quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Museu Imperial: Nova Exposição “Fale-me de Pedro – Nas Minúcias da Memória”


O Museu Imperial e a SAMI – Sociedade de Amigos do Museu Imperial abrem ao público, a partir de 3 de dezembro, a exposição “Fale-me de Pedro – nas minúcias da memória”

Com inauguração oficial no dia 2 de dezembro de 2025, em cerimônia restrita a convidados, a mostra integra o calendário de comemorações pelos 200 anos de nascimento de Dom Pedro de Alcântara, posteriormente Dom Pedro II, e reúne objetos e documentos inéditos para reconstituir a trajetória do imperador a partir das múltiplas camadas da memória.

A exposição apresenta momentos da vida Dom Pedro de Alcântara, da infância à morte, incluindo a construção de sua imagem nos “lugares de memória” contextualizados na cidade de Petrópolis, em diálogo com debates sobre a (re)construção da memória em seus variados aspectos. Reúne mais de 100 peças pertencentes ao acervo do Museu Imperial, selecionadas nas áreas de guarda do Arquivo Histórico, Biblioteca, Museologia e Casa Geyer. Entre os destaques estão exemplares de diários e documentos relativos às viagens de Dom Pedro II pelo Brasil e pelo mundo — reconhecidos pela Unesco como patrimônio documental da humanidade, incluindo as cadernetas restauradas neste ano e apresentadas pela primeira vez ao público. Além das cadernetas, peças restauradas integram o conjunto expostos: a camisola de bebê em cambraia de linho que pertenceu a Dom Pedro II e o quadro Cascata do Itamarati, de Edoardo De Martino.

A exibição também reúne outros destaques: desenhos produzidos pelo monarca em diferentes fases da vida, estudos de tradução, volumes de sua biblioteca particular e cartas trocadas com seu pai.

“Fale-me de Pedro – nas minúcias da memória” tem projeto curatorial assinado pela historiadora e especialista em Dom Pedro II, Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, com curadoria conjunta de Flávia Maria Franchini Ribeiro, coordenadora do Setor de Educação do Museu Imperial. A produção é realizada por Claudio Partes na criação e cenografia/expografia e Josiana Oliveiras e Silvana Coelho na produção executiva.


Palavra do Diretor


De qual Pedro me dizes?

Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga foi um homem com muitos nomes, todos eivados de inúmeros significados. E, ao celebrarmos o bicentenário do nascimento deste carioca que governou o Brasil durante 48 anos, talvez, nos lembremos menos do imperador e mais do personagem multifacetado, verdadeiro mito em camadas, como a sucessão de nomes que recebeu.

A exposição “Fale-me de Pedro: nas minúcias da memória” é um convite à sugestiva indagação proposta por Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas e Flávia Maria Franchini Ribeiro, pesquisadoras que aceitaram o desafio de curadoriar a mostra. Mas, de qual Pedro elas dizem? Certamente, um Pedro menos formal e mais diverso, aquele cujas homenagens a santos, arcanjos e antepassados familiares ilustres contidos nos seus nomes próprios não foram suficientes para dizer quem ele foi. Um Pedro cuja função pública por ele herdada não conseguiu ocupar por completo seus interesses e vocações. E, para além disso, um Pedro com desejos e vontades não realizadas.



A palavra ‘minúcias’, sugerida pelas curadoras, pode ser o caminho para o exercício que ora iniciamos. Desvendar os detalhes da tessitura da memória construída e, também, da que lhe foi imputada, para melhor compreender a trajetória de uma vida e os significados a ela atribuídos e, assim, redescobrir este homem cuja existência terrena não conseguiu aprisionar as dimensões que ela mesma logrou tecer ao longo dos últimos duzentos anos.

E, ao final, convidamos você para responder à pergunta: De qual Pedro me dizes?



