A montadora Ford anunciou nesta segunda-feira (11) que vai encerrar a produção de carros no Brasil neste ano. Serão fechadas as fábricas em Taubaté (SP), que produz motores, Camaçari (BA), onde produz os modelos EcoSport e Ka, e em Horizonte (CE), onde são montados os jipes da marca Troller. A empresa informou que irá manter seu centro de desenvolvimento de produtos, na Bahia, o campo de testes, em Tatuí (SP), e a sede administrativa, em São Paulo.
Cerca de 5.000 funcionários devem ser afetados na América do Sul, estima a companhia. De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari (BA), cerca de 10 mil trabalhadores serão atingidos só no local.
A montadora norte-americana já havia anunciado, em 2019, o fim da produção na fábrica de São Bernardo do Campo (SP).
Pandemia piorou crise
De acordo com comunicado da empresa, "a pandemia de Covid-19 amplificou a persistente capacidade industrial ociosa e a queda nas vendas, que resultaram em anos de perdas significativas". A empresa afirmou que vai trabalhar em colaboração com os sindicatos e outros parceiros no desenvolvimento de "um plano justo e equilibrado para minimizar os impactos do encerramento da produção."
"Com mais de um século na América do Sul e no Brasil, sabemos que essas são ações difíceis, mas necessárias para criar um negócio saudável e sustentável", disse Jim Farley, CEO e presidente da Ford.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), por meio de nota, afirmou que não iria fazer comentários sobre o tema, pois trata-se de "uma decisão estratégica global de uma das nossas associadas". "Mas isso corrobora o que a entidade vem alertando há mais de um ano sobre a ociosidade local, global e a falta de medidas que reduzam o custo-Brasil", disse a Anfavea.
Veículos virão de Argentina e Uruguai
A produção será encerrada imediatamente em Camaçari e Taubaté, mantendo-se apenas a fabricação de peças por alguns meses para garantir disponibilidade dos estoques de pós-venda. A fábrica da Troller, em Horizonte, continuará operando até o quarto trimestre de 2021. As vendas do EcoSport e do Ka serão encerradas assim que terminarem os estoques.
A montadora diz que seguirá importando no Brasil utilitários esportivos, picapes, como a Ranger, e veículos comerciais de fábricas da Argentina, Uruguai e outras origens, mantendo "assistência total" ao consumidor brasileiro com operações de vendas, serviços, peças de reposição e garantia. Informou ainda que planeja acelerar o lançamento de diversos novos modelos conectados e eletrificados.
A Ford estima um impacto de US$ 4,1 bilhões em despesas recorrentes com o anúncio, sendo cerca de US$ 2,5 bilhões em 2020 e US$ 1,6 bilhão em 2021. Cerca de US$ 1,6 bilhão está relacionado ao impacto contábil à baixa de créditos fiscais e depreciação acelerada, enquanto os US$ 2,5 bilhões restantes serão diretamente no caixa – rescisões, acordos e outros pagamentos.
100 anos de Brasil
A Ford foi a primeira indústria automobilística a se instalar no Brasil, em 1919. O bairro do Bom Retiro, em São Paulo, foi o primeiro lugar a abrigar uma linha de montagem de veículos em série no país. O edifício, inclusive, era uma cópia da sede da empresa em Detroit (EUA).
No ano passado, a montadora foi a sexta que mais vendeu automóveis, com 119.406 veículos emplacados (entre automóveis e comerciais leves), com 7,14% do total, segundo a Fenabrave. A empresa perdeu espaço nos últimos anos, especialmente para a sul coreana Hyundai, que hoje é a quarta maior montadora do Brasil.
O Ford Ka é o seu modelo mais vendido no Brasil. Ele foi o quinto mais emplacado no país em 2020, com 67.491 vendidos.
Ministério da Economia
Em nota, o Ministério da Economia lamentou a decisão da Ford e disse que o movimento da montadora "destoa da forte recuperação observada na maioria dos setores da indústria no país, muitos já registrando resultados superiores ao período pré-crise".
A pasta diz ainda que "trabalha intensamente na redução do Custo Brasil com iniciativas que já promoveram avanços importantes. Isto reforça a necessidade de rápida implementação das medidas de melhoria do ambiente de negócios e de avançar nas reformas estruturais".
(Com Estadão Conteúdo)