O mar voltou a avançar em Atafona, na foz do Rio Paraíba do Sul,em São João da Barra. Em uma semana, ele retomou 2,5 metros dos 6 que havia recuado ao longo de 2013. No Pontal, em frente às ruínas do prédio do Julinho, a faixa de areia que chegou a formar uma praia na alta temporada do ano passado encolheu. Na direção da rua do Meireles, um trailer foi interditado pela Defesa Civil Municipal. Ele está sobre uma parte do asfalto que está cedendo e, como a força das águas chega por baixo do barranco, corre o risco de desabar. Não há previsão para o fim do período de ressaca, mas a Defesa Civil afirma que o mar continuará avançando ainda nas próximas semanas.
Não há famílias em risco. Osimóveis que sofrem com a força das ondas e tendem a desaparecer, como os mais de 400 ao longo de cerca de meio século, quando começou o fenômeno, são casas de veranistas e não estão mais sendo ocupadas. O mar está revolto entre o Pontal e a rua da Caixa d´Água. Ao longo desta faixa de litoral, a Defesa Civil colocou manilhas e placas orientando sobre o risco de mergulhar na praia. Surfistas também costumam frequentar o local, que esconde sob as águas escombros e ferragens, tornando perigosa a prática do esporte.
— Nós estamos orientando com avisos e temos salva-vidas em toda a extensão da praia, que tem sido atingida pela ressaca. O mar continua avançando e escombros ficam na praia, escondidos pela água, podendo facilmente causar acidentes. Por isso nosso cuidado — informou o coordenador da Defesa Civil Municipal, Adriano Martins Assis.
O trailer na rua do Meireles, à beira da praia, está cercado com fita de alerta para isolar a área, colocada pela Defesa Civil e tem atraído a atenção de veranistas e moradores, principalmente a partir do início da tarde, quando a maré começa a subir. O proprietário, contam os populares, já retirou materiais do interior da estrutura.
Na praia há muitos escombros e mais uma árvore não resistiu e tombou pela raiz nesta ressaca.
Estudo - Técnicos do Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias (INPH) estudam o avanço do fenômeno do mar em Atafona desde o segundo semestre do ano passado. São os mesmos que realizaram estudos comprovando a viabilidade das obras que contiveram o mar em duas praias do Espírito Santo: Conceição da Barra e Marataízes. A conclusão, ainda sem prazo, vai definir se é possível realizar no local uma obra de engenharia oceanográfica. O pedido para a pesquisa do INPH foi feito pelo deputado estadual Roberto Henriques. Os técnicos atuam no município com apoio logístico da Prefeitura.
Mais de 400 imóveis foram destruídos
(Foto: Lia Teixeira Dias) |
O mar começou a avançar em Atafona no final dos anos 1960. O Pontal, região onde o rio Paraíba do Sul encontra o Oceano Atlântico, era um bairro inteiro com vocação turística. Foram mais de 400 imóveis, entre casas de pescadores, mansões de veranistas, restaurantes, frigoríficos de pescado, um posto de gasolina e uma capela levados pelo mar. Parte do manguezal, um dos mais importantes ecossistemas do Estado do Rio, que fica entre Atafona e Gargaú, hoje praia sanfranciscana, também se tornou acervo do fundo do Atlântico. A Ilha da Convivência, que pertencia ao município de São João da Barra antes da emancipação de São Francisco de Itabapoana, era mais distante do continente e possuía mais que o dobro do seu tamanho atual. Lá também foram destruídas casas e uma escola.
O fenômeno em Atafona, um dos mais velozes do litoral brasileiro, tem sido objeto de estudo de universidades ao longo dos últimos anos. Pesquisadores defendem que não é uma única ação, mas um conjunto, que fazem o mar avançar sobre o litoral. Entre elas está a ação do homem, com os desvios feitos ao longo da extensão do rio Paraíba do Sul. A natureza colabora com o vento nordeste.
Fonte: Folha da Manhã