(Foto: Reprodução RJ TV) |
Arlete Maria da Rosa acordou cedo ontem para receber uma das cestas básicas distribuídas pelo Movimento Unificado dos Servidores Públicos (Muspe), que fez uma campanha de arrecadação de alimentos e produtos de higiene para ajudar o funcionalismo do estado. Às 7h, ela já estava numa longa fila em frente ao Sindicato dos Servidores da Justiça, na Travessa do Paço, no Centro, onde, desde quarta-feira, produtos vêm sendo entregues a quem, sem receber salário, não consegue mais ir a um supermercado. Moradora de Cabo Frio, na Região dos Lagos, Alerte percorreu, de carona, 120 quilômetros para pegar um saco com arroz, feijão, biscoito, macarrão, óleo, farinha, açúcar, café e leite. Será sua ceia de Natal.
— Está difícil. Natal é uma data importante. Todo mundo gosta de passar com a família, de fazer alguma coisa em casa. Mas não posso. Abro o armário e não tem nada. Abro a geladeira e também não tem. E não é só comida que falta. A gente, como todo mundo, paga luz, água, gás. As concessionárias não querem saber se deixei de receber. Cortam tudo e pronto. De coração, nunca pensei que fosse passar por isso — desabafou Arlete, que há 36 anos trabalha como auxiliar de enfermagem.
Após retirar seu contracheque da bolsa, a servidora apontou para o valor que esperava receber este mês: R$ 709,23. Na noite de quinta-feira, o estado anunciou que o salário de novembro começará a ser pago, em cinco parcelas, no dia 5 de janeiro. Ontem, o governador Luiz Fernando Pezão disse lamentar a situação do funcionalismo e voltou a criticar os arrestos nas contas do estado:
— Tenho consciência do que os servidores estão passando. Sei o que o atraso representa. Estou doído com isso. Os arrestos nos impossibilitam de fazer o gerenciamento do caixa e priorizar os pagamentos. É impossível fazer algum planejamento financeiro, tomar medidas necessárias, priorizar os pagamentos do funcionalismo, que sempre foi a nossa meta, sem gerenciamento do caixa.
CEIA DA MISÉRIA
Pela manhã, servidores fizeram um protesto em frente ao Palácio Guanabara, em Laranjeiras. O ato foi chamado de Ceia da Miséria. Após comerem pão e água, cerca de 500 manifestantes fizeram uma passeata: soprando apitos, batendo panelas e soltando fogos, eles pararam o trânsito na região. Também houve protesto diante da residência do governador, no Leblon.
Para o professor aposentado do estado Rubens Silva, a situação dos servidores é dramática.
— Sou professor, sofredor. Não tenho nada, sequer posso pagar um café. Este será o primeiro ano que não vou dar presentes de Natal — contou Rubens.
Fonte: G1