quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

FALTA DE MEDICAMENTOS PARA TRANSPLANTADOS E PACIENTES GRAVES EM CAMPOS

(Foto: Ralph Braz)
Ubirajara Kelly, de 62 anos, é transplantado renal crônico há sete anos. Ana Maria Itagyba, de 67 anos, sofre de hepatite autoimune. Os dois têm duas coisas em comum: eles precisam ingerir o medicamento Azatioprina 50 mg diariamente e não encontram na Secretaria Municipal de Saúde. Esse remédio é fornecido pelo Governo do Estado e encaminhado ao município onde, em tese, deveria ser distribuído aos pacientes que abriram processo no Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, este mês, Ubirajara, Ana Maria e outros tantos pacientes que dependem do medicamento ficaram de fora da distribuição. E a culpa é de quem?

Sem o medicamento, o organismo de Ubirajara pode rejeitar o órgão transplantado. Já Ana Maria pode precisar fazer um transplante de fígado se não tomar dois comprimidos do mesmo medicamento por dia. Segundo Ubirajara e Ana Maria, o remédio não é vendido nas farmácias de Campos. No Rio de Janeiro, ele pode custar de R$ 120 a R$ 450. Caso o paciente procure uma farmácia de manipulação, o valor cai para R$ 80, mas é ainda alto para quem precisa despender esse dinheiro mensalmente.

Ana Maria contou à equipe de reportagem  que, para ter direito ao medicamento, ela precisou entrar com um processo no SUS e, a cada três meses, também precisa atualizar a receita médica. De acordo com ela, sem passar por esses procedimentos, o paciente não consegue o remédio. “As caixas do medicamento chegam ao município com destino específico. Não acredito que o Governo do Estado, conhecendo a gravidade desses pacientes, tenha deixado de fornecer o remédio. Nada tira da minha cabeça que as nossas caixas estão sendo distribuídas de forma clandestina a pacientes que não estão incluídos na listagem do estado. Isso precisa ser investigado, porque se a gente entrou com o processo no SUS, é porque a gente precisa desse medicamento para sobreviver”, explicou.

Ubirajara lembrou que o medicamento é fornecido pelo Governo do Estado, mas caso não haja o fornecimento, consta na Constituição Federal que o município deve substituir o estado na obrigação de fornecer o medicamento. “Se não o fazem, é porque ignoram propositadamente a gravidade da situação, negligência para com o munícipe e total despreparo para lidar com a saúde. O SUS gasta milhares de reais para pagar um transplante de rim, para que, no final das contas, a falta de medição anti-rejeição possa vir a detoná-lo com prejuízos ao paciente e também à sociedade que pagou pelo transplante por meio dos impostos”, disse.

Na tarde de quarta-feira (17), Ana Maria procurou a Secretaria Municipal de Saúde onde foi informada que o Governo do Estado não havia fornecido o medicamento este mês. Indignada, ela ligou para a ouvidoria da Secretaria de Estado de Saúde que informou ser necessário aguardar cerca de quinze dias para averiguar a situação e encaminhar outras caixas do remédio. “Ou seja, vou ficar duas semanas sem o remédio que preciso tomar duas vezes ao dia. Todo mês é a mesma coisa: venho no dia marcado e depois pedem para eu voltar dias depois porque o remédio não chegou, mas, como se já não tivesse ruim o bastante, esse mês a situação piorou. Não posso ficar quinze dias sem o medicamento. Esse é meu direito e não abro mão!”, afirmou.

Ubirajara disse estar indignado. “Para festas e shows nunca falta dinheiro, mas para a saúde de quem precisa, isso é outra coisa...”, concluiu.

Nota da Secretaria de Estado de Saúde

"A Secretaria de Estado de Saúde informa que o processo de compra do medicamento Azatioprina 50mg foi finalizado em 28/11/14. As estimativas de compra são feitas para cobrir 12 meses e um possível aumento de demanda de até 30%. O empenho já foi emitido e a previsão de reabastecimento do medicamento na cidade de Campos é ainda este mês". 

A equipe do jornal Terceira Via também entrou em contato com a Assessoria de Imprensa da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Campos, que ficou de enviar uma nota a respeito do assunto.






Fonte: Terceira Via