Superman – O Filme me acompanha há 40 anos. Eu sei que a obra-prima de Richard Donner faz aniversário em 15 de dezembro, data que chegou nos cinemas ianques. Sei também que o mundo pop celebrou os 80 anos da criação do Homem de Aço nos quadrinhos neste 2018 que se aproxima do fim. Para este escriba, porém, Superman será sempre o meu filme. Porque foi o primeiro filme que vi no cinema. Porque foi o pedaço de cultura pop que definiu todos os passos de minha vida profissional. Porque eu lembro, em detalhes, de uma tarde de domingo em fevereiro de 1979, sessão abarrotada, fãs entusiasmados, e eu ali tentando entender como as engrenagens desse mundo fantástico se moviam por trás das cortinas. Porque eu me convenci (junto com todo o planeta) que o homem podia voar. Nessas quatro décadas, Superman esteve sempre ao alcance da mão. Em seu lançamento em VHS. Na novidade do DVD (que foi capa de SET, revista que eu dir dirigi por uma década). No apuro do blue ray. Em sua versão original de cinema. Em sua versão estendida. Perdi a conta de quantas vezes assisti, sei os diálogos de cor. Faltava, porém, fechar o círculo.
O que aconteceu em uma manhã neste fim de novembro, quando voltei ao cinema para conferir Superman – O Filme, mais uma vez, em seu lugar de direito: uma tela de cinema. Foi uma sessão para a imprensa preparando a celebração que o Cinemark faz no próximo dia 4 (um dia só, procure o cinema da rede mais perto de você). Cópia restaurada (a versão original, sem os adendos posteriores), com som bombando e imagem tinindo. Impressionante como, 40 anos depois, o trabalho de Richard Donner continue tão original, tão plasticamente perfeito, estruturalmente brilhante. Isso porque Donner não queria fazer "uma aventura do Superman", mas sim um filme que apelasse para os aspectos míticos do personagem, aproveitando para dar uma geral em seus (então) quarenta anos de história. É uma fantasia épica, sem compromisso com o realismo, que mistura a estética de décadas diferentes (dos nostálgicos anos 40 até os então modernos anos 70) com soluções narrativas até ingênuas e a melhor perfumaria (trilha sonora, direção de fotografia, edição, efeitos especiais revolucionários) que o cinemão podia comprar.
Tudo funciona. E tudo faz sentido porque é o Superman. E a gente "compra" cada segundo da aventura porque Christopher Reeve é a escolha de elenco mais perfeita do cinema em todos os tempos. Ator de formação clássica, ele levou todtoda a técnica para emprestar realismo a um personagem completamente fantástico. Mas seu trabalho o humanizou, e seu Superman não se tornou um simples cartoon de carne e osso, mas uma construção complexa, a combinação do talento dde Reeve, do pulso da direção de Donner e do texto de Tom Mankiewicz (que ficou com crédito de "consultor criativo" depois de reescrever o texto original de Mario Puzo). Reeve foi a escolha perfeita para um elenco que já saia do grid com o peso de Marlon Brando e Gene Hackman – o melhor equilíbrio da Hollywood clássica com a novíssima geração que trocava o manto de "astros" por um modo mais cru e realista em compor seus personagens. E, claro, Margot Kidder como Lois Lane…. Foi o modo que os produtores, Alexander e Ilya Salkind, encontraram para dizer ao mundo que seu Superman – O Filme não era uma aventura para crianças (embora fosse perfeita para crianças) ou um produto superficial : era uma empreitada séria, encarada com um olhar maduro, cuidado estético e acabamento primoroso.
fonte: Blog do Sadovski / UOL