domingo, 2 de novembro de 2025

Desaprovação ao governo Lula no Rio sobe para 64% após megaoperação, aponta Quaest


A megaoperação policial nos complexos da Penha e do Alemão, que deixou 121 mortos e se tornou a mais letal da história do país, teve reflexos diretos na percepção dos fluminenses sobre o governo federal. De acordo com pesquisa Genial/Quaest divulgada neste sábado (2), a desaprovação à gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu para 64%, enquanto a aprovação caiu para 34%. Em agosto, os índices eram de 62% e 37%, respectivamente.

Embora a variação esteja dentro da margem de erro de três pontos percentuais, o levantamento indica um desgaste crescente da imagem do governo federal entre os eleitores do Rio, impulsionado pela crise na segurança pública e pela cobrança de maior participação da União nas ações contra o crime organizado.


O estudo, realizado entre os dias 30 e 31 de outubro, ouviu 1.500 pessoas em 40 municípios fluminenses e tem nível de confiança de 95%.

Percepção de omissão federal

O levantamento mostra que 53% dos entrevistados acreditam que o governo federal “não tem ajudado” os estados no combate à violência. Outros 24% enxergam “pouca ajuda”, 14% avaliam que há “colaboração efetiva” e 9% não souberam responder. O dado reforça o discurso do governador Cláudio Castro (PL), que vem criticando a ausência de apoio da União — especialmente após o governo federal negar o uso de blindados da Marinha durante a operação.

A avaliação negativa do governo Lula é ainda mais acentuada quando o foco é a segurança pública. Para 60% dos fluminenses, a atuação do Planalto na área é ruim ou péssima; 22% consideram regular, e apenas 18% classificam como boa ou ótima.


Castro capitaliza discurso de enfrentamento

Enquanto o governo federal enfrenta críticas, Cláudio Castro viu sua aprovação subir dez pontos após a operação, passando de 43% em agosto para 53%. O resultado confirma a leitura de analistas políticos de que a ofensiva policial serviu como vitrine para o governador, que vem reforçando a narrativa de “enfrentamento direto” às facções criminosas.

O cientista político e CEO da Quaest, Felipe Nunes, avalia que a operação, embora controversa, teve efeito político imediato.

— Há uma postura positiva do governador, na visão das pessoas, de enfrentar o problema, tanto que Cláudio Castro passa a ser aprovado em quase todos os segmentos da sociedade — disse Nunes.

Nos bastidores, o PL interpreta o aumento da popularidade de Castro como um sinal de força para 2026, quando o governador deve disputar uma vaga no Senado. O partido acredita que o tema da segurança pública continuará sendo o principal diferencial entre o discurso da direita e o da esquerda no estado.

Projeto Antifacção tenta reagir à crise

Em resposta ao desgaste e às cobranças por medidas concretas, o governo federal enviou à Câmara dos Deputados, na sexta-feira seguinte à operação, o chamado “Projeto Antifacção”, que endurece as penas para crimes ligados a organizações criminosas. O texto é uma tentativa de reposicionar o governo no debate sobre segurança pública e conter o avanço político de lideranças estaduais conservadoras.

Durante visita ao Rio na quinta-feira, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, buscou minimizar o atrito com o governador e afirmou que Castro foi “enfático” ao dizer que não pretende solicitar uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO). A medida, no entanto, é defendida pela maioria da população: 59% dos entrevistados disseram ser favoráveis à adoção de uma nova GLO, como a que ocorreu em 2018; 38% são contra, e 3% não souberam responder.

Clima de desconfiança e desafio político

Os resultados da pesquisa indicam que a segurança pública segue como ponto sensível para o governo federal no Rio, um dos maiores colégios eleitorais do país. O sentimento majoritário é de que o Estado perdeu o controle sobre a violência — percepção que, segundo os analistas, impacta diretamente a imagem do presidente.

Para Felipe Nunes, o quadro revela um desafio político para o Planalto. “A população reconhece que o Estado não está preparado, enquanto os criminosos são profissionais, organizados, têm estrutura. Isso mostra que o poder público perdeu vantagem e que a confiança no governo federal para reverter esse cenário é baixa”, afirmou.

Com o aumento da desaprovação e a cobrança por resultados práticos, o governo Lula tenta acelerar a tramitação do pacote de segurança no Congresso e reforçar o diálogo com os governadores. Ainda assim, a pesquisa aponta que, entre os fluminenses, a percepção de distanciamento entre Brasília e a realidade das comunidades permanece elevada.