A Comissão de Defesa da Pessoa com Deficiência, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), realizou audiência pública nesta segunda-feira (22/09), no plenário da Casa, para discutir políticas públicas em prol das pessoas com deficiência, seus avanços e o que ainda precisa melhorar. O debate contou com a participação da primeira-dama do Estado, Analine Castro, e de mães atípicas de crianças PCDs e de pais de jovens autistas, como o caso do vereador Paulo Messina (PL).
“É um momento de reflexão, debate e fortalecimento de políticas públicas em defesa das pessoas com deficiência. Entendemos e enxergamos que há possibilidade de melhora na qualidade de vida dessas pessoas através de ações voltadas a elas, mas também a de seus familiares”, disse o deputado Fred Pacheco (PMN), presidente da Comissão.
Para o ex-parlamentar Otávio Leite, uma nação que honra todos aqueles que lutam por causas importantes merece ser exaltada. “A sociedade que quer ser inclusiva, precisa oferecer oportunidades, sobretudo para a população mais carente. Alimentar esta bandeira é um dever de todos nós e quero prosseguir contribuindo. Vejo que o futuro nos anima e é um amigo que conversamos e aceita nossos sonhos. Cabe a nós lutarmos para que , cada vez mais, os brasileiros com deficiência tenham dignidade”, pontuou.
Inclusão pela educação
O vereador Messina, pai de dois filhos gêmeos e autistas de 21 anos, comentou sobre os avanços nas legislações e tratamentos para pessoas com transtorno do espectro autista. “Há 20 anos, não tínhamos leis, clínicas e nem espaço para discussões sobre o autismo. Hoje também é um dia de dar graças ao que conquistamos. Não só de leis e de direitos, mas como nossos filhos avançaram. Vamos falar da luta e levantar o astral de quem guerreou tanto e teve conquistas. O maior desafio, agora, é que se cumpram as leis que já existem e saiam de fato do papel. Como pai, nada é mais eficaz na luta contra o preconceito do que uma inclusão escolar bem feita. É isso que mudará a sociedade no futuro. Meus filhos frequentam escolas regulares e mostram, diariamente, que ser diferente é normal”, contou.
O Superintendente da Subsecretaria de Políticas Inclusivas do Estado do Rio de Janeiro, Geraldo Nogueira, citou a educação, assim como Paulo Messina, como um pilar para a verdadeira inclusão. “ Vejo este momento como um marco de reafirmação da luta da pessoa com deficiência. Mas, também, de lembrarmos do que já conquistamos, como a Lei de Cotas. E ainda há muita coisa por fazer, como a falta de estrutura das escolas para acolher alunos com deficiência. Deveríamos ter um mediador e um cuidador. Assim, teríamos uma inclusão de verdade. Uma sociedade que não cuida bem dos idosos de pessoas com deficiência, não é uma sociedade evoluída”, ressaltou.
O também vereador Diego Faro (PL) lembrou que é na adversidade que a vida ganha mais sentido. “Quando falamos da pessoa com deficiência, falamos daquelas invisíveis, como as intelectuais e psicossociais, mas que impactam profundamente as suas vidas. Cabe a nós, representantes do povo, garantir que estas pessoas sejam ouvidas e respeitadas. A luta da pessoa com deficiência é por dignidade”, disse.
A primeira palestrante a falar foi Fernanda Fialho, mulher autista, mãe atípica e ativista da luta antimanicomial, que recebeu o diagnóstico tardio de autismo nível 2 de suporte. “Quando as pessoas falam sobre diagnóstico tardio, falam sobre se rotular. Eu era chamada de chorona e birrenta. Então, só com o diagnóstico pude entender por que eu sou desse jeito. Após a separação dos meus pais, minha saúde mental piorou muito. Então, passei minha adolescência e início da fase adulta em internações psiquiátricas. Perdi muitos eventos por conta da internação, como aniversários e natais, tomando diversos medicamentos. Durante a pandemia, engravidei e foi muito desafiador. A minha filha foi diagnosticada com autismo quando tinha 1 ano e 6 meses e, só assim, através das consultas dela, que descobri que também era autista, após anos de abusos e diagnósticos errados. Hoje, minha vida tem sorrisos. Acabei de publicar meu primeiro livro (As Histórias que meus pais não contaram). Luto por uma sociedade mais inclusiva, que reconheça nossas capacidades e respeite nossos limites”, desabafou.
A fundadora do Voz Atípica e mãe de uma criança cadeirante, Bruna Moreira, deu sequência às falas, contando que recebeu o diagnóstico do filho adotivo na pandemia e narrou os desafios que enfrenta no dia a dia. “Na pandemia, não sabia o que fazer com aquele diagnóstico, porque não me sentia capaz de suprir as necessidades que meu filho precisava. Quando falamos da pessoa com deficiência, temos que falar da transformação que toda a família passa. Essa luta precisa ser coletiva. Quando fui matricular meu filho, aos cinco anos, numa escola da rede privada, me informaram que não poderiam ficar com uma criança cadeirante. Assim, nasceu uma ativista. É cansativo demais brigar pelo básico, como acesso à educação, saúde e acessiblidade. Eu permito que meu filho viva, apesar de todas as dificuldades, mas penso todos os dias em como ele vai ficar quando eu não estiver mais aqui. A maternidade atípica trouxe muitas transformações na minha vida, como abandonar o mercado de trabalho. Sou 100% dependente financeiramente do meu parceiro. Meu filho recebe um benefício que não supre todas as suas necessidades. Estudo jornalismo e luto todos os dias para conseguir me formar. O projeto Voz Atípica se tornou nacional, sendo regido por uma equipe que acredita no poder da inclusão. Confio no trabalho da Comissão, porque quero mudança e transformação. Que meu filho cresça e possa ser o que ele quiser”, comentou emocionada.
A terceira palestrante foi feita pela influenciadora e mãe atípica Camila Porto, que tem um filho de seis anos com paralisia cerebral. “Quando recebi o diagnóstico dele pensei que iria passar a vida vegetando, numa cadeira de rodas. Mas fui atrás de informações e tratamentos. E decidi compartilhar com outras mães, através do meu instagram, o que vivia com o Luca”, relatou.
Frei Wellington, deficiente visual, fechou a rodada de palestras com uma fala que emocionou a todos sobre sua vivência e o seu trabalho de inclusão social que realiza na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Conceição de Macabu, no interior do Estado.