(Foto: Ralph Braz | Pense Diferente) |
Campos dos Goytacazes ocupa a 12ª posição entre os 92 municípios do Estado do Rio de Janeiro em relação à renda média mensal per capita. Este dado foi revelado em uma ampla pesquisa nacional do economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcelo Neri, que mapeou o percurso da riqueza com base nos registros de declaração de Imposto de Renda Pessoa Física gerados pela Receita Federal e no número de habitantes de cada cidade. A conclusão é que a renda média mensal do campista é de R$ 1.095,96. Apesar disso, Campos pendula também no outro extremo, o da pobreza, com cerca de 45 mil famílias vivendo com até R$ 89 por pessoa. Os números escancaram a desigualdade social no maior município do interior do Estado do Rio de Janeiro.
Com base na mesma pesquisa da FGV, divulgada em junho, quando se leva em conta as quase 6 mil cidades do país, Campos cai para a 463ª colocação. As informações são do ano de 2018 – antes da pandemia do novo coronavírus – e estão oito anos à frente do último Censo realizado no Brasil. O estudo calculou os valores declarados no imposto divididos pelo número de habitantes de cada cidade.
“Neste aspecto, Campos está entre os 500 municípios do país com maior renda. São Paulo também figura neste grupo que representa 10% dos municípios e isso mostra que há riqueza na cidade de Campos e está concentrada em poucas pessoas”, afirmou Neri.
O estudo mostra que 13,72% da população campista declaram imposto de renda. Neste quesito, o município ocupa a 914ª posição no ranking nacional. Se fosse um estado, Campos estaria bem perto da média de riquezas do Espírito Santo, uma região promissora economicamente e que tem crescido nos últimos anos. “O fato de Campos se comparar aos estados de Minas Gerais e Espírito Santo faz o município pertencer ao que chamamos de Sudeste Maravilha”, diz Neri.
Segundo uma observação de Marcelo Neri, Campos não está entre as cidades mais ricas do Estado do Rio, mas está bem acima das cidades consideradas mais pobres. “A renda de um cidadão campista é cerca de quatro vezes maior que a renda de Japeri, que é a que tem menor renda no território fluminense. A renda média de Campos é três vezes maior que a da cidade vizinha de São Francisco de Itabapoana, por exemplo. Isso reflete a desigualdade social no estado, que ultrapassou a média nacional”, lamenta.
Ranking estadual
Em uma análise mais profunda, a renda média per capita de Campos contribuiu o suficiente para colocar o Estado do Rio de Janeiro na terceira posição do ranking nacional, abaixo apenas de Brasília e São Paulo. Porém, entre as cidades com maior renda, Campos aparece em 12º lugar. Niterói, Cidade do Rio, Macaé, Petrópolis, Resende, Teresópolis e Volta Redonda, encabeçam a lista.
A pesquisa revela informações até então desconhecidas, visto que o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) aconteceu em 2010.
“Os dados do Imposto de Renda Pessoa Física gerados pela Receita Federal do Brasil nos permitem captar a renda dos mais ricos brasileiros com mais propriedade que os dados de pesquisas domiciliares tradicionalmente usados em estudos sobre pobreza e desigualdade. Assim, podemos pensar os critérios para declaração do imposto de renda como uma espécie de linha de riqueza que permite identificar os residentes no país com maior poder de compra, seguindo as regras tributárias vigentes. Este tipo de análise também pode ser útil para captarmos novas fontes potenciais de financiamento das ações do Estado brasileiro, aí incluindo aquelas relacionadas à Educação, Saúde, Segurança e ao próprio alívio da pobreza”, explicou Neri.
Acesso restrito de famílias de baixa renda ao ensino superior é apontado como fator que aumenta a desigualdade social (Foto: Silvana Rust)
O outro lado: a pobreza
De acordo com a Prefeitura de Campos, atualmente 187.900 pessoas constam no Cadastro Único, referência para estudos e implantação de políticas públicas e sociais. Este número representa 37% da população.
Em agosto de 2020, estavam inscritas no CadÚnico 70.629 segundo dados da Secretaria do Desenvolvimento Social do Ministério da Cidadania. Sendo: mais de 45 mil famílias em situação de extrema pobreza, com renda de zero a R$ 89 por mês, o que representava 20% da população.
