(Foto: Reprodução Bom Dia Brasil) |
O Bom Dia Brasil começa a edição desta segunda-feira (20) falando da inacreditável invasão de bandidos a um dos principais hospitais do Rio de Janeiro para tirar de lá um bandido chefe do tráfico. A quadrilha com mais de 20 homens armados usou até granada.
Um policial e um enfermeiro foram feridos e um paciente morreu baleado. Só que tudo isso podia ter sido evitado porque a polícia já sabia do plano de invasão e não fez nada para evitar.
A polícia já sabe que o resgate do bandido “Fat Family” foi planejado pelo irmão dele, Marco Antônio Pereira Firmino da Silva, mais conhecido como “My Thor”. “My Thor” está preso desde 2007 e é chefe de uma facção criminosa que atua nos presídios do Rio.
A Secretaria de Segurança disse que os setores de inteligência da Secretaria e das polícias já sabiam, desde quinta-feira (16) que existia um plano para resgatar um preso do Hospital Souza Aguiar. E que essa informação tinha sido repassada ao 5º Batalhão da Polícia Militar, que é responsável pela segurança no Hospital Souza Aguiar. Mesmo com esse aviso do resgate, só cinco policiais faziam a segurança do preso no momento da ação dos bandidos.
A preparação era para uma guerra: 20 homens. Todos armados com fuzis e pistolas chegaram em cinco carros e quatro motos. Testemunhas contaram que eles jogaram três granadas. O motorista de uma ambulância estava no estacionamento e viu a invasão.
"Por volta das 3h30 para 4h eu escutei o primeiro tiro. Aí, foi uma sequência de rajadas. Muito tiro, muito tiro, aí, logo em seguida o alarme do meu carro disparou e o celular ia tocar o alarme. Eu me rastejei para dentro da ambulância e tirei do carregador, e nisso deu a explosão da granada”, contou o motorista.
A polícia disse que seis traficantes subiram até a enfermaria, que fica no sexto andar. O alvo dos bandidos era a sala de número 610. No leito número 1 estava o traficante Nicolas Pereira de Jesus , conhecido como “Fat Family”.
Ele é apontado pela polícia como chefe do tráfico de drogas no Morro Santo Amaro, no Catete. E tinha sido preso havia uma semana, durante operação da Polícia Civil na comunidade.
No confronto, o traficante foi baleado no rosto e levado preso para o Hospital Souza. Aguiar.Desde então, estava sendo vigiado 24 horas por dois policiais militares. Os PMs que estavam de plantão na hora do resgate foram rendidos pelos bandidos. E ficaram encurralados.
“Eram, aproximadamente, uns seis de fuzil e pistola, todos com as pistolas na mão, e eles já vieram gritando: ‘perdeu, perdeu’, apontando a arma para a gente. Só que lá é um beco sem saída. É um vão de escada que não dá para nada, então a gente ficou encurralado ali, fazendo a contenção para eles não subirem e eles ganharam ali a escada e ficaram embaixo apontando o fuzil para a gente, enquanto o outro grupo foi, arrebentou a algema e conseguiu tirar ele”, contou um policial”.
Outros bandidos ficaram no estacionamento. Foi quando um policial militar chegou de carro com um amigo, que precisava de atendimento na emergência. De acordo com a polícia, o PM reagiu. No tiroteio, os dois foram baleados. O amigo do policial, Ronaldo Luís Marriel de Souza, de 35 anos, foi levado para a sala de cirurgia, mas não resistiu. O técnico de enfermagem Júlio César Basílio também foi baleado.
Em um áudio que circula nas redes sociais, os criminosos comemoram o resgate”:
"Trouxemos, mané, trouxemos o mano, p... o mano tá na rua com nós. Nós fomos lá e buscamos. O amigo tá aqui, tá bem, mas tá aqui."
A Divisão de Homicídios já está com as imagens do circuito interno do Souza Aguiar e identificou dois traficantes que invadiram o hospital.
O bandido ficou seis dias internado no Souza Aguiar. A polícia disse que, nesse período, ele recebeu visitas de parentes e advogados. E que, mesmo preso, ele conseguiu usar o telefone celular. Para a Divisão de Homicídios, não há dúvidas: alguém passou informações sobre a rotina do hospital para os bandidos.
“Eles fizeram uma ação totalmente orquestrada, eles entraram, renderam dois profissionais de saúde que, por medo, levaram até o andar onde o preso estava”, disse o delegado Rivaldo Barbosa.
O livro de registros informa que na última sexta-feira (17) a Delegacia de Combate às Drogas pediu reforço para o preso Nicolas de Jesus no Hospital Souza Aguiar porque havia informações de que tentariam resgatá-lo. E o 5º Batalhão da Polícia Militar disse que iria reforçar a custódia do preso.
“Na sexta-feira nós tentamos remover esse elemento do hospital, não conseguimos, mas nós tínhamos um reforço de policiamento, nós não temos condições é de, a cada informe que a gente recebe, botar 30, 40, 50 policiais militares para tomar conta de determinada situação”, disse o subchefe do Estado Maior da PM/RJ, Luiz Henrique Marinho Pires.
O prédio invadido fica a menos de um quilômetro do Batalhão de Choque da Polícia Militar, do Quartel Central do Corpo de Bombeiros e da sede da Secretaria de Segurança Pública.
No domingo (19), o Disque-Denúncia lançou um cartaz oferecendo R$ 3 mil de recompensa a quem tiver informações sobre o paradeiro do traficante “Fat Family”. Ele tinha saído da prisão no dia 28 de abril deste ano.
A Secretaria de Segurança informou, por telefone, que o secretário José Mariano Beltrame enviou um ofício ao governador do Estado pedindo para que o Hospital Penitenciário seja a única referência para o recebimento de presos custodiados no Estado do Rio de Janeiro. A Secretaria disse também que o bandido “Fat Family” não foi transferido do Hospital Souza Aguiar, mesmo depois de a polícia saber do plano de resgate, porque os médicos relataram que o estado de saúde dele inspirava cuidados e que ele, inclusive, passaria por uma cirurgia neste domingo (19).
Outro áudio divulgado nas redes sociais mostra o desabafo de um dos policiais que faziam a segurança do preso no hospital. Ele disse que pediu reforço, mas não foi atendido.
“Tava lá nessa custódia aí, os colegas que me renderam. Você pede apoio ao batalhão e ninguém faz nada. Pedi fuzil, não me deram, pedi viatura para cercar o local lá, não me deram. Fizeram contato com o chefe do Centro, o chefe do Centro falou que não havia necessidade de ficar com fuzil dentro do hospital. Então, meu irmão, a única coisa que tem que fazer é rezar mesmo, pra não acontecer alguma coisa”, diz o policial no áudio.
fonte: G1