A Comissão de Defesa do Meio Ambiente, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), discutiu nesta terça-feira (21/10) o futuro e o impacto financeiro das obras da Usina Nuclear Angra 3, em Angra dos Reis, que estão 60% concluídas. Segundo dados apresentados na audiência pública, o empreendimento inacabado gera um gasto anual de cerca de R$ 1 bilhão aos cofres públicos.
A construção da usina Angra 3, iniciada na década de 1980, está paralisada desde 2015 e ainda não há definição sobre sua conclusão. Segundo estudo do Tribunal de Contas da União (TCU) apresentado na audiência, se a obra continuar sem encaminhamento o custo total poderá superar em até R$ 43 bilhões o valor originalmente previsto (que foi de aproximadamente R$ 23 bilhões).
O presidente da Comissão, deputado Jorge Felippe Neto (Avante), destacou a importância da retomada das obras da usina para o desenvolvimento do estado. “Angra 3 é fundamental para o nosso sonho de autonomia energética, capaz de gerar 1.405 megawatts e abastecer mais de 4,5 milhões de pessoas. No entanto, há anos o governo federal vem adiando a conclusão do projeto, que já consumiu R$ 21 bilhões e ainda exige novos investimentos para ser finalizado”, afirmou.
Logo após, o deputado Marcelo Dino (União) chamou atenção para o potencial de geração de empregos com a retomada das obras. “Hoje, Angra 3 gera cerca de 400 empregos, mas, se a obra for retomada, esse número pode chegar a 3.500 funcionários. Terminar essa usina representa um avanço econômico não apenas para Angra dos Reis, mas para todo o Estado do Rio de Janeiro e para o Brasil”, pontuou.
Custo bilionário de obras paralisadas
O colegiado destacou também que a paralisação das obras da usina nuclear de Angra 3 continua gerando um alto custo aos cofres públicos. Segundo dados apresentados na reunião, a manutenção do empreendimento inacabado representa um gasto anual de cerca de R$ 1 bilhão para o Governo Federal - sendo aproximadamente R$ 800 milhões destinados ao pagamento de financiamentos e encargos, além de outros R$ 120 milhões aplicados na conservação dos equipamentos já instalados.
Flávia Azevedo, representante da Associação de Trabalhadores da Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A, criticou o desperdício financeiro com a paralisação de Angra 3 e destacou seu impacto econômico e social. “Angra 3 já tem 60% das obras civis concluídas e equipamentos adquiridos, mas o Brasil ainda gasta cerca de R$ 1 bilhão por ano apenas para manter o projeto parado, um valor que poderia ser usado para gerar empregos, renda e desenvolvimento para a Costa Verde”, pontuou.
A representante da Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep), Tatiane Oliveira, explicou o papel fundamental que a empresa desempenha ao fornecer equipamentos pesados para a construção da usina. “Vários equipamentos já estão prontos e guardados, esperando a retomada das obras. A Nuclep tem maquinários únicos no Brasil e na América Latina. Em 2014, entregamos o primeiro grande equipamento nuclear para a Usina de Angra 3”, afirmou.
Em seguida, a diretora da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Gabriela Borsatto, reforçou que é necessário retomar as obras, já que as usinas nucleares operam de forma quase contínua. “Acreditamos que uma das formas de resolver a questão energética é por meio da energia nuclear. A usina, uma vez concluída, terá o investimento amortecido em 20 anos e, depois desse tempo, a tarifa cai em até 75%. Outro ponto é o fator de capacidade: a energia nuclear hoje gera 90%, enquanto as renováveis ficam em torno de 40%. É uma energia firme e de base, disponível 24 horas”, disse Borsatto.
Também estiveram presentes na audiência os deputados Elton Cristo (PP) e Marina do MST (PT), além do prefeito de Rio Claro, Gustavo Ramos.