(Fotos: Ralph Braz | Pense Diferente) |
O avanço do mar em Atafona é responsável por mudanças drásticas. Desde a década de 1960, centenas de casas foram tragadas pela força das “águas douradas”, deixando apenas na memória, ou em escombros expostos, locais que foram referenciais. É o caso da primeira capelinha de Nossa Senhora dos Navegantes, o Recanto do Amor, as aventuras no Bar Esteirinha, o Bar do Espanhol, o Palafitas do Ronaldo, a Sirilândia, casarões, a cooperativa e a vila dos pescadores, entre outros. Todas essas construções já foram encobertas pela areia fina da praia ou já foram engolidas pelas águas revoltas. Foi esse também o destino do prédio do Julinho, a principal referência para quem partia para o antigo Pontal. O prédio sucumbiu em 2008, na tarde de um sábado, dia 5 de abril. Antes que o mar a derrube, mais uma construção referencial vai ao chão em Atafona: o reservatório de água que fica na esquina da avenida Atlântica com a João Batista de Almeida.
A força referencial da “caixa d’água” de Atafona é tamanha, que talvez muitos turistas, veranistas e moradores não saibam a localização da rua João Batista de Almeida, senão como “rua da caixa d’água”. Segundo a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), “o reservatório está desativado e deve ser demolido”. A Cedae, no entanto, não confirmou prazo para demolição.
Mediante aos comentários nas redes sociais sobre o risco de desabamento da construção, o coordenador da Defesa Civil de São João da Barra, Felício Valiengo, informou que a Cedae já tinha sido “notificada do risco e das medidas a serem adotadas”.
Jornalista, membro da Academia Campista de Letras e pesquisador da história de Atafona, João Noronha já publicou dois livros sobre Atafona — “Uma dama chamada Atafona” (2003) e “Atafona: sua história, sua gente” (2008) — está com o terceiro, “Atafona: o moinho do pescador”, pronto desde 2010, aguardando incentivo para publicação. Ele comentou sobre a construção do primeiro reservatório e a necessidade da atual, que será demolido:
— O campista governador (1966-1967) do Estado do Rio de Janeiro, Teotônio Ferreira de Araújo (1918-1978), implementou o sistema de saneamento e água encanada até o antigo pontal. Com o aumento populacional de Atafona, a primeira caixa d’água não estava dando vazão para a demanda. Foi então que no final dos anos 1980, início dos anos 1990, foi construída a segunda caixa d’água, essa que está comprometida hoje. A estrutura dela é de concreto e com cisternas que funcionam como reservatório abaixo dela.
Mesmo com o reservatório desativado, a companhia informa que atende a cerca de 3,1 mil residências em Atafona, totalizando mais de 12 mil pessoas. “Esta população é flutuante e aumenta bastante nos períodos de férias e feriados prolongados”, informou.
Intervenções — A caixa d’água, quando for demolida, não será a primeira construção a ser derrubada antes de o mar chegar. Por intervenção da Defesa Civil, a casa do jornalista, já falecido, Hervé Salgado — que ficou conhecida como a “casa inclinada” e atraia turistas que se arriscavam para fotos — foi demolida no dia 11 de setembro de 2015. No mesmo dia, foi derrubado o prédio do Atafona Praia Clube. O terreno vazio de hoje representa mais uma parte da história de Atafona, que perde dia após dia a briga com o mar. Um projeto apresentado pela Prefeitura para conter o avanço do mar no litoral sanjoanense, continua engavetado.
Estudos realizados em 2013 pelo Instituto Nacional de Pesquisa Hidroviárias (INPH)apontam que seria possível alargar a faixa litorânea de Atafona — desde a foz do Paraíba até as imediações do Balneário. Contudo, seria necessário recursos de outras esferas governamentais ou da iniciativa privada. A previsão é que a obra seja orçada entre R$ 140 e 180 milhões.
Fonte: Folha da Manhã