Foram definidos os homenageados de 2020 do Prêmio Alberto Ribeiro Lamego, principal honraria do setor cultural em Campos, cuja entrega acontece sempre no ano seguinte. Se reunindo por meio de videoconferências, o Conselho Municipal de Cultura (Comcultura) escolheu para serem homenageados o jornalista, professor e advogado Fernando da Silveira, de 91 anos, e o músico Osvaldo Américo de Freitas, o Dom Américo (in memoriam), que completaria 70 anos nesta quinta-feira (18). Na cerimônia, ainda sem data marcada, também serão entregues os prêmios de 2019, destinados à empresária e professora Diva Abreu Barbosa, presidente do Grupo Folha de Comunicação, e ao ator Yve Carvalho (in memoriam). A entrega não aconteceu no último ano em razão da pandemia da Covid-19.
— Como é de praxe, os conselheiros que quiseram fizeram suas indicações para os dois homenageados de 2020. Depois, como presidente do conselho, conduzi a votação, e foram escolhidos o jornalista Fernando da Silveira e o cantor Dom Américo (in memoriam) — disse o presidente do Comcultura, Marcelo Sampaio. — Fiquei muito satisfeito com o fato de Fernando da Silveira receber esta homenagem vivo e lúcido como está. Acho importante demais um jornalista e professor tão merecedor como ele ser reconhecido ainda em vida. Por sua vez, Dom Américo, através do seu canto, conseguiu se tornar um dos maiores artistas não só de Campos, como da nossa região também. Por isso, nada mais justo do que ele receber a maior premiação cultural do nosso município — pontuou Marcelo.
Nascido em Campos, Fernando da Silveira saiu da cidade e foi para o Rio de Janeiro em 1949. Ele trabalhava no jornal Monitor Campista e passou a atuar em O Radical. Um ano depois, serviu ao Exército, e em 1951, foi para o Diário Carioca. Trabalhou também em O Popular e dirigiu a revista Beira-Mar. Na década de 1960, passou a adotar o pseudônimo João da Ega, misturando o célebre personagem do romance “Os Maias”, de Eça de Queiros, com outro do conto “O Homem que Falava Japonês”, de Lima Barreto. De volta a Campos, Fernando trabalhou em vários veículos de comunicação locais, como Folha da Manhã, A Notícia e A Cidade. No magistério, foi professor universitário até os 90 anos de idade, em 2019.
— Para mim, é algo que eu acho que nem mereço. Recebo esta homenagem com uma imensa alegria, não apenas pelo prêmio em si, mas também por levar o nome do grande Alberto Lamego, por quem eu tinha grande admiração e estima. Foi meu vizinho na rua Sete de Setembro. Eu muito garoto, e ele já homem feito. Era amigo do meu pai, Lourival Antão da Silveira. Então, receber esta homenagem é algo que me deixa muito feliz, especialmente num período em que não estou saindo de casa devido à pandemia. Tenho lutado contra a memória, e estou vencendo a batalha. Receber a notícia desta homenagem me causou grande alegria — festejou Fernando da Silveira.
O outro homenageado, Dom Américo, marcou seu nome no cenário cultural de Campos e região por meio da música. Influenciado por Cauby Peixoto e Agnaldo Timóteo, quando adolescente ainda não tinha noção de que as primeiras apresentações, em 1967, nos tempos de estudante da Escola Agrícola Estadual Antônio Sarlo, eram a porta de entrada para uma carreira com 53 anos de duração. Também conhecido como Osvaldão, ele ingressou no cenário profissional em 1969, como crooner do conjunto The Kings, de São João da Barra. Em meados da década seguinte, passou a integrar o Apollo 7, da cidade mineira de Tombos. Retornou a Campos em 1980, para a Banda Abertura, onde permaneceu por 16 anos, até montar a célebre banda Dom Américo e Seus Comparsas, dividindo palco, entre outros músicos, com seu filho mais velho, Apollo Ramidan. Dom Américo morreu em maio do ano passado, aos 69 anos, por falência múltipla dos órgãos.
— Mais essa homenagem ao meu pai chega para mim com muita satisfação. Sinto muito orgulho de tudo em prol do meu pai, em prol do que ele foi e continua sendo. Toda homenagem é muito bem-vinda — afirmou Apollo. — Fiquei todo bobo em saber que o professor e jornalista Fernando da Silveira também está sendo homenageado, porque é uma pessoa por quem meu pai tinha muita admiração. Então, fiquei feliz duas vezes. É uma felicidade dobrada. Tenho certeza de que meu pai, onde ele estiver, está muito orgulhoso por tudo o que estão fazendo por ele aqui de homenagens e lembranças. Tenho muita fé e muita crença de que isso tudo realmente vem dele; que ele está vivo no coração de todo mundo, está olhando por nós — comentou.
Após a morte de Dom Américo, ele passou a dar nome à plateia do Teatro Municipal Trianon, em Campos; à avenida da orla da praia do Farol de São Thomé; e a um trecho da BR 356, entre a Curva de Peneirinha e a chegada de Atafona, em São João da Barra.
Homenageados de 2019 — Idealizadora do Prêmio Alberto Lamego enquanto chefe do Departamento Municipal de Cultura, equivalente à atual Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), em 1987, a historiadora e empresária Diva Abreu Barbosa foi a escolhida para receber o prêmio em votação anterior, enquanto o Comcultura ainda era presidido por Cristina Lima, então presidente também da Fundação Cultural.
— Fiquei até emocionada. Meu tempo, hoje, não é tão dedicado a eventos, a estudos, à historiografia, à literatura... Um dia fui poeta, fui compositora. Mas, fico feliz por ter participado um pouco dos caminhos de efervescência da cultura de Campos. Todo mundo que é homenageado fica feliz — enfatizou Diva.
Já na categoria in memoriam, o Comcultura escolheu homenagear o ator e professor Yve Carvalho, que morreu em 2018, aos 54 anos, após mais de dois meses internado por conta de uma insuficiência renal.
— O Yve era intenso como ser humano e como ator. Levava isso para a cena. Ele amava o teatro. Desde muito cedo, se encantou pelo teatro. Essa foi a nossa identidade. Quando a gente se encontrou, ali começou toda uma irmandade, porque a gente sabia que existia um propósito nosso: a defesa por esse lugar que a gente não se importava em saber quanto tempo você estava ali trabalhando; era coisa mesmo de paixão, amor. O palco para ele era uma coisa importante — disse a atriz Lucia Talabi sobre o amigo em entrevista à Folha FM 98,3 no final de 2019. — As pessoas morrem. Mas, quando não morrem dentro da gente, para mim continuam vivendo. Muitas vezes vou falar do Yve como se estivesse do meu lado. E está. Ele está comigo — comentou Lúcia.
Fonte: Folha da Manhã