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(Fotos: Lucas Figueiredo | Folhapress) |
No cartório da segunda vara da Justiça do Trabalho em Macaé, norte do Estado do Rio, é difícil perceber o tempo passar. A pilha de processos na capital nacional do petróleo cobre o relógio pendurado na parede da repartição.
Macaé vive uma onda de demissões nas empresas que prestam serviços à Petrobras. Ela se reflete no salto do número de ações trabalhistas abertas na cidade, que triplicou neste ano. São cerca de 14 mil novos processos, ante 4.800 em 2013.
Cerca de 63% dos empregos formais em Macaé são ligados à indústria do petróleo. As dispensas decorrentes da crise na estatal atingem de operários a executivos. A política de revisão de contratos da Petrobras, iniciada em 2013 e ampliada em março após a Operação Lava Jato, acentuou o desaquecimento do setor.
A empresa de engenharia Iesa, investigada na operação, fechou e dispensou quase todos os 2.000 funcionários. O mesmo ocorreu com a MPE, empresa de montagem de equipamentos, que demitiu 2.600 empregados.
Um deles foi o montador de andaimes em plataformas Rodrigo Tolentino, 28, demitido em outubro. Natural de Linhares (ES), voltou a morar com a mãe porque a MPE, diz, atrasou pagamento, não depositou fundo de garantia e não deu baixa na carteira de trabalho, o que o impede de receber seguro-desemprego.
Procurada, a MPE confirmou dificuldades financeiras, sem se posicionar sobre as acusações trabalhistas.
A Dolphin Drilling do Brasil, do grupo norueguês Fred Olsen Energy, fechará em janeiro seu escritório em Macaé após a Petrobras ter adiado por cinco vezes a assinatura de contrato obtido em licitação de 2013.
A empresa tinha duas sondas de perfuração na bacia de Campos, que, depois de ficarem sem serviço, foram deslocadas para o exterior.
"Eu não podia mais esperar, e a empresa decidiu garantir um negócio fora do país", afirma o diretor-geral da Dolphin no país, Francisco Siestrup, 55, que será dispensado em janeiro.
A empresa, que tinha 300 funcionários, sendo 40 estrangeiros, demitiu quase todos. Quatro pessoas trabalham no encerramento da companhia na cidade.
O vice-presidente de Marketing da IADC (Associação Internacional de Empresas de Perfuração, em inglês), o inglês Barrie Lloyd-Jones, diz que o humor das empresas com o país foi abalado.
"Existe uma sombra muito grande de mensalão', Lava Jato, petrolão'. As empresas estrangeiras estão considerando se este é o melhor momento para investir no setor do país. O mundo não é só Brasil e há outros locais com potencial, como México, Moçambique, Tanzânia", diz.
A cada sonda que deixa o país, afirma Lloyd-Jones, pelo menos 340 empregos são perdidos. Ele conta, por exemplo, que a TransOcean tinha dez sondas de perfuração no país há dois anos e hoje está com cinco. A Brasdrill, que tinha 17, está com nove. A Noble, que chegou a ter nove sondas, opera apenas uma na bacia de Campos.
A redução da atividade da Petrobras se estendeu por toda a cadeia e atinge até gigantes mundiais do setor, como Schlumberger, Baker and Hughes e Halliburton, empresas prestadoras de serviços especializados para plataformas.
Esse setor dispensou cerca de 10 mil pessoas em 12 meses, segundo estimativas do secretário-executivo da Abespetro (Associação Brasileira das Empresas de Serviço de Petróleo), Gilson Coelho.
O coordenador da Firjan no Norte Fluminense, Marcelo Reid, diz que, historicamente, entre 60% e 70% dos demitidos se reinserem na indústria. O percentual, afirma, pode ter diminuído nos últimos meses.
PILOTO
A reinserção ainda está difícil para o comandante de helicóptero Antônio Azeredo, 62, com 38 anos de experiência na aviação civil. Ele perdeu o emprego quando a Sênior Taxi Aéreo faliu, em 2013, após dez anos de atividade.
Azeredo tenta emprego em outras empresas e vai a cada 15 dias ao aeroporto em busca de novidade.
De acordo com o SNA (Sindicato Nacional dos Aeronautas), 46 pessoas foram demitidas de agosto a outubro nas cinco principais empresas de táxi aéreo que atendem a região, transportando equipes para as plataformas.
Fonte: Folha