(Foto: Paulo Pinheiro) |
O avanço do mar em Atafona volta a assustar. Desta vez, está sob ameaça a casa de Sônia Ferreira, local que se tornou referência no distrito sanjoanense há muitos anos e chegou a ser palco de grandes festas como o “Atafolia”. A água do mar já bate bem próximo ao muro da residência, que fica ao lado dos escombros do antigo prédio do Julinho, outro referencial do litoral de São João da Barra — derrubado pela revolta do oceano há 10 anos. Desde a década de 1950 já existiam movimentos por uma obra de contenção do avanço do mar em Atafona. A cobrança foi intensificada nos últimos anos, após o Instituto Nacional de Pesquisa Hidrográficas (INPH) atestar a viabilidade da contenção, mas nada de efetivo foi feito até o momento.
Sônia Ferreira já afirmou diversas vezes que não tem dúvidas que os escombros do prédio do Julinho acabaram se tornando uma forma de “proteção” da sua casa. Atualmente, ela faz suas orações de frente para o mar, mas quando construiu a casa, nos anos 1980, além do Julinho ainda tinha de passar por muitas ruas, entre elas a avenida Atlântica, até chegar à beira mar. Ontem, a Folha tentou contato com Sônia, por telefone, mas não obteve êxito.
A história é antiga. Em 17 de fevereiro de 1959, o extinto jornal campista “Folha do Povo” destacava na sua principal página que era necessário um “espigão para garantir a sobrevivência do Pontal, em Atafona”. A publicação destacava, ainda, que a medida foi “adotada no Recife e ainda recentemente em várias praias do Rio de Janeiro, com pleno êxito”. À época, o então deputado estadual Simão Mansur (1915-1978), sanjoanense do antigo sertão, demonstrou interesse e disse que lutaria pelo projeto. Agora, são outros políticos nesta saga. Enquanto nada sai do papel, o mar que já encobriu todo Pontal avança cada vez mais.
Em 2014 surgiu uma esperança: o INPH garantiu a viabilidade de um projeto para ser desenvolvido em Atafona. A prefeita Carla Machado (PP) chegou a apresentar o documento ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), mas, até o momento, não houve nenhuma resposta pública.
Movimentos populares cobram a atuação de todas as esferas de poder para que as intervenções sejam realizadas. “Já fizemos manifestações, políticos chegaram a vestir a camisa dos nossos movimentos, mas não estamos vendo nada de efetivo. A gente fica muito triste com isso, de ver parte da nossa história ser levada pelo mar ”, afirmou Marcela Santos, moradora da praia de Atafona.
(Foto: Ralph Braz / Arquivo pessoal) |
A Defesa Civil de São João da Barra informou que realiza diariamente o monitoramento da região em que o mar tem avançado. Já há alguns meses, as investidas do oceano são constantes na área entre a foz do Paraíba do Sul e os escombros do antigo prédio do Julinho. Segundo a Defesa Civil, “não existe previsão de ressaca até terça-feira, 18”.
A Prefeitura estima que o valor da obra seja de R$ 180 milhões, embora ainda não tenha sido licitada. E informa que o município não tem condições de realizá-la, mas “busca apoio junto às esferas estadual e federal, até mesmo pelo fato da costa brasileira ser de responsabilidade da União”.
Fonte: Folha da Manhã