Um novo capítulo de tensão política se desenha no Rio de Janeiro. Mesmo sendo parte da base de apoio do prefeito Eduardo Paes (PSD), uma ala do PT flerta abertamente com Rodrigo Bacellar (União), presidente da Alerj e apontado como potencial adversário de Paes na disputa pelo governo estadual em 2026. A movimentação, revelada em reportagem do jornal O Globo, expôs fissuras dentro do partido e causou mal-estar entre lideranças que apostam na continuidade da aliança entre PT e Paes.
O estopim foi a visita de Bacellar, no exercício do governo do estado, à cidade de Paracambi, onde foi recebido com entusiasmo pelo prefeito Andrezinho Ceciliano (PT), filho de André Ceciliano — ex-presidente da Alerj e atual secretário de Assuntos Parlamentares do governo Lula. Em vídeo publicado nas redes sociais, Andrezinho chegou a chamar Bacellar de “nosso futuro governador”, o que gerou ironia por parte de Paes, que comentou: “Chega a emocionar…”.
A aproximação não se limita a um gesto isolado. Internamente, André Ceciliano tem demonstrado descontentamento com a falta de espaço do grupo na prefeitura do Rio e já afirmou a interlocutores que, se a eleição fosse hoje, abriria uma dissidência pró-Bacellar. A intenção, segundo fontes, é pavimentar o retorno à Alerj como deputado estadual e, futuramente, reassumir a presidência da Casa em 2027.
O diretório estadual do PT tenta manter o discurso de unidade e garante que a aliança com Paes é programática. “Tenho certeza que na hora de bater o martelo o PT estará empenhado no projeto do prefeito Eduardo Paes e do presidente Lula no Rio de Janeiro”, disse João Maurício de Freitas, presidente estadual do partido. No entanto, o movimento dos Ceciliano não foi discutido internamente, e a postura tem sido vista com incômodo por outras lideranças petistas.
Além dos pragmáticos, setores mais à esquerda do PT também têm protagonizado embates com Paes. Um exemplo recente foi a votação sobre o armamento da Guarda Municipal, em que os vereadores Leonel de Esquerda e Maíra do MST votaram contra o projeto e ainda assinaram uma emenda para retirá-lo da pauta. A medida irritou o prefeito, que pretende endurecer a política de segurança pública, tema que deve gerar novos atritos em 2026.
Outro ponto de desgaste para Paes é a possível exploração, por parte de adversários, da sua associação com Lula, cuja desaprovação no Rio é considerada alta. Enquanto tenta se equilibrar entre alianças com partidos de esquerda como PT, PSB e PDT, o prefeito observa com preocupação a crescente adesão de quadros desses partidos ao projeto de Bacellar — que tem apoio de Cláudio Castro (PL) e aval do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A disputa ainda está longe, mas a instabilidade entre aliados já antecipa um cenário turbulento para a eleição estadual no Rio de Janeiro.