(Foto: Ralph Braz | Pense Diferente) |
Em reunião extraordinária realizada na noite da última terça-feira (3), na Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, com representantes do Sindicato dos Médicos de Campos (Simec) e do presidente da seccional campista do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), foi discutido os problemas da saúde pública municipal, visando prestação de esclarecimentos e providências para minimizar os agravos. Uma assembleia geral foi convocada para o próximo dia 17, quando será votada a possibilidade de greve.
— O problema da saúde vem se arrastando desde o governo passado, não é uma coisa atual. A gente tem conhecimento e compreensão de que o orçamento diminuiu pela metade. Temos conversado com o prefeito e a secretária. O que a gente luta é para mostrar aos gestores que estamos lidando com vidas. Essa é a minha grande angústia. O prefeito tem que criar um modelo de gerência e ver o que vai comprar, quais serviços vai ter. Tem que tentar se readequar a esse orçamento. Até concordo que algumas unidades talvez possam ser fechadas, isso é um modelo gerencial. Existem postos próximos. Mas, tudo tem que ser definido. A gente entende e concorda. Agora, não pode faltar material, medicamento e insumo para operar e tratar um paciente — disse o presidente do Simec, José Roberto Crespo.
Há mais de um mês os médicos haviam se reunido com o prefeito Rafael Diniz e a secretária de Saúde, Fabiana Catalani, para expor a situação. Documentos foram protocolados com demandas médicas que precisavam ser atendidas pelo risco de prejuízos à população e à qualidade do serviço. Entre as demandas, foi solicitado um relatório de gastos com a saúde, sem retorno. De acordo com os médicos, foi dado prazo de um mês para reposição de insumos e medicamentos, mas não houve nenhuma medida efetiva para mudança.
Em nota coletiva emitida pelos médicos, houve reclamação pela redução das equipes de plantonistas da UPH de Guarus, UPH da Saldanha Marinho e do Hospital São José; pela extinção do serviço de ortopedia para cirurgias eletivas, que realizava cerca de 200 cirurgias por mês; e pelo desmonte da rede de apoio dos hospitais contratualizados para ortopedia, com redução de 95% das transferências antes realizadas de pacientes ortopédicos oriundos do Hospital Ferreira Machado (HFM) para a Sociedade Portuguesa de Beneficência de Campos (SPBC), o Hospital Plantadores de Cana (HPC) e a Santa Casa.
Ainda segundo os médicos, o fechamento de várias unidades básicas de saúde e dos serviços médicos especializados dos hospitais contratualizados gerou superlotação nos hospitais de emergência, com sobrecarga das equipes e da estrutura dos hospitais. Apesar de apelos, não foi permitida a substituição do plantonista que tem direito a férias.
Outra reclamação é pela demissão coletiva dos médicos sob regime de RPA, motivada pelo atraso de dois meses nos vencimentos, além do corte de 60% nos salários e a incerteza dos próximos pagamentos. “Por causa dessas demissões, a UBS do Farol já não conta com cerca de 17 médicos “RPAs” e, como consequência, encontra-se sem atendimento médico em vários dias da semana”.
A Prefeitura alega que as dificuldades financeiras foram agravadas e informou “que vem mantendo diálogo permanente com hospitais contratualizados, a classe médica e servidores na tentativa de resolver a situação. O secretário da Transparência e Controle, Felipe Quintanilha, informa que a rede municipal possui mais de mil médicos em seu quadro permanente (concursados) e que, portanto, conta com médicos em várias unidades de saúde, que vem mantendo o atendimento aos munícipes. Providências estão sendo tomadas, porém, o município não está desassistido e não houve fechamento de unidade de saúde”. (M.B.)
Risco de paralisação em alguns setores
Em nova reunião com o prefeito, a secretária de Saúde, diretores clínicos e representantes dos médicos RPAs, na última segunda (2), também não foi dada solução para o pagamento dos salários. Médicos obstetras, pediatras e anestesistas da maternidade da SPBC protocolaram documento para paralisar atendimento a partir de novembro. Várias enfermarias de especialidades que funcionavam nos hospitais contratualizados foram fechadas.
— Vamos realizar a assembleia, fazer algumas ações para estimular o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Federal, a Defensoria Pública, para deixá-los cientes. Estamos preocupados. No município de Campos, 90% da população depende do Sistema Único de Saúde (SUS). Várias situações estão ocorrendo e, quando chega lá na ponta, não tem o remédio, não tem a prótese para o paciente. E quem está na frente é o doutor que atendeu, que vai ser cobrado pelo paciente e por seus parentes. Eles não querem saber se o prefeito não mandou o remédio, se está faltando remédio no hospital. Querem saber que eles mesmos ou parentes estão na cama do hospital e precisam ser atendidos. Há um desgaste grande — encerrou o presidente do Simec.
A nota da Prefeitura também explica o que agravou o quadro financeiro. “O município vem se esforçando para manter os pagamentos em dia, o que foi possível até o mês de julho. O secretário Quintanilha, informa que o repasse da Participação Especial dos royalties, referente ao mês de agosto, veio muito abaixo do valor previsto, por isso, foi necessário reavaliar o cronograma de pagamentos da prefeitura. Entre as readequações, estão o pagamento de 50% do valor do complemento feito pela prefeitura aos hospitais contratualizados, referente a agosto, e o pagamento dos contratados através do RPA, também, teve que ser parcelado. Os cargos comissionados (DAS) não receberam o pagamento referente ao mês de agosto. Os repasses federais dos hospitais contratualizados estão sendo feitos normalmente a estas unidades”.
Fonte: Folha da Manhã