Palavra das Curadoras

Fale-me de Pedro: nas minúcias da memória

No “espaço biográfico” de D. Pedro de Alcântara, formado pelas escritas de si, pelas narrativas dos biógrafos, pelo conhecimento histórico produzido nos e pelos “lugares de memória”, como os erigidos na cidade de Petrópolis, houve a contação de uma história única, que apenas recentemente tem sido confrontada.

Esta exposição reconhece a trajetória de D. Pedro II como incontornável para a compreensão do mundo social no Brasil e como um microcosmo das transformações que marcaram a passagem para a modernidade, mas não se contenta somente em reproduzir retratos há muito tempo cristalizados. Assim, buscou contemplar os diversos momentos e as múltiplas formas de tratamento da figura de D. Pedro II: no período de sua vida, nas escritas autorreferenciais; no processo de reabilitação da sua memória, no contexto republicano; na abordagem nos arquivos, nos periódicos, nas biografias e nos textos acadêmicos.


As minúcias da memória são fundamentais para que a composição desses variados discursos seja esquadrinhada. São o fio para as reflexões sobre os diálogos que o presente estabelece com o passado e para a compreensão de como as disputas de narrativa em torno de D. Pedro II condicionaram a sua memória e a do período imperial.

A trajetória de D. Pedro II – contada a partir das minúcias da memória – revela complexidades e inflexões. Reitera que a vida não é uma linha reta, que há várias pessoas em uma, impulsionadas por desejos, ambições e, muitas vezes, obrigações. As memórias embasaram a leitura do que a cercou e foram, elas mesmas, influenciadas pelo espaço social e pelo tempo presente. Dessa contradição, permanece um legado, herança trabalhada na perpetuação (ou silenciamento) de uma imagem, a partir do que as pessoas pensaram – ou do que se pretendia que elas pensassem.


Quando falamos de D. Pedro de Alcântara, o que nos vem em mente? Certamente, poucos saberão a quem estamos nos referindo, se não o tratarmos pelo título que o tornou conhecido: D. Pedro II. No caso, o sujeito por trás do estadista, que governou por 48 anos, estaria esmaecido. Um homem com suas histórias de infância, paixões, hobbies, conflitos e sofrimentos. Tudo isso misturado ao governante, forçado a passar os últimos dias de sua vida distante da terra onde nasceu e amou.

Observar as batalhas pela memória, especificamente em Petrópolis, é um recorte. Se aqui D. Pedro II foi visto como uma personagem essencial e a imagem do cidadão, mais do que a do monarca, sobressaiu em meio à paisagem do centro da cidade – como se D. Pedro de Alcântara estivesse a observar as múltiplas apropriações que as gerações seguintes fariam em torno da sua figura –, atualmente, as ressignificações dessa memória apontam horizontes de expectativas mais inclusivos para o futuro.


Na exposição, que conta exclusivamente com itens do acervo do Museu Imperial, poderá ser vista uma diversidade de objetos e documentos, com destaque para aqueles que pertenceram a D. Pedro II, ou foram produzidos por ele, como a camisola que usou quando bebê, os livros em que deixou anotações e as cadernetas, nas quais registrou as suas viagens, incluindo a do exílio, pela primeira vez expostas para o grande público. Esses diários, como outros documentos relativos às viagens do imperador, que também compõem a mostra, são nominados no Programa Internacional Memória do Mundo da UNESCO, reconhecimento equivalente ao título de Patrimônio da Humanidade. São memórias que pertencem à coletividade.

No bicentenário de nascimento de D. Pedro de Alcântara, convidamos os visitantes a uma jornada pela sua trajetória, conduzida pelas minúcias da memória, na qual, no final das contas, restará a pergunta: que memória persiste, quando falamos de Pedro? “Fale-me de Pedro nas minúcias da memória”!


A exposição “Fale-me de Pedro – nas minúcias da memória” estará disponível na Sala de Exposições Temporárias do Museu Imperial, com visitação de terça a domingo, das 10h às 18h. O agendamento para grupos escolares pode ser feito pelos telefones (24) 98142-0030 e (61) 3521-4455, de segunda a sexta, das 8h às 18h.