Durante entrevista a jornalistas na Indonésia nesta sexta-feira (24), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o combate internacional ao tráfico de drogas deve considerar também o papel dos consumidores. Ao comentar as ações do governo de Donald Trump contra o tráfico na Venezuela, Lula declarou que “traficantes são vítimas de usuários também”.
“Toda vez que a gente fala de combater as drogas, possivelmente fosse mais fácil a gente combater os nossos viciados internamente, os usuários. Os usuários são responsáveis pelos traficantes, que são vítimas dos usuários também”, disse o presidente.
Lula argumentou que o mercado de drogas é sustentado pela demanda e que o enfrentamento ao problema não pode se restringir à repressão. “Ou seja, então você tem uma troca de gente que vende porque tem gente que compra. Tem gente que compra porque tem gente que vende. Então, é preciso que a gente tenha mais cuidado no combate à droga”, completou.
Crítica às ações militares de Trump na Venezuela
O presidente brasileiro também reagiu às recentes declarações de Donald Trump, que têm elevado as tensões no Caribe. O governo dos EUA vem reforçando operações navais e aéreas na região sob a justificativa de conter cartéis de drogas que operam a partir da Venezuela.
Nesta quinta-feira (23), Trump afirmou que pretende expandir as operações para uma ofensiva terrestre. “Eles continuam enviando drogas por terra. Muito menos, porque eles acham que algo grande vai acontecer, e eles estão certos. Algo muito sério vai acontecer. O equivalente ao que está acontecendo no mar”, declarou o republicano.
Na mesma fala, Trump foi além e disse que seu governo vai “apenas matar as pessoas que estão trazendo drogas para o nosso país”.
“É o mínimo que se espera de um chefe de Estado”
Lula reagiu duramente à declaração de Trump e criticou o tom de violência usado por ele. Para o presidente brasileiro, a execução de suspeitos sem julgamento contraria os princípios básicos do Estado de Direito.
“Você não fala que vai matar as pessoas. Você tem que prender as pessoas, julgar as pessoas, saber se a pessoa estava ou não traficando, e aí você pune as pessoas de acordo com a lei. É o mínimo que se espera de um chefe de Estado”, afirmou.
Segundo Lula, medidas como essa reforçam um discurso de guerra e não atacam as causas reais do narcotráfico, que envolvem desigualdade social, dependência química e falta de cooperação internacional.
As declarações de Lula ocorrem em meio à retomada do debate internacional sobre as estratégias de combate às drogas, tema que divide governos e organismos multilaterais.
Enquanto os Estados Unidos e parte da Europa defendem políticas de repressão mais severas, países da América Latina vêm reforçando o argumento de que a crise das drogas deve ser tratada também como questão de saúde pública.
O governo brasileiro tem defendido a integração de ações de segurança com programas sociais, prevenção e reabilitação, evitando a criminalização exclusiva de usuários.

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