(Foto: Ralph Braz | Pense Diferente) |
A artista plástica campista Anna Braga está com a exposição “Memória Submersa” no Museu Nacional da República, em Brasília, Distrito Federal. O trabalho lança um olhar poético e melancólico sobre a destruição provocada pelas sucessivas ressacas do mar em Atafona, balneário de São João da Barra. A abertura da exposição aconteceu na terça-feira (14) e o público pode visitar as obras de Braga até o próximo dia 9 de abril, entre terças-feiras e domingos, das 9h às 18h30. A entrada é franca.
— “Memória Submersa” é um título que remete ao fato de que você vive aquilo que não está vendo, que existe entre o visível e o invisível. Quando eu pisei em Atafona novamente, e minha visão me mostrava que tudo o que eu tinha vivido não estava mais ali, eu falei: “Não está visualmente, mas, de uma maneira ou de outra, está dentro de mim e de todos que conviveram e andaram por esses lugares”. A obra toda está calcada em uma situação imersa. Atafona foi muito importante na minha infância, e é uma memória viva — disse Anna.
A artista plástica conta que a ideia da exposição surgiu após observar a notícia na televisão sobre o que estava acontecendo no segundo distrito de São João da Barra.
— Quando cheguei a Brasília e vi no jornal como estava a situação de Atafona, não acreditei que aquilo estava acontecendo numa cidade que adotei como referência da minha infância e adolescência. Dali em diante eu decidi que iria fazer uma pesquisa de campo. Depois, observei que todos relatavam hipóteses muito tristes e um futuro muito preocupante, e aquilo foi me envolvendo. Pensei: “Vou colocar em uma situação visual aquilo que ninguém está vendo, porque, de repente, a gente sensibiliza o olho do outro com o que foi feito”, falou, emendando:
— Então eu resolvi criar, em cima dessa situação, que é dramática, outras situações. Não é desviar o foco, mas dar outra ideia daquilo. Isso chama a atenção das autoridades, de quem gosta de artes plásticas, de quem passa todos os dias e não absorve essa questão intermediária. E não é nenhuma denúncia, mas achei importante criar um campo de visão diferenciado, com metáforas em cima das ressacas, destruições e todos os rastros deixados em Atafona. Se você tem memórias do que viveu, isso não vai embora nunca, porque sua memória está ali – contou.
No material presente na exposição, Anna trabalhou com várias linguagens artísticas.
– É uma exposição multimídia. Há vários trabalhos, como vídeo, animação, objetos escultóricos e fotografias com pintura e desenho. Nesse trabalho eu abordo várias coisas, como a casinha do jornalista Hervé Salgado Rodrigues que foi dada a uma das suas filhas, Cristina, e eu criei uma permanência para essa casinha. Também trabalhei com uma rede de pesca de marcação de mar e várias outras questões, sempre trabalhando o amparado, porque qualquer memória ali tem o amparo de quem viveu”.
A artista plástica disse, ainda, que pretende trazer “Memória Submersa” para a região.
— Acho que as pessoas vão identificar as mesmas coisas que eu identifiquei, pois os olhares de quem viveu e ainda vive essa situação são muito próximos. É profundo saber que você está transitando sobre um lugar que não vê mais, mas que você viveu. Na abertura (terça), tive o prazer da visita da prefeita de São João da Barra, Carla Machado, que estava com políticos e, também, com pessoas de SJB. Uma dessas pessoas disse: “Meu Deus! Como eu nunca pensei nisso?”. E ganhei a noite, pois quero justamente isso: provocar um desvio de olhar, uma interpretação que está acima do que a realidade nos mostra. É um convite a dar um passeio metafórico por todas as situações que afligem Atafona e toda aquela região — concluiu.
Fonte: Folha da Manhã