Após menos de dois meses de negociação, o grupo Carrefour fechou sua segunda maior aquisição no país, com a compra anunciada ontem de 30 lojas do atacadista Makro, localizadas fora do Estado de São Paulo. Foram pagos R$ 1,95 bilhão, valor equivalente a quase 70% do faturamento dessas lojas em 2019. Foram adquiridas 22 unidades próprias e oito alugadas em 16 Estados (com transferência do contrato de locação) e 14 postos de combustível em 17 Estados.
O Carrefour já é líder do setor com a rede Atacadão e, com o acordo, amplia sua posição num segmento em expressiva expansão - o atacarejo cresce três a quatro vezes mais do que o varejo alimentar. A transação, somada à expansão com novas lojas, representa uma aceleração de um ano e meio do plano de crescimento do Carrefour, levando o grupo a se distanciar mais do principal rival, o Assaí, do Grupo Pão de Açúcar.
Um plano de reformulação das 30 lojas deve ser adotado para que elas voltem a operar com lucro.
A transação amplia a força do Atacadão especialmente no Rio de Janeiro e no Nordeste - metade das 30 lojas compradas está nessas regiões. No total, são 165 mil metros quadrados de área de vendas, ou 5,5 mil metros quadrados por loja, em média.
Os pontos do Makro serão transformados em Atacadão no prazo de um ano após conclusão do negócio, que depende do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O grupo Makro continuará a operar 24 lojas no Estado de São Paulo, com vendas anuais de R$ 3,5 bilhões.
Com as novas lojas, o grupo Carrefour atingirá venda bruta anual de quase R$ 65 bilhões no Brasil e o braço de atacado passa a faturar R$ 45 bilhões - o vice-líder Assaí vendeu R$ 30 bilhões em 2019. O Atacadão soma as 30 unidades às suas 187 lojas, e atinge 217 pontos no país. O Assaí tem 170.
O Carrefour não informa a origem dos recursos para a compra - em setembro, tinha em caixa R$ 697 milhões, 58% a menos que um ano antes, e a dívida bruta era de R$ 6 bilhões, segundo balanço publicado na B3.
Em nota, o CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, disse que se trata do maior negócio no país desde a aquisição do Atacadão, em 2007, por R$ 2,2 bilhões. Será preciso, porém, recuperar o desempenho das lojas compradas.
O Makro no Brasil perdia receita nos últimos anos e a operação vendida fechou no vermelho em 2019. Foi o Carrefour que procurou os holandeses no ano passado, com a proposta de negociar parte das lojas. Os holandeses já cogitavam se desfazer dos ativos.
O Valor informou na semana passada que o Makro considerava a venda de 100% das lojas por R$ 5 bilhões, mas o Carrefour não concordava com o preço. As conversas se concentraram, então, nas 30 lojas, diziam duas fontes do setor.
O Makro negou a intenção de se desfazer de todas as unidades. “[Vender uma fatia] era algo que já vínhamos considerando. Com a crise após 2014, os clientes profissionais [bares, hotéis, etc] sentiram o baque, e nós passamos a focar mais no ‘atacarejo’. Até houve um efeito dessa decisão, mas somos um negócio com muitas lojas, muito espalhado pelo país, e sentimos essa crise. Optamos agora por manter a operação em São Paulo, onde somos lucrativos”, disse Roger Laughlin, presidente interino do Makro no país. No ano passado o Makro faturou cerca de R$ 6,3 bilhões, 7% abaixo de 2018, mas em São Paulo
Perguntado sobre os números no Brasil, o executivo diz que, em 2019, o prejuízo foi “um pouco abaixo” da perda de R$ 115 milhões de 2017 (ano do último balanço publicado). O Carrefour teve lucro de R$ 377 milhões em 2019, até setembro, com uma queda de 63% sobre 2018. No comunicado de ontem, o Carrefour diz que “baseado no modelo do Atacadão, o grupo espera que as vendas aumentem em mais de 60% [nas 30 lojas do Makro] e que a estrutura de custos seja otimizada, possibilitando o alcance gradual de níveis de rentabilidade similares aos existentes nas lojas atuais”.
“O Carrefour pagou 70% do faturamento das lojas. Custou mais que abrir cada loja do ‘zero’, mas está bem pago. [O Carrefour] leva a loja pronta, que hoje custa não menos que R$ 50 milhões, e são pontos bem localizados e de baixa canibalização. Em um ou dois anos, ganhando na escala, ele ‘vira’ o resultado das lojas”, diz Manoel Antônio de Araujo, sócio da consultoria Martinez de Araujo.
A negociação ocorreu exclusivamente com o Carrefour, sem outros interessados. A conversa se deu entre as matrizes dos grupos na França e na Holanda, sem a assessoria de bancos.
No Brasil, o Makro diz que mesmo ficando com um negócio menor, não irá vendê-lo “fatiado”. Os recursos da venda ao Carrefour deverão ser aplicados no país em dois a três anos. Os planos são de ampliar a operação de multicanalidade, reforçando os canais de ‘delivery’, como o “Makro Food Service”, braço de venda on-line para empresas e entregas programadas. O Makro também estuda abrir um modelo menor de loja em São Paulo, com dois mil metros quadrados, já em operação na Colômbia.
Após a conclusão do negócio, o Makro deve buscar um CEO no país. Laughlin continuará a presidir a América Latina.
Está prevista a abertura de mais um centro de distribuição no Estado de São Paulo, para itens perecíveis - a rede tem outros dois centros na região. As centrais de armazenagem nos outros Estados (Recife e Curitiba) não foram adquiridas pelo Carrefour e devem ser fechadas.
O supermercado Makro, que inaugurou em Campos o sistema de venda no atacado, vai virar Atacadão Carrefour. Essa coluna apurou que a bandeira do Carrefour deverá ter visibilidade neste empreendimento, ao contrário do Atacadão da BR-101 em Guarus, que pertence também a rede, mas não existe referência. O Atacadão de Guarus continuará operando normalmente.
Essa coluna apurou que a rede Carrefour comprou diversas lojas da Rede Makro no país, inclusive a de Campos, por R$ 1,95 bilhão. Ao todo, são 30 lojas compradas, 22 são de imóveis próprios, e oito alugados. Também foram adquiridos 14 postos de combustíveis operados pela Makro.
Essas lojas serão integradas à rede Atacadão, de atacarejo, lojas que vendem por atacado e varejo.
A loja Makro decidiu fechar as portas, essa semana, depois de ser pressionado pelo Decreto Municipal que restringe o funcionamento do comércio para evitar a propagação de Covid-19. O supermercado não estaria cumprindo as exigências e deve reabrir somente com a nova marca.