da população deste município na saúde, realizamos um investimento 4x maior que o exigido. Atualmente, são 63,34% conforme registrado no SIOPS. O orçamento real da saúde é bem maior do que foi fixado pela gestão anterior na qual herdamos dívidas em torno de R$ 750 milhões.
A questão dos remédios por ordem judicial com a penhora de recursos em bancos onde a Prefeitura tem contas. Isso tem sido um problema constante?
Atualmente, as demandas judiciais são uma dificuldade na administração pública. No início do ano enfrentamos muitos bloqueios, o que acabou refletindo na nossa disposição orçamentária e continuamos sofrendo bloqueios. Estamos trabalhando constantemente a fim de abastecer não só os hospitais, como todas as demais Unidades Básicas de Saúde. Ainda ocorrem bloqueios de alguns itens que não constam na listagem de medicamentos padronizados pelo Ministério da Saúde.
Como equacionar todos os problemas do Hospital Ferreira Machado?
O Hospital Ferreira Machado é uma das instituições hospitalares mais importantes de Campos e região. Desta forma, precisamos resgatar a estrutura física, recuperar equipamentos deteriorados ao longo dos anos e adquirir muitos outros materiais, bem como criar novos fluxos administrativos e investir na educação continuada das equipes em busca da melhoria na humanização dos atendimentos.
As unidades secundárias estão cumprindo o seu papel real?
Atualmente não, por isso estamos trabalhando na ampliação da Estratégia Saúde da Família com o aumento da cobertura no município e a implantação das Policlínicas de especialidade nas regiões prioritárias. Acreditamos que, desta forma, iremos desafogar as Unidades Pré Hospitalares (UPH), os Hospitais Contratualizados, Hospital Ferreira Machado e Hospital Geral de Guarus. Afinal, a mudança no perfil de saúde da população se faz através da prevenção.
O hospital Geral de Guarus está na pauta para uma grande virada?
Sim, entendemos que o HGG tem papel fundamental na transformação que almejamos para a saúde, o prefeito Rafael Diniz, como já foi noticiado, demonstra, desde o início da gestão, muita maturidade política ao buscar parcerias e novos recursos principalmente para o Hospital Geral de Guarus. Nossa equipe técnica vem buscando, em paralelo, investimentos e custeio para que possamos regatar o Hospital principalmente em sua estrutura física. Recentemente, o Município foi contemplado com uma Emenda Parlamentar através do Deputado Federal Paulo Feijó no valor de R$ 4.0000,00 (quatro milhões) para obras de recuperação do HGG.
O que a senhora pretendia e não conseguiu realizar no curso deste ano que termina?
Desde o período em que deveria ter ocorrido a transição e logo após nossa entrada, já tínhamos consciência das grandes dificuldades que enfrentaríamos na saúde. Porém, no transcorrer dos meses, identificamos que a situação era muito pior: abandono da atenção básica, sucateamento de muitos equipamentos, falta de manutenção inclusive de ar refrigerado, toda frota de veículos quebrados e sem conserto, desabastecimento de muitos materiais e medicamentos, orçamento insuficiente para arcar com todas as necessidades e muito mais. Estamos com o nosso planejamento em saúde com fortalecimento na atenção básica e alguns programas em andamento e, finalmente, concretizando a contratualização com os hospitais filantrópicos. Nem tudo foi finalizado em função da falta de recursos e da dívida enorme deixada pela gestão anterior.
Quando a senhora acha que os campistas vão começar a perceber que as coisas estão melhorando na Saúde?
Estamos trabalhando arduamente desde o início da Gestão para fazermos uma Saúde melhor aos nossos Munícipes, buscando parcerias e trabalhando com o objetivo de tornar o serviço não só humanizado e qualificado, como também eficiente nos serviços de Urgência e Emergência. Acreditamos que esta percepção se dará conforme a casa for ficando em ordem, com melhoria das estruturas físicas das unidades e o correto abastecimento de materiais e medicamentos.
Dizem que alguns programas estão formatados por sua equipe, mas que faltam recursos. Isso é fato?
Até o momento, minha equipe atuou na reestruturação dos programas especiais e Atenção Básica. Foi necessário realizar um levantamento para avaliar a estrutura física e equipamentos, além dos insumos necessários para o funcionamento destes. Afinal, foram criados ao longo dos anos programas não estabelecidos nas diretrizes do Ministério da Saúde e os definidos pelo Ministério da Saúde foram abandonados, deixados a própria sorte, como o Programa da Mulher e o Programa do Idoso.
Nos governos anteriores os secretários de Saúde de Campos estavam todos sob os holofotes, tanto que quase todos foram para a carreira política e pelo menos dois chegaram a prefeito, como Arnaldo Vianna e Mocaiber. A senhora tem feito justamente o contrário disso. Tem trabalhado discretamente. É o seu estilo ou um sinal de que a secretaria está despolitizada?
Historicamente os problemas da Saúde sempre foram muitos e com diferentes graus de complexidade e solução. O dia a dia difícil na Secretaria e infinitas responsabilidades junto aos órgãos de fiscalização me levaram a dedicar todo o meu tempo às demandas da Saúde do Município. A minha posição é de agente em políticas públicas de saúde, procurando sempre trabalhar com determinação e dedicação. A política que eu faço é a de saúde e esta é a que mais me atrai enquanto cidadã.
Fonte: Terceira Via