Já o número de famílias em situação de pobreza era de 3.637, além de 10.537 famílias em situação de baixa renda. A gerente da Vigilância Socioassistencial da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social, Fernanda Cordeiro, informou que o poder público entende que historicamente, pela própria formação, o município possui desigualdades sociais acirradas expressas na concentração de renda e um quantitativo expressivo de famílias em extrema pobreza.
“As crises econômica e sanitária nacional intensificam esse processo em todo o país. A Prefeitura monitora estes indicadores para o planejamento das ações. Especificamente pela Secretaria, os indicadores do Cadastro Único são gerados de forma contínua e produzidos diagnósticos socioterritoriais. Cabe mencionar que atualmente temos 187.900 pessoas referenciadas nessa base de dados, o que representa 37% da população estimada do município. Outras bases de dados e estudos também são acompanhados para subsídio ao planejamento de ações e fortalecimento da proteção social ofertada a essas famílias”, pontua a gerente.
Especialista
Para o economista Ranulfo Vidigal, que estuda o desenvolvimento do município de Campos há décadas, esta discrepância na renda da população não é novidade. Ele explica que a cidade reproduz semelhantemente os dados nacionais com relação à concentração de riqueza e da renda. Ele também mostra como se aplica a circulação do dinheiro e apresenta uma possível solução para o problema.
“Temos a renda urbana e a renda rural. A urbana vira aluguéis e a rural se transforma em rendimentos associados às produções canavieira e pecuária. Estes dois itens confirmam a tendência da concentração de renda em Campos. A discrepância entre ricos e pobres só se resolve em médio e longo prazos com a desconcentração das rendas urbana e rural e com um amplo programa de acesso à educação básica e ensino superior para todos”, conclui.
Vidigal detalhou que, embora Campos tenha 20 mil universitários, o acesso às famílias de baixa renda a este ensino é inexpressivo. “Quando as pessoas fazem o ensino superior e passam em concursos públicos, por exemplo, acabam indo para uma posição de renda mais alta do que a renda média praticada na cidade. O que vemos é uma desigualdade no acesso ao saber que qualifica e diferencia as rendas salariais”.
Segundo Ranulfo, na prática, o salário médio no setor privado de Campos, segundo dados do Ministério do Trabalho, é de R$ 2.100. Já o salário médio de quem ensino superior e passou em concurso público salta para até quase três vezes mais.
Entre as capitais
Segundo a pesquisa da FGV, a capital brasileira com a maior renda mensal por habitante é Florianópolis, com R$ 3.998, seguida por Porto Alegre e Vitória. Apenas depois vem São Paulo (4º), Curitiba (5º), Brasília (6º) e o Rio de Janeiro (7º). Quando é analisada cada uma das 27 unidades da Federação, o eixo Distrito Federal – São Paulo – Rio de Janeiro assume o topo do ranking, nesta ordem.
A renda média de Brasília é R$ 2.981, mas o cálculo inclui todos os habitantes, não só quem declara o Imposto de Renda. “Agora, calculando entre os que pagam o imposto de renda de pessoa física (IRPF), a renda pula para R$ 11.994. No Lago Sul, região nobre da cidade, a renda média vai a R$ 38.460, quando olhamos apenas os declarantes, e chega a R$ 23.020 quando analisamos a população total. Não tem nenhum município no Brasil que chega nesse patamar de renda”, diz Marcelo Neri, autor da pesquisa.
CINCO CIDADES MAIS RICAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Niterói – R$ 4 186,51
Rio de Janeiro – R$ 2 898,46
Macaé – R$ 1 584,43
Petrópolis – R$ 1 492,37
Teresópolis – R$ 1 431,36
CINCO CIDADES MAIS POBRES DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Japeri – R$ 259,93
Tanguá – R$ 292,57
São Francisco de Itabapoana – R$ 314,32
Sumidouro – R$ 321,31
Varre-Sai – R$ 353,22
RANKING DO NORTE FLUMINENSE
Macaé – R$ 1.584,43
Campos dos Goytacazes – R$ 1.095,96
São Fidélis – R$ 773,69
Conceição de Macabu – R$ 667,56
Quissamã – R$ 557,26
São João da Barra – R$ 541,76
Carapebus – R$ 464,36
Cardoso Moreira – R$ 442,95
São Francisco de Itabapoana – R$ 314,32
Fonte: FGV / Terceira Via