A megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, que deixou 121 mortos e se tornou a mais letal da história do país, provocou um salto na popularidade do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL). Segundo pesquisa Genial/Quaest divulgada neste sábado (2), a aprovação à sua gestão subiu de 43% em agosto para 53%, um aumento de dez pontos percentuais.
Apesar da alta expressiva, a desaprovação se manteve estável, oscilando de 41% para 40%. Já o grupo dos que não souberam avaliar ou preferiram não responder caiu de 16% para 7%. O levantamento ouviu 1.500 pessoas entre os dias 30 e 31 de outubro, em 40 municípios fluminenses, com margem de erro de três pontos percentuais e nível de confiança de 95%.
O crescimento foi mais acentuado entre os moradores da capital, onde a aprovação ao governo saltou de 32% para 47%. Na Baixada Fluminense, o índice chegou a 63%, consolidando a região como o principal reduto de apoio ao governador.
Efeito político e reação ao governo federal
O cientista político e diretor da Quaest, Felipe Nunes, avalia que a operação teve impacto direto na imagem de Castro e reforçou a percepção de que ele “enfrenta o problema da criminalidade”.
— Há uma postura positiva do governador, na visão das pessoas, de enfrentar o problema, tanto que Cláudio Castro passa a ser aprovado em quase todos os segmentos da sociedade — disse Nunes.
A análise é compartilhada por aliados do governador e pela cúpula do PL, que enxergam na operação uma vitrine política para 2026. Segundo dirigentes da legenda, a condução das ações na área de segurança pública fortaleceu o nome de Castro para uma eventual candidatura ao Senado e ampliou sua projeção nacional, sobretudo entre eleitores de direita.
O levantamento também revelou uma piora, ainda que dentro da margem de erro, na percepção sobre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A desaprovação ao governo federal passou de 62% para 64%, enquanto a aprovação caiu de 37% para 34%.
Segurança pública impulsiona imagem do governador
A melhora mais evidente na avaliação do governo estadual ocorreu justamente na área de segurança pública, epicentro da crise e da operação. O índice de fluminenses que consideram positiva a atuação de Castro nesse setor subiu de 22% em agosto para 39%. Já a avaliação negativa caiu de 45% para 34%, e os que classificam a gestão como regular passaram de 33% para 27%.
O cenário se inverte quando o foco é o governo federal. Para 60% dos entrevistados, a atuação de Lula na segurança pública é ruim ou péssima; 22% consideram regular e apenas 18% avaliam como boa ou ótima.
A diferença reforça a estratégia política do governador, que tem cobrado publicamente mais apoio da União no combate ao crime organizado.
Falta de cooperação e debate sobre a GLO
O discurso de Castro sobre a ausência de cooperação federal também aparece refletido na pesquisa. Para 53% dos entrevistados, o governo Lula “não tem ajudado” os estados no combate à violência. Outros 24% avaliam que há “pouca ajuda”, 14% acreditam que o apoio é efetivo e 9% não souberam responder.
Em meio à repercussão da operação, o governo federal tenta reagir com a tramitação do chamado “Projeto Antifacção”, que endurece as penas contra integrantes de organizações criminosas. A proposta foi enviada à Câmara dos Deputados três dias após a incursão policial nos morros do Rio.
Durante visita ao estado, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, negou que o governador tenha pedido uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e afirmou que Castro foi “enfático” ao dizer que não busca o uso das Forças Armadas.
O tema, porém, segue em debate entre a população. De acordo com a pesquisa, 59% dos fluminenses defendem que o governo Lula adote uma nova GLO, como a de 2018, enquanto 38% se posicionam contra e 3% não souberam responder.
Cenário pós-operação e capital político
A Genial/Quaest aponta que a operação, embora marcada por controvérsia e recorde de mortes, consolidou a imagem de Cláudio Castro como um gestor que “assume o enfrentamento” da criminalidade. O resultado reforça o protagonismo da segurança pública no debate político do Rio e a percepção de que o governo estadual saiu fortalecido após a ação.
Para analistas, o salto de dez pontos percentuais pode marcar uma virada na trajetória do governador, que vinha enfrentando índices de aprovação moderados e críticas à condução de políticas sociais e econômicas. A operação, embora questionada por organismos de direitos humanos, trouxe ganhos concretos à sua popularidade — especialmente entre eleitores da direita e da classe média urbana.