quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Pão e circo: prefeituras do Rio, Campos e SJB decretam ponto facultativo em função de jogo


O Brasil parece insistir em reafirmar a máxima do “pão e circo”. Não satisfeitos com a extensa lista de feriados nacionais, estaduais e municipais ao longo do ano, agora se desenha mais um possível recesso prolongado em razão do Natal e do Réveillon. Como se não bastasse, o prefeito e o governador do Rio de Janeiro decidiram decretar ponto facultativo em função do jogo do Flamengo no Mundial Intercontinental de Clubes.

A decisão, por si só, já soa absurda quando analisada sob a ótica da produtividade, da responsabilidade administrativa e do respeito ao dinheiro público. No entanto, o cenário se torna ainda mais preocupante quando prefeitos do interior do estado, como Macaé e Campos dos Goytacazes, resolvem seguir exatamente a mesma direção.


É difícil compreender qual o critério técnico ou econômico embasa essas decisões. Em um país que enfrenta desaceleração econômica, aumento do custo de vida, dificuldades para equilibrar contas públicas e um setor produtivo pressionado por cargas tributárias elevadas, interromper o funcionamento da máquina pública por conta de um evento esportivo passa uma mensagem clara: a prioridade não é o desenvolvimento, nem a eficiência da gestão pública.

O impacto não se limita aos servidores públicos. Cada dia de paralisação afeta diretamente o comércio, a prestação de serviços, a indústria e, principalmente, o cidadão que depende de atendimentos básicos, licenças, alvarás e serviços essenciais. Para o empreendedor, mais um dia parado significa menos faturamento, menos circulação de renda e mais dificuldade para manter o negócio de pé.


Quando gestores públicos tratam a exceção como regra, fica a sensação de que “as metas já foram batidas” — ou, pior, de que não há qualquer compromisso real com indicadores de desempenho, produtividade ou entrega de resultados à sociedade. Em cidades estratégicas como Macaé, polo da indústria de óleo e gás, e Campos dos Goytacazes, que busca retomar protagonismo econômico regional, decisões como essa vão na contramão de qualquer discurso de desenvolvimento.


Futebol é paixão nacional, identidade cultural e motivo de celebração. Mas a administração pública não pode se pautar pela emoção, pelo calendário esportivo ou pela busca de popularidade momentânea. Governar exige escolhas responsáveis, sobretudo em tempos de crise.




Texto: Rogério Parente | Manchete RJ